Ideias

o superministroque encolheu emtempo recorde

Por Julio CodazziEditor-executivo dos jornais OVALE e Gazeta de Taubaté | 24/08/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Dia 1º de novembro de 2018. Nessa data, o então juiz federal Sergio Moro anunciava que havia aceitado o convite do presidente recém-eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para ser seu ministro da Justiça.

Na época, para justificar a decisão de abandonar a magistratura e fazer parte do governo que -- direta ou indiretamente -- ajudou a eleger, Moro justificou que, como ministro, poderia fazer mais pelo combate à corrupção.

Também à época, analistas ponderaram que a escolha de Bolsonaro tinha um lado positivo e outro negativo para o novo presidente: o positivo era passar a imagem de que o governo cumpriria a promessa de exercer um firme combate à corrupção, com Moro como uma espécie de escudo para o pesselista; o negativo era que, ao nomear alguém tão ou mais popular do que o próprio Bolsonaro, o presidente teria no ex-juiz um ministro que ele não poderia demitir.

Menos de 10 meses depois do anúncio de Moro, todas as previsões ruíram. Primeiro que a imagem de que o pesselista travaria uma cruzada de combate à corrupção já não existe. Essa, aliás, se desfez rapidamente. Acuado por denúncias que envolvem seu filho Flavio e até um cheque suspeito na conta da primeira-dama, por esquemas montados nos gabinetes do clã para abocanhar o salário de assessores e também pelo laranjal do PSL, Bolsonaro decidiu interferir abertamente no Coaf, na Receita Federal, na Polícia Federal e no Ministério Público para tentar proteger aliados.

Por outro lado, Moro já não tem -- nem de longe -- o mesmo tamanho de antigamente. Atingido de forma contundente pelo vazamento de diálogos que comprometeram a imagem da Lava Jato, o ex-juiz encolheu. Não é mais um superministro.

Esses dois fatores, aliás, têm convergido nas últimas semanas. Quanto mais Bolsonaro age para desmontar toda a estrutura das instituições responsáveis pelas ações de combate à corrupção no país, mais Moro encolhe. Afinal, representantes desses órgãos -- e a população em geral -- esperavam que o ministro se posicionasse contra as interferências, o que não ocorreu até agora e dificilmente vai acontecer.

Na prática, é como se o ministro tivesse sido sequestrado por um desgoverno, sem qualquer opção de escapar desse cativeiro. Se ele ainda tivesse a imagem intacta, poderia sair pela porta da frente. Mas, fora do governo, onde se apoiaria para tentar se defender das críticas (bem fundamentadas, aliás) de que sua atuação como juiz não foi imparcial?

Ciente da armadilha em que Moro caiu, Bolsonaro aproveita para fritar o quanto pode seu ministro. Sabe que o ex-juiz já deixou de ser um provável nome para a eleição de 2022. Se Moro pudesse voltar no tempo, com certeza tomaria outra decisão em 1º de novembro de 2018..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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