O amor em tempos de coronavírus

Por Rubinho Vitti | 24/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Se você encontrou o amor da sua vida antes dessa pandemia do coronavírus começar, parabéns. Você faz parte de um grupo seleto que está recebendo o devido cafuné pela manhã, dormindo de conchinha e tendo a liberdade de uma vida sexual plena e ativa, sem contrariar nenhuma medida de isolamento social. Você é privilegiado, sim.

Do outro lado desse Paraíso de Adão e Eva (ou Adão e Adão ou Eva e Eva ou Eve e Eve), há um certo desespero no ar por parte dos solteiros. “Acabando a quarentena eu vou pegar todo mundo” é uma frase quase consensual entre todos nós. Mas como será o beijo com máscaras de proteção? Usaremos luvas para andar de mãos dadas?

Uma certa abstinência sexual acabou por pairar sobre a vida de quem tem respeitado o isolamento social. Outros, menos cautelosos, arriscam-se, quebrando a quarentena em busca de seu prazer egoísta. Um novo tipo de pecado muitas vezes velado para não ser julgado.

Mas no fundo, todos se perguntam: o que será da minha vida amorosa após o Covid-19? O plano para 2020 era justamente encontrar a tampa da panela, o chinelo velho para os pés cansados, a alma gêmea, as metades da laranja…

Não que o mar da vida pré -Covid-19 estivesse para peixe. Não sei se é lei ou não, mas sinto que ao passar dos 30 anos nossa visão sobre o sexo entra em um processo de transformação. É como se conformar que sua vida sexual não será tão ativa como era nos 20 e poucos, mas, por outro lado, existe uma culpa e uma pressão pessoal e social para que ela siga a pleno vapor.

Vejo pelo convívio. As conversas sobre sexo sempre são cheias de hipérboles e clichês. Parece que nunca vamos superar a aura infantil que paira sobre este assunto, sempre com risos, comparações, notas de rodapé sobre corpos e tamanhos. Todos parecem estar em busca de um Deus do sexo na cama, ao mesmo tempo que parecem ser plenamente experientes e treinados.

Os causos mais parecem contos eróticos ou esquetes de filme pornô. E quando os ouço só consigo pensar em como para mim as experiências são mais humanas, cheias de emoção, medo, prazer, timidez e carinho (ou falta de).

Olha só, o tema do artigo acabou sendo sexo. É que se soa quase infantil tratar deste tema, o que dizer sobre falar de amor. É meio cafona, beira ao patético. Apesar de filmes com esse tema estourarem bilheterias e canções românticas estarem no topo das paradas, quase não se fala de amor por aí. Freud deve explicar.

Você também não acha que o amor parece ser uma ansiedade que a gente carrega consigo pelo resto da vida? Uma ansiedade perigosa. A impressão é que nunca mais vou encontrar nada parecido com o que já vivi e seguirei até o fim dos meus dias remoendo no coração restos de sentimentalismo patético deixados por ex-amores que passaram pela minha vida.

Amor é quase uma palavra proibida no dicionário da minha geração (e um palavrão dos feios no vocabulário da geração seguinte). E isso é tão decepcionante! Quem nunca ouviu da pessoa no primeiro “date” que ela não quer um relacionamento sério? “Mas, pera aí, quem tá falando sobre relacionamento sério? Eu nem terminei meu primeiro copo de cerveja”. O medo de se “prender” a alguém é tão grande que qualquer possibilidade de alguma coisa é estancada antes mesmo de começar a pensar em fluir.

Putz, acabei por nem falar especificamente sobre “coronavírus”. É que a gente tá meio perdido nesse redemoinho. Mas quer saber, vai ser tudo igual. Ultimamente, em quarentena ou não, quem sabe dizer eu te amo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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