QUATRO MORRERAM

‘Me chamava de mãe’, diz diretora sobre homem que queimou abrigo

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min
Xandu Alves / OVALE
Bombeiro dentro do abrigo incendiado em São José
Bombeiro dentro do abrigo incendiado em São José

Amor e ódio em um só coração.

Internado diversas vezes no abrigo da Comunidade Consoladora dos Aflitos, na região central de São José dos Campos, Leandro Rangel Vilela, 42 anos, chamava a fundadora e diretora da casa de mãe, além de revelar carinho pelos abrigados.

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Mas a relação de afeto não foi capaz de evitar que, num acesso de raiva, Leandro colocasse fogo em um sofá numa área anexa ao abrigo e provocasse um incêndio que destruiu o local, matando quatro pessoas e ferindo outras nove.

O fogo se espalhou rapidamente na madrugada do dia 10 de março, começando pelo anexo, que servia de bazar do abrigo, e atingindo a casa de dois pavimentos, onde estavam os abrigados, alguns deles acamados.

Para a fundadora e diretora da obra social, Andréa Holanda Laporta, Leandro não teria tido intenção de incendiar o abrigo. Na avaliação dela, que conhecia bem o rapaz, colocar fogo no sofá foi a maneira encontrada por ele para demonstrar que estava com raiva do abrigo, que rejeitara a sua permanência na véspera do incêndio, por ele estar sob o efeito de drogas.

“Ele foi internado várias vezes, mas não podia entrar na casa. Ele ficou uma semana e continuou indo almoçar. Só que ele ia pegar comida drogado, e falei para ele que não queria ele drogado dentro da casa. Há muitos doentes que não conseguem andar e acabaram de sair da drogadição, e ver alguém como o Leandro não ia fazer bem para eles. Leandro me chamava de mãe, mas estava usando drogas”, disse Andréa.

Leandro foi preso pela Polícia Militar logo depois do incêndio e confessou ter colocado fogo no sofá, no anexo do abrigo. Ele segue preso em unidade prisional de São José dos Campos.

Andréa disse que não se arrepende de ter ajudado Leandro e que quer conversar com ele depois que foi preso.

“Gostaria de conversar com ele depois que foi preso. Tenho certeza de que ele está arrependido. Ele colocou fogo no sofá para passar o recado de que estava bravo com a gente. Ele gostava das pessoas que estavam lá dentro”, afirmou a fundadora.

“Não consigo me arrepender de ter cuidado do Leandro. Temos que estender a mão e cabe a Deus julgar. Não julgo ninguém. O ensinamento [da tragédia] para ele, para nós, mesmo diante de tudo isso, é que não vamos poder parar de ajudar a todos que pedem. Já ajudei moradores de rua que nunca mais usaram nada e estão ajudando a comunidade. Não é porque um errou que vou deixar de ajudar as pessoas”, disse Andréa.

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