Ideias

Quem mexeu no toucinho que estava aqui?

Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 27/07/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Não é de hoje: políticos e uso do dinheiro público sempre tiveram uma relação complicada. E isso sempre rendeu história.

No início de minha carreira como repórter de Política, no tempo do guaraná com rolha, o recém-empossado governador Franco Montoro decretou uma política de cortes de despesas para servir de exemplo à gastança que tinha sido a gestão de seu antecessor, Paulo Maluf.

Para anunciar isso, Montoro --politico austero, por formação-- caiu na tentação de reunir lideranças do então MDB em um almoço para 80, 100 pessoas no Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão, com cardápio e carta de vinhos de fazer inveja ao Fasano, um dinheirão pago pelos cofres de São Paulo. Um repórter atento, Flávio Nery, do "Estadão", percebeu a ironia e fez um dos textos mais demolidores que li em toda minha carreira. A austeridade de Montoro ficou abalada.

Anos depois, lembrei de Nery.

Fui cobrir um congresso de vereadores e, ao invés de ficar de olho nos debates, resolvi contar as garrafas de uísque vazias recolhidas dos quartos e das áreas comuns. Litros e litros de Red Label e Passaport, lançados nas contas das Câmaras.

Esses episódios são, como disse, do tempo do guaraná com rolha. Mas, se o tempo passa, a fixação em enfiar o pé na jaca, não. Não existe barreira. Presidente, Dilma Rousseff desviou um voo oficial para dar um rolê em Lisboa, com direito a pernoite no luxuoso hotel Ritz. Há uma semana, este jornal revelou a "farra das viagens" da Câmara de Taubaté, bancada com o dinheiro do contribuinte, em reportagem de Julio Codazzi.

Eleitos para o cargo A ou B, muitos políticos agem como se tivessem recebido licença para usufruir de benesses e direitos que não fazem parte do rito da função. Mas o pecado é o mesmo: achar que os cofres públicos podem pagar tudo.

Podemos reclamar e falar em criar mecanismos que inibam a gastança. Aliás, eles já existem. Mas, no fim, a culpa é também nossa. Quase sempre votamos e vamos tocar a vida até a próxima eleição, entregando aos políticos a rédea solta. Está errado. Não dá para deixar político sozinho. Nem os bons, quanto mais os maus..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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