A Ilha

Por José Faganello | 22/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“Antigamente a cidade era o mundo, hoje o mundo é uma cidade” (Lewis Munford)

Sem dúvida nenhuma, o ser humano, desde seu aparecimento, não só conseguiu sobreviver às imensas dificuldades que encontrou pela frente, como evoluiu de forma inegável.

De lá para cá, alguns acontecimentos estimularam substancialmente esta evolução.

O primeiro deles, chamado de Primeira Revolução ou Revolução do Neolítico, foi a descoberta da agricultura. Ela possibilitou ao homem abandonar o nomadismo e determinou a formação dos primeiros núcleos urbanos. Neles, a interação foi incrementada, provocando uma aceleração cultural e as primeiras grandes civilizações.

Outro marco foi a inacreditável exuberância cultural da Grécia. O legado que ela nos transmitiu é inestimável.

Roma responsabilizou-se em espalhar esta cultura, ao mesmo tempo em que a mesclava com inúmeras outras, tolerando a diversidade de culturas e unificou a justiça.

A Revolução Industrial provocou uma guinada na economia. A burguesia, que emergiu a partir do século XI, aproveitou-se, mormente na Inglaterra, da oportunidade, e acabou por conquistar imensa riqueza e o poder político. O capitalismo estruturou-se e, seguindo sua diretriz intrínseca, passou a acumular capital e a desenvolver tecnologias para aperfeiçoar cada vez mais esta acumulação. Como é inevitável, se alguém acumula, outro é defraudado; alguns poucos passaram a explorarem enormes massas.

A reação não tardou - ideólogos, preocupados com a situação, inicialmente começaram a alertar, depois, a combater o capitalismo com idéias socialistas. O socialismo chegou a ameaçar o capitalismo, mas não conseguiu prosperar, pois onde foi implantado, não realizou os sonhos que prometia.

A derrocada do socialismo reavivou o liberalismo. Como o neoliberalismo parece estar sendo mais perverso, estamos assistindo a impressionante acúmulo de capital, fusões de empresas, redução de empregos e de salários.

As fronteiras nacionais tornam-se cada vez mais incapazes de deter influências externas.

A cultura nacional, invadida pela avassaladora força da mídia, perde sua identidade e assume comportamento, modismo, gosto, que não são mais aos poucos, mas rapidamente, estão desestruturando-a e apagando-a da memória dos cidadãos.

A economia sofre o impacto da concorrência com tecnologia superior e recursos incomparáveis.

Sem um mercado interno com grande capacidade de consumo e, pautando-se pelo figurino neoliberal, com importações supérfluas e predatórias, o país é incapaz de manter uma indústria nacional forte.

Como vimos, os grandes avanços da humanidade estiveram ligados às conquistas culturais e nos países que conseguiram apossar-se e integrar à sua cultura conquistas alheias.

Nosso sistema educacional embora se expandiu bastante, não consegue chegar perto dos que estão na ponta.

Sem modificar o ensino, valorizando os mestres, tornando as escolas verdadeiros centros de formação humanística e cultural, o país estará fadado a conviver com a corrupção e privilégios vergonhosos para os que estão no poder.

Sem empresas fortes, nenhum país torna-se desenvolvido. Enquanto a maioria dos países tenta retardar, dentro de suas fronteiras, a parte deletéria da globalização, impondo medidas protecionistas, nossas empresas são obrigadas a competir em desigualdade de condições.

Ilha de Vera Cruz foi o primeiro nome dado pelo descobridor português. Vislumbrou, talvez, a cruz que nosso povo teria de carregar - governantes míopes, insensíveis, corruptos e incapazes de projetarem uma nação com tantas possibilidades, mantendo-a como uma mera ilha, cercada de incompetência.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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