Sim, esse artigo é sobre o BBB

Por Rubinho Vitti | 22/02/2021 | Tempo de leitura: 3 min

É incrível como ficamos informados sobre certas coisas que nem cogitamos procurar saber. Outro dia li um meme e me identifiquei: "Todas as vezes que soube da vida do Gusttavo Lima não foi por minha vontade".

Assim é comigo, seja sobre a intimidade de cantores sertanejos ou sobre o BBB. Confesso que sempre viro os olhinhos quando o programa começa, todo janeiro, mas do nada me vejo envolvido, mesmo contra a minha vontade.

Esta edição, para usar um termo moderno, tá dando gatilho. Afinal, né gente, o formato é perfeito: trancafiar 18 pessoas que não se conhecem para, a partir dali, elas começarem a criar intrigas inexistentes. Quer coisa mais humana e bizarra ao mesmo tempo?

Assistir ao BBB é como ver uma novela interpretada por pessoas reais (ou que pelo menos estão ali representando a si mesmas) com seus conflitos aumentados em um zoom da câmera 4k mais próxima.

Mal começou esta edição e uma confusão generalizada explodiu dentro da casa, entre os (quase) famosos e pessoas comuns que foram trancafiados ali. Prato cheio para gente fuxiqueira como eu.

Daí, muita gente considerada bacana fora de casa tem se revelado "vilã". As aspas estão ali porque ninguém é herói ou vilão o tempo todo, não é mesmo? Só que Narciso acha feio o que não é espelho, mas não consegue ver o reflexo de si mesmo em quem repugna. Afinal, será que a gente iria gostar de assistir à gente mesmo em um reality show onde frases são isoladas, situações são editadas e cada vírgula, cada detalhe, cada pum é analisado pelo telespectador… e então, seríamos vilões ou mocinhos?

E falando em estereótipos, uma das personagens que mais me intriga neste BBB é a Lumena Aleluia. A mestra em Psicologia pela UERJ, roteirista e DJ tem apelado muito ao seu lado "militude", querendo fazer valer suas ideias a todo custo. Ela é o reflexo de uma nova geração que quer vomitar "ensinamentos" do mundo ao mesmo tempo que não se deixa ouvir, dizendo ter a "escuta muito cara". Seria então a lábia barata?

Essa atitude arrogante é hoje a cara pulsante de uma parte da esquerda brasileira que não consegue convencer a população sobre suas ideias justamente porque prefere apontar o erro do outro ao se misturar. Mesmo com falas muitas vezes coerentes, o modo como se comunicam é irritante até mesmo para os que concordam com elas, imagina para quem discorda ou é alheio ao assunto?

As "Lumenas" que existem por aí, ouso dizer, foram também responsáveis pelo resultado da última eleição presidencial no país. Cheias de autoridade, fecham-se em seus círculos e acabam expelindo qualquer tipo de apoio de quem não ousa nem chegar perto, seja por receio ou por antipatia. A personagem estereotipada a que estamos assistindo no BBB é o cume de uma esquerda catequizada que prefere cancelar do que conversar.

E no fim das contas, quem muito aponta o dedo de longe deixa o caminho aberto para que outros cheguem mais perto e acolham de forma sedutora uma parcela carente da população, com sorriso no rosto e uma faca pelas costas.

"Lumenas", que eu falo, somos nós. Quando dizemos àqueles que votaram no atual presidente que eles são uma escória da sociedade, quando escrevemos nossos textões com um "olha o que vocês estão fazendo com o país", como se fôssemos isentos de culpa, ou quando juramos que coisas "não passarão" só porque usamos massivamente uma hashtag na internet, distantes da realidade das ruas, deixando-as passar.

Tenho certeza que a verdadeira Lumena, fora daquele ambiente tóxico, possa ser diferente. Essa lupa da televisão a coloca como vilã de um jogo bobo, mas perigoso.

O público já tem dado o ultimato nos personagens do BBB deste ano e muitos vão se surpreender ao saírem da casa. Dá até medo pensar o que será deles após cada paredão, que, aqui de fora, mais parece uma muralha de execução popular da era medieval..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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