Ideias

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Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia |
| Tempo de leitura: 2 min

Jornalistas são seres estranhos. Hoje a gente carrega na palma da mão, travestido de telefone, um computador poderoso, com 256 gigabytes de armazenamento interno, processador Apple de 64 bits e tela HD. Nem sempre foi assim. Teve tempo que computador, só em filme de ficção. O primeiro computador a entrar na Redação de um jornal no Brasil foi recebido com greve.

Os jornalistas temiam, com um quê de razão, que aquele trambolho de tela de fósforo reduzisse a trabalhosa tarefa de fazer notícia. Mas é inevitável: tecnologia vem para ficar. Como gosta de dizer Carlos Alberto Di Franco, com quem tive aula no Master de Editores da Universidade de Navarra, jornalistas são seres resistentes quando se trata de romper rotinas. Pensei nisso esta semana quando soube da morte de Otávio Frias Filho, diretor de Redação da "Folha de S. Paulo".

Otávio, foi mestre em romper rotinas. Por bem ou por mal, o que o levou a ter uma legião de fãs e uma legião de críticos de igual ou maior tamanho. Ele fez isso com o "Projeto Folha", que impôs um novo padrão à produção de informação nos anos 80; ao criar o conceito de jornalismo crítico, apartidário, independente e plural, que tantos usam hoje. Trabalhei na "Folha" por 10 anos e participei do processo de consolidação do projeto, como repórter e como editor.

Era um choque para o leitor, aos personagens da notícia e a nós, jornalistas. Logo após a implantação do caderno regional da "Folha" no Vale do Paraíba, a Regional do Sindicato dos Jornalistas fez mesa-redonda para discutir a necessidade ou não do "outro lado" na mesma edição da notícia principal. Até então, o "outro lado", tão essencial, era notícia garantida no dia seguinte. Primeiro editor do "Folha Vale", Fausto Siqueira fez uma defesa veemente do direito à informação completa frente a uma plateia reunida no Tênis Clube em clima de Fla-Flu. De lá para cá, muita coisa mudou, para melhor. Muitos reclamam que a imprensa é negativista, é chata, é vendida. Mas, queiram ou não, hoje, o Brasil produz jornalismo de qualidade. Culpa de Otavinho e de mais alguns teimosos, como Cláudio Abramo, Alberto Dines, Ricardo Noblat e tantos outros, que ousaram romper rotinas e criar novas fronteiras. A eles, meu muito obrigado..

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