Coronavírus e a sinofobia

Por Rubinho Vitti | 07/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Já se espalhou pelos quatro cantos do mundo que uma nova doença está ameaçando a humanidade. O tal coronavírus – ou 2019-nCoV para os mais científicos – apareceu pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan, mas já há casos confirmados em 24 países com 20,4 mil infectados (pelo menos até quando finalizei este artigo). Na China, 426 pessoas morreram. Mas junto com o novo coronavírus, uma outra “doença” tem se espalhado pela sociedade, inclusive a brasileira, a sinofobia.

Sinofobia nada mais é que o medo, horror, desprezo, ódio e preconceito contra a China e tudo o que dela provém. Apesar de ter confirmado errar nas medidas de emergência para conter o novo coronavírus, o país não pode ser acusado como responsável pela disseminação de um novo micro-organismo mortal. Pior, os chineses não podem ser atacados!

Junto como medo da população, surgiram os boatos –ou fake news, para ficar mais chique. Alguns dizem que o vírus surgiu em uma “sopa de morcego” que os chineses comem. Outros afirmaram que a população daquele país come feto. Todas essas afirmações já foram desmentidas e ainda é incerto de onde pode surgir o vírus. O mais provável é que seja a mutação ou fortalecimento de um vírus já existente e que isso poderia acontecer em qualquer parte do mundo. Mesmo assim, o bonde da desinformação segue andando e não há máscara farmacêutica que impeça o boca a boca de quem é mau-caráter.

“Ah, aqueles chineses nojentos comem de tudo”. Sim, é esse tipo de comentário que asiáticos estão ouvindo no Brasil. Eu disse isso mesmo, asiáticos. Isso porque o ataque está ocorrendo a todos que possuem os olhos mais puxados, de coreanos a japoneses, tailandeses a taiwaneses. No Rio de Janeiro, uma moça de descendência japonesa foi agredida verbalmente por uma mulher que a chamou de “chinesa porca”. Relatos em São Paulo e outros estados mostram o medo dessas pessoas de sair de casa, pois podem ser alvos de preconceito e até violência, principalmente se estiverem com tosse ou gripados.

Na internet, já cansei de ver piadinhas de mau gosto contra chineses simplesmente por terem uma cultura diferente da ocidental e uma gastronomia considerada “exótica”. Vale lembrar da gripe suína ou do frango que, pasmem, surgiram do porco e da galinha! Alguém deixou de comer bacon ou o frango assado por causa de uma doença?

Eu sei, é assustador estar em um mundo onde há a iminência de um novo vírus, mas é muito provável que o coronavírus não vá te matar. A sociedade brasileira deveria se lembrar que existem várias doenças endêmicas que ainda são ameaças de epidemia no Brasil e ignoradas pela sociedade e pelo poder público. Em 2019, 782 pessoas morreram no Brasil vítimas da dengue. O registro da doença foi 488% maior que em 2018, mesmo ano em que o tipo 2 do vírus voltou a circular, após dez anos sob controle. Em 2020, já são 30 mil casos notificados de dengue e o governo já anunciou que onze estados podem ter surto da doença.

Tem ainda sarampo, malária, leishmaniose, esquistossomose, chagas, hanseníase, tuberculose, gripe A, além da microcefalia causada pelo Zika vírus, entre outras.

Doenças são perigosas e todo o cuidado é pouco. Mas é bom ter cautela para não entrar em pânico. E, melhor que isso, ter informação. Quem tem informação não tem preconceito. Em vez de acusar um chinês pelo coronavírus, dê um pulo no quintal da sua casa e veja se há água parada, que auxilia na proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Não demora 15 minutos!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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