Lei Aldir Blanc: Cultura em ação

Por Rosângela Camolese | 01/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Vício ou adicção é a vontade de fazer algo de forma descontrolada, sem conseguir parar por vontade própria. É considerada uma doença crônica, incurável, progressiva e potencialmente fatal pela comunidade científica.

Gerando complicações graves e muitas vezes letal, a adicção é caracterizada pela dependência e perda do controle sobre o uso de drogas, substâncias tóxicas ou ainda determinados comportamentos.

Mesmo depois de conceituarmos basicamente, definir a adicção não é das tarefas mais fáceis, já que ela envolve vários tipos de dependências. O que se pode afirmar é que a adicção é um vício, geralmente relacionado ao consumo de drogas ilícitas, mas que também pode significar qualquer dependência psicológica ou compulsão por coisas como jogo, comida, sexo, pornografia, internet, videogames, exercício, trabalho, compras, etc.. Como sua cura depende, especialmente, da motivação do indivíduo para a mudança depende, especialmente, da motivação do indivíduo para a mudança que é algo flutuante – talvez um dos fatores que a tornam tão incômoda dentro da estrutura sociofamiliar na qual o adicto se insere.

Depois de anos trabalhando com pessoas adictas, é muito claro ver que sempre tem alguma comorbidade por trás do vício. Na maioria devastadora dos casos, ele é resultado de casos de depressão, abuso, abandono, violência doméstica, alienação parental ou bullying escolar.

É muito nítido o quanto a interpretação não curada da realidade e do sofrimento causam cicatrizes profundas nas pessoas que passaram por isso. E a quantidade de pessoas que passam a fazer uso das substâncias tóxicas para anestesiar e esconder os sentimentos decorrentes de dores e traumas é ainda mais presente nos dias atuais. Afinal, vivemos um tempo no qual a vida é muito mais “para fora” do que “para dentro”.

A maioria das pessoas adictas sentem uma tristeza profunda. E por questões culturais e sociais, têm acesso a uma crescente oferta de substâncias como álcool, maconha, cocaína, crack e outros tóxicos. Mas a compulsão por sexo, compras, comida e tantas outras pode vir como um amortecedor para as dores latentes dentro delas. Como ela já entra derrotada neste ciclo vicioso, ela não consegue mais identificar o que a levou, o que a fez ficar desse jeito. É uma anestesia que ameniza temporariamente suas dores, a pessoa se exclui da própria realidade, amortecendo a vida e deixando a possibilidade de cura em segundo plano. Ela não vive, mas sim apenas sobrevive.

Depois de gerar muitos incômodos, descontrolar de forma intensa a própria vida e decepcionar seus parentes, amigos e familiares, os adictos perdem credibilidade e proximidade com o mundo real. Eles são desacreditados, evitados, sofrem enorme preconceito e violência verbal como resposta a um comportamento desajustado e fora da realidade. É muito importante reforçarmos que adicção não é maldade ou falta de caráter.

A boa notícia é que existe cura para a adicção! Existem muitas técnicas que podem ser utilizadas para trazer à tona a raiz das cicatrizes, para entender uma salvação de dentro para fora e ressignificar tudo. Mas o adicto não consegue sozinho. Ele precisa dos vínculos com a família e com o terapeuta, isso ajuda muito na recuperação.

Já presenciei casos que chegaram para mim nos quais a pessoa não tinha mais qualquer propósito. Ela não queria nem mais sobreviver. E hoje tem uma vida de plenitude em que não se enxerga mais como era. É preciso que as pessoas saibam que existem técnicas, existe cura e a vida pode ser modificada completamente.

É possível viver e não mais sobreviver, trazendo vida à vida.

E depois de tantos casos, tenho a certeza: se o amor constrói, acreditar em si mesmo como alguém que pode mudar o próprio destino, aceitando o passado é, antes de tudo, uma atitude de reconstrução do amor próprio. Amor próprio que pode até parecer não existir, mas ele está lá, dentro das memórias, das histórias e do coração.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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