Ideias

OBRIGADO POR TER EXISTIDO, MARIELLE

Por Marcos MeirellesJornalista | 16/03/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Marielle Franco não pode ter morrido em vão. Sua luta, que é a luta da imensa maioria dos brasileiros, precisa persistir através de outras vozes, ganhar força e ecoar por todo o país. E quais eram as bandeiras de Marielle? Mestre em administração pública, a vereadora negra, moradora da favela da Maré, era, sim, uma grande defensora dos direitos humanos. Mas, caro leitor, que país esse onde defender humanos tornou-se atividade de risco e alvo de ataques abomináveis nas redes sociais? Chegamos a tal ponto que um jornal carioca teve que explicar aos seus leitores, tintim por tintim, o que são direitos humanos e reproduzir alguns dos artigos da declaração universal da ONU em 1948. Reafirmar por exemplo, como reza o artigo 7 da declaração, que "todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei".Na inocência dos que têm mais de 80 anos, minha mãe recebeu a notícia da morte de Marielle com perplexidade. Não conseguiu compreender por que mataram uma mulher que nunca fez mal a qualquer pessoa e que dedicou sua vida a batalhar pela vida dos mais desassistidos. Então eu respondi: mãe, Marielle morreu justamente por isso. Porque a violência acentuada pela omissão do Estado perpetua o domínio e a exclusão dos favelados, dos negros, da gigantesca periferia abandonada pela Casa Grande. É impensável, para os supremacistas brancos, imaginar e admitir uma líder política jovem, negra, favelada e que, com seus esforços, conseguiu cursar uma universidade e tornar-se mestre.O assassinato de Marielle nos sentencia como projeto de nação. Estamos irremediavelmente condenados à violência, à desigualdade, ao subdesenvolvimento? Eu não vou desistir do Brasil. Mesmo com todas as perdas humanas e todos os retrocessos provocados pelo processo histórico de apropriação privada do Estado brasileiro, acredito que ainda temos a possibilidade de construir um país mais justo e igualitário.

Mas devo confessar que senti asco e repulsa ao observar postagens de alguns "amigos de Facebook" relativizando a dor e a dramaticidade da morte de Marielle. Esta gente desaprendeu a ser gente..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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