A unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. Mas é em torno dela que tem sido travada nos últimos dias uma guerra por corações e mentes.
Gente que se considera progressista e gente taxada como conservadora têm brigado para definir limites -ou falta de limites-- para a arte, a sexualidade, as políticas públicas para criança e adolescente, as regras do jogo social e político, além, é claro, para a censura, essa megera que, vira e mexe, insiste em ressurgir das sombras. Defender pontos de vista díspares é legítimo. Mostra que não somos uma sociedade monolítica. O "xis" da questão é que cada lado quer falar, mas não quer ouvir. Cada lado insiste em atropelar os argumentos estranhos aos seus e tenta criar, assim, unanimidade em torno de todas as coisas. Precisamos, todos, aprender a conviver com os opostos. Discordar não nos transforma em coxinhas ou mortadelas. A verdade é que precisamos uns dos outros para sermos nós mesmos, como pregava Agostinho de Hipona, um dos mais importantes filósofos dos primórdios do Cristianismo --chamado de santo pela Igreja Católica e considerado, ao mesmo tempo, um dos pais teológicos da Reforma Protestante. A vida é mais ampla que um simples sim ou não.
Ouvir o outro não nos obriga a abrir mão de nossos pontos de vista e valores. Mas ajuda a buscar consensos. Nesse cipoal de polêmicas, por exemplo, sou contra toda forma de censura e considero a exposição do "Queermuseum" legítima, assim como a nudez nas artes (tão velha quanto a humanidade), isso incluso o peladão do MAM. Mas não levaria meu filho de 4 anos para assistir à performance do artista Wagner Schwartz, embora, ali, não tenha havido, ao contrário do apregoam alguns, apologia à pedofilia. Só acho que existem programas mais legais para a criançada. Mas isso sou eu. E isso não me alinha nem com os artistas do 342 Artes, nem com Dona Regina, muito menos com a gurizada do MBL e com Alexandre Frota.
Que bom. Voltando a Nelson, o Anjo Pornográfico, a unanimidade é burra. Por isso, não dá para abrir mão de pensar com a própria cabeça. Nem eles, nem eu .....