Hélcio Costa

“Tá de brinqueichon uíte me?”

De “tchutchuca do Centrão” à camisa usada por Lula, campanha começa em ritmo alucinante, com o país seguindo enredo de Glauber Rocha, com a terra em transe

Por Hélcio Costa é jornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 19/08/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Hélcio Costa
Hélcio Costa

Tom Jobim tinha razão, o Brasil não é para amadores ...

Bastaram poucos dias de campanha para mostrar que as eleições deste ano serão disputadas no estilo Glauber Rocha, com a terra em transe. Uma olhadela rápida no noticiário, nas redes, nos grupos de whatsapp leva o brasileiro a um mundo alucinado. De chofre, Lourdes Melo, candidata a governadora do Piauí pelo PCO, vira meme ao negar ser interrompida em um debate na TV Verdes Mares. “Ah, você quer me calar?”, perguntou a professora. Foi para a lista de assuntos mais comentados do Twitter. Seu reinado foi curto, logo tomado pelo youtuber Wilker Leão, um cabo da reserva com 127 mil seguidores no Tik Tok. “Quero ver se você é corajoso para conversar comigo, tchutchuca do Centrão”, disse Leão, de celular na mão, na frente do Palácio do Alvorada, pouco antes do presidente Jair Bolsonaro embarcar para São José dos Campos. O que veio a seguir, nem Glauber sonharia: ajudado pelos seguranças, Bolsonaro tentou tomar o celular do youtber, que escapou, aos gritos. Batata: a expressão “tchutchuca do Centrão” foi para o topo do Twitter e virou munição para a oposição, ao lembrar, de forma jocosa, as alianças que sustentam o governo do “Capitão”. Aliás, a semana está indigesta para o presidente. Dias antes, Bolsonaro teve que ouvir calado o discurso de posse de Alexandre de Moraes no TSE. Sob aplausos da plateia, “Xandão” defendeu o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas, o Estado de Direito e o combate às “fake news” --fazendo coro à Carta em Defesa do Estado Democrático de Direito, chamada por Bolsonaro de “cartinha”. Tá bom? Vixi, tem mais. Tem a estreia do “deep fake” na campanha, um vídeo falso de uma falsa Renata Vasconcelos apresentando, na bancada do “Jornal Nacional”,  uma falsa pesquisa de intenção de votos com Bolsonaro à frente de Lula, 44% a 32%. O resultado é o inverso, mas, pela cartilha do “fake”, vale tudo para manipular o eleitor. E teve mais: empresários bolsonaristas foram flagrados, em um grupo de “zap”,  defendendo um golpe no caso de uma vitória de Lula; candidatos optaram por discutir com jornalistas a tratar de questões incômodas (praga que atinge diversas matizes, de Bolsonaro a Fernando Haddad, do PT); e Lula foi criticado, por petistas, por usar uma camisa de grife no vídeo oficial. Tudo isso num país em que a fome voltou em escala assustadora, onde um menino liga para o 190 da PM na esperança de ter o que comer, ele e a família.

Nem Glauber pensaria nesse enredo.

É caso de entrar na onda do técnico Joel Santana (Pros), que, sonhando em trocar o futebol por uma vaga de deputado, brinca com seu inglês rudimentar, em um vídeo de campanha. “Tá de brinqueichon uíte me?” pergunta Joel. Que tal fazer essa pergunta a todos os candidatos?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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