31 de agosto de 2024
DRAMA

‘Agora a gente chora com um pouco mais de felicidade’, diz Anderson sobre o filho

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 7 min
Reprodução / Redes Sociais
João Henrique é filho do prefeito de São José, Anderson Farias

Em entrevista a OVALE, o prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), falou sobre o drama do filho João Henrique Thomaz Ferreira, 23 anos, que foi atropelado por um carro da polícia em Dublin, na capital da Irlanda. A gravidade da colisão fez com que ele tivesse a perna amputada.

Faça parte do canal de OVALE no WhatsApp e receba as principais notícias da região! Acesse:http:// https://whatsapp.com/channel/0029VaDQJAL4tRs1UpjkOI1l

“Agora a gente chora com um pouco mais de felicidade”, disse Anderson, com lágrimas nos olhos, sobre a recuperação do filho.

João Henrique foi atropelado por uma viatura policial e fraturou a perna direita, que precisou ser amputada acima do joelho. Ele segue internado no hospital Tallaght, em Dublin, e já passou por duas cirurgias, com uma terceira operação prevista para os próximos dias.

“Ele acordou no meio desta manhã [de segunda]. Não está conseguindo falar ainda, mas minha esposa disse que ele escreveu”, contou Anderson.

No bilhete, o filho pediu para voltar para São José dos Campos com a namorada Júlia, que também mora em Dublin. João Henrique está na capital da Irlanda há cinco anos. Ele foi para estudar e, para se manter, conseguiu um trabalho como entregador.

Leia os principais trechos da entrevista com Anderson Farias.

Como está João Henrique?

Agora a gente chora com um pouco mais de felicidade. Ele estava acordado na manhã de hoje [segunda]. Minha mulher ia se reunir com os médicos porque ele tem ainda vários procedimentos para fazer, mais uma cirurgia para fazer.

Teve muita liberação de enzimas e isso acabou afetando o rim dele. Então tem alguns procedimentos para ele fazer, mas está tendo todo o atendimento lá na Irlanda. Ele fez duas cirurgias e vai fazer pelo menos mais uma, que é para completar a amputação. Eles já fizeram o mais emergencial. Ontem ele teve que fazer outra cirurgia num coágulo que se criou na coxa dele.

Por que ocorreu esse coágulo?

Foi colocado um torniquete na perna dele na hora do acidente, porque ele estava perdendo muito sangue. Esse torniquete machucou os músculos dele, forçou demais os músculos, que acabaram liberando muitas enzimas no corpo e isso acabou afetando um rim. Ele passou por uma cirurgia na coxa para poder tirar esse coágulo na coxa. Embora tenha sido colocado errado, esse torniquete salvou a vida dele. Não tenho dúvida.

Seu filho andava de bicicleta e fazia esportes. Isso o ajudou a sobreviver ao trauma?

Sim, creio que talvez tenha o ajudado a sobreviver também. Ele não é um atleta profissional, mas cuidava bem da saúde. Ele se cuidava. Nunca bebeu ou fumou e foi sempre tranquilo.

Há quanto tempo ele está na Irlanda?

Ele estava há cinco anos na Irlanda. Ele estudava e trabalhava lá. Ele foi para estudar. A pandemia acabou prorrogando um pouco o curso que ele estava fazendo. Ele terminou o estudo dele, que era um cursinho de inglês. A namorada está junto com ele. Ela é de São José e faz faculdade na Irlanda. Ela trabalha também, como cuidadora. Ele trabalha como entregador de delivery.

Eu tenho um processo de cidadania europeia em andamento, que acabou prorrogado por causa da pandemia e não saiu até hoje. Esse processo faz com que ele tenha a sua manutenção lá na Irlanda, que possa ficar regular.

A sua mulher Sheila foi acompanhada de um advogado para Dublin?

Ela foi com um amigo nosso que é advogado. Mas ele foi mais como amigo da família do que como advogado. Eu naquele momento não consegui ir também, para cuidar de outras coisas, então o importante era ela não ir sozinha.

Há algum médico aqui em São José acompanhando o caso do seu filho?

O Danilo Stanzani [ex-secretário de Saúde de São José] conversou com um médico em Londres e esse médico tem conhecimento do hospital da Irlanda. Houve essa conversa, até porque eu precisava de alguém acompanhando. O Danilo conseguiu esse amigo para nos ajudar a tomar a decisão. Nós tivemos que decidir com relação à amputação da perna dele.

