Algumas coisas melhoram com o tempo, como o vinho. Outras, pioram.
Nos vinhos, algumas sensações só são reveladas com o tempo. São aromas terciários, formados durante lenta oxidação. É dentro das garrafas que se forma o "buquê", a personalidade do vinho, que lembra o aroma de frutos secos, amêndoas, bagaço envelhecido em silêncio, sombras e solidão. Poético? Sim, mas vinhos também podem envelhecer mal, transformados no mais amargo vinagre. Aí voltamos à frase inicial, com um adendo: algumas coisas melhoraram com o tempo, como o vinho; outras, pioram, como eu e Regina Duarte.
Para mim, o tempo trouxe dores que não conhecia.
Para a "Namoradinha do Brasil", o tempo trouxe o que parece ser loucura. Pensei nisso ao ver suas últimas entrevistas, olhos arregalados, falando, falando, falando coisas sem lé nem cré. Não vi sombra da órfã Patrícia e da aeromoça Cecília, papéis que a lançaram ao estrelato. Nem da Viúva Porcina. Muito menos de Malú. Regina estava mais para Luana Camará rendida, enfim, à sua entidade espiritual Priscila Capricce, como em "Sétimo Sentido", última novela de Janete Clair. Nas entrevistas, Regina parece possuída. Grita. Do nada, canta. Depois se cala. Reclama. Reclama das perguntas. Reclama das respostas.
Regina tem, como qualquer pessoa, o direito de pensar e falar o que quiser. Quando foi indicada secretária nacional de Cultura, achei natural. Não torço contra. Ela gosta de Jair Bolsonaro? Problema dela. Eu não? Problema meu. Segue o baile. Simples assim? Sim, mas, na prática, não foi. Não por culpa minha. Eu esqueci Regina. Soube depois que ela não tem mais contrato com a Globo e que vem sofrendo ataques de Bolsonaro. Só voltei a ver Regina nas entrevistas recentes. E fiquei assustado.
Para afastar o ruim, mergulhamos de cabeça no pior. Para superar isso não basta entoar a Canção do Exército, nem cantar "Pra frente Brasil". Temos que abandonar personagens, aposentar Priscila Capricce e voltar a ser gente. Voltar a ser povo. Tão diferentes, tão iguais..