Ideias

TODA NUDEZ MERECE SER CASTIGADA?

Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 15/09/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Considerado um dos maiores gênios da arte e da arquitetura do mundo, Michelangelo nem sempre foi unanimidade. Uma de suas obras-primas, o afresco do Juízo Final, pintado sobre o altar da Capela Sistina, escapou duas vezes de ser destruído por misturar santos e pecadores, por colocar dezenas de pessoas nuas em um espaço sagrado. Foi por pouco. Em 1541, só a intervenção direta do papa Paulo 3 evitou que a reforma de uma capela ao lado não colocasse a parede no chão. Anos mais tarde, foi um novo papa, Giovanni Caraffa, Paulo 4, que investiu contra a obra, ameaçando transformar o afresco em uma parede caiada. O Juízo Final sobreviveu graças a um amigo de Michelangelo, que pintou saiotes em algumas figuras. Pois é, se nem Michelangelo escapou da fúria dos censores ...

Não quero comparar Michelangelo a nenhum artista da exposição "Querrmuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira", cancelada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, após onda de protestos, cuja queixa principal era de que algumas das obras promoviam blasfêmia contra símbolos religiosos e apologia à zoofilia e à pedofilia. Michelangelo é incomparável. Mas os episódios mostram que a intolerância, essa velha senhora, ainda insiste em pegar a arte para Cristo. Vi pouco da mostra e, do que vi, quase nada me interessou, apesar do respeito que tenho por artistas como Adriana Varejão, Fernando Baril, Lygia Clark e Yuri Firmesa. Mas a questão não é meu gosto pessoal. Obras de arte ficam em museus fechados, ninguém é obrigado a contemplá-las. Assim como ninguém é obrigado a ler um livro ruim, folhear revista de mulher pelada ou ver cenas apelativas nas novelas de TV. O controle remoto e o livre arbítrio são ferramentas essenciais. O que me incomoda é ter meu direito de escolha, de ver ou não ver algo, vedado pela ação de grupos de pressão organizados.

Alguém não gostou da mostra? É só não ir ao museu. A essa onda de intolerância, prefiro o slogan das barricadas de 68 em Paris, é proibido proibir. Estou muito velho para abrir mão de um conceito tão arraigado como o da liberdade..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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