A família precisa se manifestar sobre isso. A mais próxima dele era a Júlia, a namorada, mas ela não queria tomar essa decisão sozinha. Eu imagino o quanto isso foi difícil para ela. Também o doutor Jorge Cury, que é de São José e está lá, está dando muito suporte para a Sheila. É importante para a gente para poder acompanhar, porque os fluxos são diferentes lá. Você tem que marcar reunião com os médicos, enfim, é diferente do Brasil.

São muitos médicos envolvidos. Não é só o cirurgião, são vários profissionais envolvidos com meu filho. É uma cirurgia muito complexa.

A intenção é trazê-lo para São José?

Sim, trazer ele de volta. Esse foi o pedido dele que fez hoje. Ele mesmo pediu para a Sheila, por escrito, para voltar para São José com a namorada. Mas não dá para trazê-lo agora. A gente precisa ter calma e esperar os médicos liberarem para que ele possa viajar. Voltar foi um pedido dele, e vamos cumprir, só não sei quando.

Como você está acompanhando a parte legal do acidente? Está muito confuso ainda?

Eu falei com o Consulado do Brasil em Dublin. O Felício [Ramuth] também conversou com o pessoal de lá, junto com o pessoal do Comércio Exterior do Estado que cuida da parte de diplomacia. O [Geraldo] Alckmin também ligou ontem e falou com o Consulado.

O que eu peço é que a investigação seja transparente. Que se faça a investigação até para entender o que aconteceu. O policial [que atropelou] saiu preso pela própria polícia, pela atitude que ele teve ali, no atropelamento, que ninguém entendeu nada.

Foi algo que não dá para entender. O João estava sozinho, afastado, mas porque ele tinha chamado ele acompanhou os policiais até o local onde prenderam [os que roubaram as motos] numa ação de uma abordagem. O João ficou afastado. Não ficou junto a essa viatura caracterizada da Garda [polícia local].

E o que aconteceu?

Tem muita desinformação pelo ponto de vista do que a imprensa local não divulga, mas pelo ponto de vista dos amigos e das pessoas que estavam lá na hora, das testemunhas, temos os relatos. Eu falei pessoalmente com dois amigos dele. Pedi para que eles fossem verdadeiros, não mentissem e falassem a verdade di que aconteceu. Enfim, eu tenho também aquela questão do pai. Eu quero saber a verdade.

Eu confio nos meninos, são rapazes muito sérios, do bem, todos cuidando da vida, ganhando experiência. Não são pessoas que você põe em dúvida do ponto de vista da falta de juízo. Mesmo sendo jovens, eles falaram muito claramente com todas as informações, o que foi que aconteceu.

Tanto que a própria polícia [a Garda], a fardada, tirou o policial de lá preso, com palavras questionando sobre o que ele tinha feito.

O que espera da investigação?

Espero que haja transparência para investigar o caso. Se ele teve culpa, se fez errado, que assuma e que ninguém acoberte absolutamente nada. Não quero mais nada. Mas primeiro eu quero meu filho de volta e depois, se houve alguma coisa errada, que se mude o procedimento. Que altere o comportamento. Enfim, só quero que eles sejam transparentes com as informações.

Os amigos do João estão organizando manifestações e cobrando a polícia. Como vê esses movimentos?

Ele é muito querido e todo mundo gosta dele. Não há uma pessoa lá que não goste dele. João sempre teve muita boa relação, sempre ajudou muitas pessoas, sempre foi um cara do bem. Então, acho que essa manifestação mostra isso.

Os amigos dele até disseram que vão fazer uma vaquinha. E ontem resisti, falando que não precisava, mas eles pediram permissão. Falei para eles: ‘façam o que vocês acharem melhor’. A gente não tem esse problema, mas se arrecadar e não precisar usar, a gente doa para uma instituição. Mas eles estão fazendo uma vaquinha também. Eles querem mobilizar, querem demonstrar o carinho que eles têm pelo João.

Então, eu fico super feliz com as mensagens que eu recebi, muitas pessoas conhecidas, pessoas que eu não conheço, com orações e mensagens. Agradeço todas que estão enviando mensagens. As orações ajudam muito ao João, para ter força para poder sair desse momento que ele está passando.


Leia mais:

VÍDEO: ‘Quero que ele saia do hospital com vida’, diz Anderson sobre filho em Dublin

Em bilhete, filho de Anderson pede para voltar a São José; jovem saiu da sedação

VÍDEO: ‘Amputação foi a decisão mais difícil’, diz Sheila Thomaz, mãe de João Henrique

Brasileiros organizam ato em Dublin por filho de Anderson e cobram punição a policial