Contagem regressiva para a extinção

Por Rubinho Vitti | 26/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Na maioria dos filmes de ação, terror ou suspense em que se discute o fim do mundo, as teorias são as mais diversas possíveis. Um meteoro, que explodirá o centro da Terra e matará todas as criaturas, como ocorreu com os dinossauros. Um nova Era do Gelo, que congelará tudo e todos e acabaremos como janta de pinguins. Ou então um Apocalipse Zumbi, onde um vírus mortal transforma a humanidade em devoradores de cérebro.

Entre todas as opções, a última parece ser mais plausível. Não pelo fato de eu acreditar que um vírus possa nos transformar em mortos-vivos e nem pela ironia com a atual pandemia, mas pelo fator: a humanidade.

O Greenpeace, uma das ONGs ecológicas mais respeitadas do mundo (menos no Brasil), lançou há pouco mais de um ano o relatório Contagem Regressiva para a Extinção. Sim, o título parece ser pesado, mas na verdade não chega nem perto do quão triste, denso e revoltante seu conteúdo mostra sobre a realidade do planeta: o agronegócio e sua fúria contra a natureza.

Entre os dados, o relatório informa que 80% do desmatamento global é resultado direto da produção agrícola. Em sete anos, só no Brasil, as fazendas de soja e a criação de pasto para o gado destruíram 5 milhões de hectares do cerrado, que é considerado a “caixa d’água brasileira”, por abrigar as nascentes de vários rios brasileiros, abastecendo oito bacias hidrográficas.

A soja, sabemos, é produzida no Brasil para exportação, principalmente para a China e, pasmem, para alimentação de porcos. Segundo apresentou com excelência Gregório Duvivier em seu Greg News, a China economiza milhões de litros de água, “terceirizando” o serviço de produção de soja no Brasil. E as áreas onde há produção em massa de soja são as mais pobres, com distribuição de renda absolutamente desigual.

O cientista Carlos Nobre, especialista em mudança climática e vencedor do Prêmio Nobel da Paz (2007), tem dado uma aula na imprensa sobre a origem dos desmatamentos, colocando em cheque tudo o que o cínico presidente disse na abertura da conferência da ONU, em setembro.

Como todos já estamos cansados de saber, quase 100% do desmatamento no Brasil é criminoso e são os agricultores que causam a maioria das queimadas, e não índios e caboclos, como enfatizou Bolsonaro em mais uma fala mentirosa para seu vasto currículo.

Nobre diz ainda que se a emissão de gases não parar, o clima do Sudeste e Centro-Oeste será sempre quente, cada dia mais, já que o aquecimento global está aí, batendo na nossa porta. A própria Nasa já disse que a década de 2010 foi a mais quente da história e que 2019 teve o maior registro de calor. Ao que parece, 2020 vai superar.

É bater na mesma tecla, mas, fazer o quê? Desde os anos 1960, quando os movimentos ecológicos começaram a pipocar, o assunto tem sido tratado com desprezo pelos poderosos e pela população em geral. Parece que ninguém está realmente ligando. Pior, estão fazendo as pessoas desacreditarem na existência dos problemas entre homem e natureza.

Todos os movimentos sociais precisam ser respeitados, mas por que os ecologistas sempre são os mais maltratados, chamados de loucos, exagerados e estéricos? Porque outros movimentos não somam à essa luta?

Ecologia deveria ser o centro de debate de qualquer político, partido ou movimento, reunião familiar, bate-papo entre amigos. Deveria estar estampada nas manchetes dos jornais todos os dias.

Eu sei que você pode estar acreditando que ela só virá na próxima geração, no próximo século, daqui a 50 anos. Mas acho melhor você acertar o seu relógio, a contagem regressiva para a nossa extinção acelera a cada dia.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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