AVIAÇÃO COMERCIAL

5 em cada 10 novos jatos da Embraer foram encomendados pelos EUA

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação/Embraer
Aviação comercial da Embraer pode ser severamente impactada pelo tarifaço de Trump
Aviação comercial da Embraer pode ser severamente impactada pelo tarifaço de Trump

Cinco em cada 10 jatos comerciais a serem entregues pela Embraer nos próximos anos foram encomendados por clientes nos Estados Unidos, país que anunciou sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros, o que pode afetar as exportações da fabricante nacional.

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Os americanos são responsáveis por 54% da carteira de pedidos firmes da aviação comercial da Embraer, de acordo com balanço da companhia divulgado na noite de segunda-feira (21).

Mesmo em meio às incertezas sobre os impactos do tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump, a Embraer atingiu uma carteira de pedidos recorde de US$ 29,7 bilhões (R$ 165,42 bilhões) no segundo trimestre de 2025, o maior nível já registrado pela empresa.

Pedidos.

A aviação comercial da Embraer acumula 437 pedidos firmes a entregar de novas aeronaves, sendo 208 do modelo E175 – campeão de vendas nos EUA –, 190 do jato E195-E2 e 39 do E190-E2.

Desse total de aeronaves, os clientes americanos encomendaram 238 unidades, sendo 202 do jato E175, 18 do modelo E195-E2 e nove do E190-E2. Ou seja, os americanos compraram 54% dos jatos a serem entregues pela Embraer.

No final do segundo trimestre de 2025, a carteira de pedidos da aviação comercial da Embraer totalizava US$ 13,1 bilhões – R$ 73 bilhões na atual cotação do dólar e R$ 17,2 bilhões a mais do que a carteira no final do primeiro trimestre.

Os americanos também são grandes compradores dos jatos executivos da Embraer, mas a empresa não revela o número de aeronaves e nem os clientes nesse segmento. Só se sabe que a carteira de pedidos atingiu US$ 7,4 bilhões no segundo trimestre – R$ 41,2 bilhões.

Os números mostram que o mercado americano é fundamental para a companhia, atingindo até 60% da receita da Embraer, segundo analistas de mercado.

Tarifaço.

O presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, disse que as tarifas podem reduzir a produção de aeronaves, que ficarão mais caras, e provocar demissões na companhia, especialmente em São José dos Campos.

A situação pode ser semelhante à da pandemia de Covid-19. Durante a crise sanitária, mais de 900 empregos foram perdidos na Embraer por conta da crise sanitária.

“[Podemos] cancelar pedidos, revisar plano de produção, de investimentos e possível ajuste do quadro de funcionários, similar ao da Covid”, afirmou o executivo em entrevista coletiva na semana passada.

Segundo ele, cada avião da Embraer vendido para os Estados Unidos ficará R$ 50 milhões mais caro se o tarifaço de 50% imposto por Trump ao Brasil for implementando no dia 1º de agosto.

Gomes Neto disse que as tarifas vão somar R$ 2 bilhões só em 2025 e R$ 20 bilhões até 2030. Os EUA são o principal mercado para a companhia. "É uma situação para a Embraer muito séria", disse o presidente.

Nenhum outro país seria capaz de absorver os aviões encomendados pelos EUA. "Não há como remanejar encomendas de clientes norte-americanos para outros mercados. Avião não é commodity", disse Gomes Neto.

Embargo.

O executivo disse que, até o momento, nenhum pedido de cancelamento foi feito, mas a empresa se prepara para o pior.

"O que pode acontecer: clientes da aviação comercial não quererem receber os aviões porque o valor é muito elevado e impactaria o negócio deles. Temos de negociar, mas se falarem que não querem mais receber, não poderemos produzir avião sem clientes. Talvez a gente precise desacelerar a produção", afirmou o executivo.

Para Gomes Neto, a tarifa de 50% é praticamente um "embargo" à fabricante. "50% de alíquota é quase um embargo para qualquer empresa. Ele dificulta ou inviabiliza as exportações para qualquer país. E para avião é mais impactante devido ao alto valor agregado", disse o executivo. “O jato E1 fica inviabilizado. Dificilmente uma companhia vai querer pagar uma tarifa desse montante”.

Apesar das tensões, o executivo espera que as negociações avancem. Gomes Neto mencionou o acordo americano com o Reino Unido, que zerou a alíquota que era de 10%. "Esse exemplo fica como uma boa base para o Brasil também", afirmou.

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