Por que nos importamos tanto com a sexualidade alheia?

Por Luiz Xavier | 12/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Embora estejamos convictos da nossa orientação sexual, dos nossos valores e crenças, ainda rechaçamos quem tem escolhas diferentes. Por que? Hoje trago esta reflexão que coletei numa publicação feita pela jornalista Heloisa Noronha:

“Por que o fato de um homem beijar outro em público incomoda tanta gente? Por que, embora tenhamos a opção de trocar de canal ou simplesmente não assistir, nos irritamos com um personagem trans na novela?”

“Algumas possíveis explicações para o incômodo que a sexualidade alheia provoca em alguns indivíduos. Cada caso é um caso, obviamente, mas as principais motivações costumam ser:

1- Desejo de controlar os próprios pensamentos: segundo o psiquiatra Carlos Eduardo Carrion, muitas pessoas confundem o pensar, o desejar e o querer com o fazer. Daí o pânico de alguma coisa ‘proibida’ passar por suas cabeças. Como consequência, passam a rejeitar e atacar – celebridades, formadores de opinião, amigos, etc. - tudo o que possa induzir a pensar em temas de cunho sexual.

2- Medo dos próprios sentimentos: para o psicanalista Ernesto Duvidovich, algumas pessoas que, ao tentar abafar fantasias e conflitos íntimos, acabam intensificando na visão do outro aquilo que não querem enxergar em si mesmas. É a projeção: um processo inconsciente no qual nos livramos daquilo com o qual não conseguimos lidar através do julgamento sobre o outro. Ao criticar, condenar e xingar quem tem a coragem de fazer, pensar ou expressar algo incômodo, a pessoa consegue aliviar conflitos internos.

Por isso, o discurso de ódio é uma forma de manter o controle do próprio desejo. A homofobia, quando extremada, é um sinal claro de que a pessoa que detém o preconceito tenta camuflar sua verdadeira natureza. Aqueles que condenam com veemência a homossexualidade alheia, e fazem disso um assunto, são indivíduos que recalcaram a própria homossexualidade. Lembramos que Freud disse: quando Pedro fala de Paulo fala mais de Pedro do que de Paulo.

3- Inveja: muitos se importam com a sexualidade alheia por não poderem e temerem olhar a própria, diz Ana Cassia Maturano, psicóloga Há um quê de inveja principalmente porque a sexualidade ainda gera certa estranheza. Inveja daquele que pode viver plenamente, mesmo que a duras penas, sua sexualidade. E ser feliz em como é.

De acordo com o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., esses desejos e emoções são reprimidos. ‘Quem mostra ser possível se expressar passa a soar como uma afronta’. Então, para administrar melhor o sofrimento imposto por essa repressão, atacam as pessoas que representam esses desejos.

4- Educação repressora e/ou crenças religiosas: a sexualidade ocupou por muito tempo a esfera do ‘não dito’, seja em função de uma educação repressora ou por crenças religiosas. Sempre houve muita fantasia sobre o que há escondido. Só que aquilo que vai aparecendo também precisa de um tempo para ser acomodado em nosso imaginário. Ou seja, por maiores e mais efetivos que tenham sido os avanços em se tratando de sexo, nem todo mundo pôde ou quis acompanhá-los.

5- Dificuldade de empatia: o que você aponta em demasia no outro, ou o que incomoda demais no outro, é um sintoma do que está mal resolvido em você, diz Matheus Arcaro, professor de Filosofia. Muitas pessoas que assumem o papel de defensoras da moralidade e dos bons costumes querem camuflar quem são de verdade. São aquelas que volta e meia compartilham imagens pornográficas e piadas machistas”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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