Ideias

Toda censura é burra. Ou, obrigado, Bozo

Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 13/06/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Meu pai, Hélcio Costa, médico, foi um dos coordenadores do combate à epidemia de meningite que atingiu o Vale do Paraíba nos anos 70.

Foram dias difíceis.

Pouco via meu pai. Ele saia cedo, voltava tarde, passava o dia em Tremembé, onde, no Hospital Bom Jesus, foi instalado o QG do combate à doença. Em casa, ficou mais calado. Nossa rotina mudou. Regras de higiene mais rígidas foram adotadas. Aulas foram suspensas. Eu, minha irmã e minha mãe deixamos Taubaté e fomos para nossa terra, Piraju, longe do epicentro. Em conversa com meus tios, meu pai narrou as dificuldades de conter o surto e falou sobre a censura sobre a doença. Nada sobre meningite podia ser publicado, por ordem do governo. Era epidemia invisível. Leitor do "Estadão", meu pai mostrou: no lugar dessa receita de bolo devia estar a notícia dos riscos que todos corremos. Foi ali, na receita, que tive meu primeiro contato com a palavra "censura".

Voltei a cruzar com ela diversas vezes como jornalista. Aprendi a combate-la e descobri que toda censura é, antes de tudo, burra.

Isso me meio à mente ao ver as tentativas de Jair Bolsonaro para atrapalhar a divulgação dos números de mortes causadas pelo novo coronavírus. Números e dados são essenciais. Sem eles, ações viram castelos de areia.

Para sorte nossa (e azar de Bozo), não estamos mais em uma ditadura. A "matemágica" do (des) governo ruiu. O STF determinou que a contagem real de casos fossem retomada. Órgãos de imprensa se uniram para divulgar seus próprios números, baseados nos dados (públicos, é bom frisar) fornecidos pelos Estados. No Congresso, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, constrangido, teve que desdizer o que havia dito ao tomar um pito dos deputados. Não era bem assim, disse, ao ver seu nariz crescer tal qual Pinóquio. Enfim, houve uma reação ampla da sociedade e das instituições a mais essa burrice de Bozo.

É caso de agradecer: obrigado, presidente, você, com sua incompetência, fez reagir um Brasil que parecia tão apático. Talkey?.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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