Ideias

A ARTE DE CONTAR BOAS HISTÓRIAS

Por Hélcio Costa Jornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 01/06/2018 | Tempo de leitura: 2 min

A morte de Audálio Dantas, aos 88 anos, entristece os sobreviventes de um tempo em que o país sonhava com o futuro. Era um sonho dolorido, sonhado sob o peso da incerteza, do AI-5, do silêncio da imprensa frente aos desvios de um regime que também sonhou, um dia, ser grande. Não foi. Presidente do Sindicato dos Jornalistas, Audálio foi uma das poucas pessoas de coragem a denunciar as atrocidades sofridas por outro jornalista, Vladimir Herzog, morto e torturado no DOI-Codi em 1975. Outra pessoa corajosa, dom Paulo Evaristo Arns, esteve à frente do culto ecumênico por Vlado na Catedral da Sé. Audálio estava lá, assim como outras 8.000 pessoas, assustadas com as ameaças de repressão. Naquela tarde cinzenta de outubro começava a ruir a base de apoio da Ditadura, imposta 11 anos antes.

Pouco depois de saber da morte de Audálio, na noite de quarta-feira, passei de carro pelo centro de São José dos Campos e vi um grupo de pessoas (12, talvez 15) com cartazes pedindo intervenção militar, já. O que me chamou a atenção foi a urgência: já. Nem um minuto a mais. Doidos varridos? Longe disso: cidadãos. Em uma democracia todas as bandeiras são legítimas, mesmo as que defendem, contraditoriamente, o fim da democracia. Foi para isso que tantos lutaram e ainda lutam, acreditando em um país melhor. E acredite, caro leitor, apesar de parecer que não, ainda tem muita gente boa que luta e trabalha por um país melhor, em nome da justiça social, de ética na política, da redução do tamanho do Estado e das mordomias, enfim, em busca de uma Nação.

Ao chegar em casa, busquei um livro de Audálio, que traz uma carinhosa dedicatória dedicada por ele a mim. Presente de minha mulher, Letícia, o livro, "Tempo de Reportagem", reúne alguns dos melhores trabalhos de Audálio, um mestre da arte de contar histórias. Como disse ele uma vez, em primeiro lugar sejamos honestos com os fatos. Sejam eles do nosso agrado ou não. É, mestre, esse é o nosso maior desafio, manter a cabeça no lugar mesmo que a terra esteja em transe. Muito obrigado, descanse em paz..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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