Beleza

Por José Faganello | 29/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“A beleza poderá ser fugaz e perecível, mas enquanto existirem olhos que a contemplem, ela será eterna para nós”. (João Pereira Coutinho)
Comecei a prestar maior atenção às coisas em relação à beleza, na minha iniciação de leitura de poesias, crônicas antigas e romances, como o trecho de Cervantes em D. Quixote, que copiei e tenho até hoje comigo: “A beleza da mulher honesta é como o fogo apartado ou a espada aguda, que nem ele queima nem ela corta a quem dele se aproxima”.

Ao estudar história fui induzido a assimilar o conceito do belo no viés greco-romano, com suas estátuas, pinturas nos vasos e harmoniosa arquitetura, não deixando de lado, é claro, os magníficos conceitos dos filósofos, poetas, oradores e cerebrais matemáticos.

Muito antes fiquei enamorado pela imagem da rainha egípcia Nefertiti e a cativante lenda sobre a rainha Semíramis.

Da Idade Média encantei-me apenas com escassos trechos do trovadorismo e as incríveis catedrais.

Já o Renascimento com seus magistrais pintores e modelos de belezas etéreas, corpos roliços, faces rosadas também me fascinaram.

Os entendidos costumam afirmar que o conceito de beleza requer definição concreta, na qual se deve levar em conta a simetria, unidade e harmonia, ou seja, acima das apreciações pessoais.

Isso admitido, ficamos numa situação embaraçosa ao acompanhar os ideais de beleza ao longo dos tempos, inclusive agora.

Os índios botocudos, por exemplo, procuravam esticar o máximo possível seus beiços; quanto maior, mais belo..

As mulheres chinesas eram submetidas à dolorosa tortura de impedir o crescimento de seus pés; quanto menores, embora deformados, mais belos.

A filosofia coloca-nos que a beleza está ligada à verdade e, por extensão, ao que é bom e justo.

Quando nascemos herdamos as características de nossos corpos, sempre belos para nossos pais, mas, belo ou feio, não nos cabe a culpa.

No entanto, quantos feios pelo meu conceito conheci que, ao conviver com eles, se me tornaram admiráveis pela cultura, simpatia, companheirismo e caráter. Ao mesmo tempo convivi com outras pessoas que inicialmente as achava belas, mas, logo depois podia dizer como Fedro em sua fábula, na qual a raposa, ao contemplar uma máscara de teatro exclamou: “Ó quanta formosura… mas não tem cérebro”.

Aos que se acham belos, Ovídio, em Arte de Amar, alertou: “A beleza é um bem frágil”; aos que se acham feios Ruskin, em As Pedras de Veneza, consolou: “Lembra-te de que as coisas mais belas do mundo são as mais inúteis; por exemplo, pavões e lírios”.

Os conceitos de beleza mudaram ao longo dos tempos, dos lugares e dos povos.

Isso pode ser dito a respeito das pessoas, da música, da arquitetura, enfim, de tudo o que nos rodeia, mas concordo com Mário Quintana que em seu “Espelho Mágico” falou: “Do Belo”: nada no mundo é por si mesmo, feio. / Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema, / Palpita sempre neles o divino anseio. / Da beleza suprema.

A tecnologia nos permite cuidar melhor de nossa aparência, quer com roupas e adereços, como dando-nos a possibilidade de envelhecer com saúde, aumentar nossa cultura, corrigir defeitos genéticos e, há aqueles que partem para soluções mais radicais: cirurgia plástica, próteses; o uso de silicone, de botox ou malhar em academias.

A não poucos, quem do feio gosta, torna-se belo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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