Crentes e agnósticos

Por José Faganello | 18/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“Por si mesmo, o povo sempre quer o bem, mas nem sempre o conhece” (Rousseau)

Referir-se a crente, hoje, para a maioria, significa aquele que pertence a uma das muitas seitas derivadas do protestantismo. Pode significar também quem tem fé ou crença religiosa. Ironicamente, o termo é usado para quem leva a sério suas obrigações, tem entusiasmo, nelas acredita.

Já o agnóstico, termo criado por Thomas Henry Huxley, fisiologista e naturalista inglês, amigo de Darwin, nega o valor das verdades religiosas e a possibilidade de reconhecê-las. Declara o absoluto inacessível ao espírito humano e professa inevitável ignorância quanto à natureza íntima, origem e destino das coisas.

Desde a pré-história, no entanto, o sobrenatural assombrou a vida do homem.

Atualmente, existem centenas, talvez milhares de religiões. Cada uma delas com seus dogmas, suas ameaças ou castigos ou prêmios divinos, alguns em vida. Os mais cobiçados e temidos, porém, são aqueles que acenam com infindáveis reencarnações, em variados seres e por tempo indeterminado, até a purificação total.

Assim como as religiões conquistam adeptos em busca de uma perfeição a política também faz o mesmo.

Da mesma forma como os seguidores de credos diferentes digladiam-se com ódio indefensável, os partidos (daí o nome), fazem o mesmo.

Nosso país, no entanto, considerado em sua totalidade, foge à regra.

O sicretismo religioso, ou seja, o amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas e até antagônicas é uma realidade ininteligível para outros povos.

Na política não é diferente. Pelo que se vê, oposição e situação são termos abstratos. Significam apenas quem está no poder ou não. E, mesmo assim, é comum ver-se membros da oposição conluiados com quem governa, enquanto outros, da situação, votam contra. A explicação, neste caso, salvo exceções raríssimas, é que, no lugar de defender interesses do eleitor, pensar na comunidade, defender um ideal, o que está em jogo é a própria sobrevivência política, quando não, a venda do voto e o retorno dele em benefícios particulares.

Em um mundo que muda a cada momento, onde tradições, instituições, ciências, ideias, estão sofrendo debate, cabe à mídia ser o instrumento de debate, para com ele, tentar descobrir a luz e espantar as trevas do fanatismo e da ignorância. Ela deve ser intimorata. Não temer aqueles que afirmam que ela não esclarece , incendeia, envenena e corrompe. Quem assim pensa defende crenças mitológicas, poderes indefensáveis, que vivem do silêncio e das sombras.

Os jornais, a maioria, no lugar de despertarem as municipalidades, fiscalizarem as administrações, promoverem novos talentos e valorizarem autores locais, contentam-se em reproduzir artigos de fora. Os anúncios, em muitos deles, principalmente das pequenas comarcas e os chamados jornais de bairro, ocupam quase todo o espaço, não deixando lugar para artigos de interesse do leitor e de real qualidade.

A família, de há muito abdicou de sua função de educar. O ensino, de um modo geral, é péssimo. Não informa e muito menos forma. A mídia, de um modo especial a TV e a imprensa, tem a obrigação primordial de ser um farol. Defender o oprimido contra o opressor, o espoliado contra o poder, o empresário contra a voracidade fiscal do Estado, é sua missão primordial. Criar um ambiente, em que o combate principal seja da luz contra as trevas, é seu dever.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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