Nesse intervalo entre Natal e Ano Novo, talvez seja o caso de perguntar: afinal, qual é mesmo a milhar do jacaré? Ameaçado de extinção, o bicho voltou à baila graças a mais uma contribuição do presidente Jair Bolsonaro ao combate do coronavírus. Segundo o presidente, quem se arriscar a tomar vacina contra a covid-19 não escapa: vai virar jacaré.

Como coincidência não existem, resta seguir o ditado: para quem está se afogando, jacaré é tronco. Vamos anotar os números do jacaré no Bicho e, quem sabe, apostar na milhar da Federal. Se deu certo com Moreira da Silva, por que não comigo? Brasileiro tem como profissão a esperança e só assim é possível encarar o Brasil. Estamos fechando 2020 mais pobres, com problemas cada vez mais graves, namorado com a inflação.

O país vai terminar 2020 com 9,5% da população em condição de pobreza extrema, contra 5% em 2019. Culpa da pandemia, mas também de uma economia que patina desde 2014. O Brasil está mais pobre que na década passada.

Percorri diversos bairros da periferia de São José este ano, a última vez entregando presentes para crianças carentes, graças ao projeto de Cartinhas de Natal, da Associação Comercial e Industrial. Ao contrário dos anos anteriores, a maioria das crianças pediu cestas básicas. Comida. Depois, emprego para os pais ou que, simplesmente, elas não fossem esquecidas.

Essa é a face real, humana e cruel dos estudos sobre má distribuição de renda, baixo nível de instrução, insegurança alimentar, sub-moradia.

Enquanto as autoridades só enxergam as eleições de 2022 e posam, sorridentes, em selfies e lives, o Brasil derrete. São mais de 180 mil mortes na pandemia e 22 milhões de beneficiários do Bolsa Família sem 13º este ano. Medo de vacina? Em Madureira, camelôs já vendem vacinas falsas para a Covid-19, com direito a certificado, por R$ 50. Isso é Brasil. Jacaré? A gente já virou bolsa.