O Trabalho

Por José Faganello | 05/05/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Se não procurares senão a recompensa, o trabalho vai parecer-te penoso: mas, se apreciares o trabalho por si mesmo, nele próprio, terás a tua recompensa” (Leão Tolstoi).

O trabalho é um tema que propicia as mais contraditórias divagações.

Sem ele o homem nada conseguiria produzir. É através dele que o homem transforma a natureza, humanizando-a. Segundo Mounier, é por meio dele que o homem se autoproduz: desenvolve habilidade e imaginações; aprende a conhecer as forças da natureza e a desafiá-las; conhece as próprias forças e limitações; relaciona-se com os companheiros e vive de afetos, impõe-se uma disciplina. O homem não permanece o mesmo, pois o trabalho altera-lhe a visão que ele tem de si mesmo.

Se um primeiro momento a natureza se apresenta aos homens como destino, o trabalho lhe dará a condição da superação do determinismo, conseguindo transformar o mundo, segundo seus projetos. Foi assim que o homem conseguiu adaptar-se às mais variadas condições e superá-las todas, quer na Sibéria, quer no Saara, quer na Savana africana, quer nas florestas tropicais. Foi assim também que chegou ao desenvolvimento tecnológico que hoje ostenta. Da alpercata de palha ou de couro, aos foguetes intercontinentais, das rudes inscrições rupestres aos textos computadorizados, foi um lento e árduo caminhar, sempre em frente, sempre trabalhando.

Basta estas considerações para verificarmos que foi graças ao trabalho que o homem conseguiu progredir, desenvolver novas técnicas, executar o que sua mente privilegiada ia engendrando. Mas, a ele, trabalho, não cabem apenas loas. Há o lado negativo, o lado que o estigmatiza com a marca da crueldade.

Desde os primórdios, grupos minoritários apossaram-se do trabalho alheio e obrigaram multidões a produzirem para eles. Servidão asiática no tempo dos faraós e dos potentados da Mesopotâmia, escravidão na Grécia, em Roma e na chamada Idade Moderna, foram atitudes que conspurcaram a dignidade do trabalho. O século XIX, com a Revolução Industrial, ao mesmo tempo em que ampliou significativamente o mercado de trabalho, transmudou a escravidão em despiedade exploração do trabalhador, agora assalariado. A espantosa criação de riquezas muda a face do globo e, ao mesmo tempo que cria cada dia novas facilidades, aumenta o fosso entre emergentes e excluídos.

Teóricos de todos os tempos teorizaram sobre a questão. Alguns pregaram a excelência da livre competição como a única maneira dos capazes atingirem o topo, amealharem riquezas e se afastarem dos incapazes, estes, condenados por sua incapacidade a constituírem a ralé e a força de trabalho barata, necessária para movimentar a máquina do progresso. Outros vociferaram contra a exploração a que milhões de trabalhadores são submetidos, mal pagos, mal alimentados, sem instrução, sem assistência médica e tendo de se conformarem com sua indigência ao lado de uma opulência ostensiva e de uma agressividade sem compaixão.

Graças ao trabalho, o homem conseguiu produzir máquinas que, em primeira instância, apenas produziram mais em menor tempo. Hoje, além de produzirem mais em menor tempo, produzem melhor, sem falhas, sem ficarem doentes, sem necessitarem de férias sem reclamações trabalhistas. As máquinas que fascinaram os homens ameaçam-nos cada vez mais com o desemprego. Este é o grande desafio do mundo atual. Como o homem ira resolver o problema do desemprego? Esta bomba de efeito retardado, mais dias ou menos dia explodirá. No tempo de Tolstoi, numa Rússia medieval, onde os camponeses eram explorados sem nenhuma piedade, ele pregava que se devia procurar a recompensa do trabalho no prazer de trabalhar, não ficar ocioso. Hoje, as multidões de desempregados não o procuraram atrás de prazer algum, mas de apenas sobreviverem e,a cada dia, torna-se mais difícil consegui-lo.


Imagem: jcomp

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