PESQUISA INÉDITA

Zona sul lidera os desaparecimentos em São José, aponta polícia

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / Governo de SP
Mutirão para coletar DNA de familiares de desaparecidos em São José
Mutirão para coletar DNA de familiares de desaparecidos em São José

Um levantamento inédito feito pela Polícia Civil de São José dos Campos em parceria com a Univap (Universidade do Vale do Paraíba) aponta que a região sul da cidade responde por 33,52% dos desaparecidos no ano passado.

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O trabalho foi feito em parceria da 3ª Delegacia de Investigação sobre Homicídios de São José com o Sepa (Serviço Escola de Psicologia Aplicada), da Univap.

De um total de 176 boletins de ocorrência relacionados ao desaparecimento de pessoas em 2023, 59 ocorreram na região sul. A zona leste aparece na sequência com 46 desaparecidos e 26,13% do total da cidade, que tem uma média de uma pessoa desaparecida a cada dois dias.

A zona norte vem em terceiro, com 28 registros (15,90%), e depois a região central (20 ocorrências e 11,36%), a sudeste (14 / 7,95%) e a oeste (7 / 3,97%).

Os dados acerca do gênero apontam uma quantidade consideravelmente maior de registro do desaparecimento de homens do que de mulheres. De 176 boletins registrados, 117 eram homens (66,47%) e 59, mulheres (33,52%).

Quanto à idade, o índice aponta a maior quantidade de desaparecimentos na faixa etária de 41 a 50 anos, com 40 ocorrências. No entanto, ao juntar as faixas de 18 a 20 anos e de 21 a 30 anos, o número se equipara aos mais velhos. Segundo a pesquisa, o número de desaparecidos cai “drástica e continuamente após os 51 anos de idade”.

No que diz respeito à característica do desaparecimento, de acordo com o levantamento, mais da metade dos registros (51,99%) não tinha uma classificação categórica ou informação acerca do desaparecimento. Muitos desses casos trazem apenas o relato de que a pessoa desaparecida saiu de casa e não retornou.

No demais, as categorias de saúde mental e uso de substâncias psicoativas se equiparam, com 22,8% e 21% dos casos, respectivamente. Os casos nomeados “criminal ou agressão” aparecem poucas vezes, com 4,3% dos registros.

Denúncia.

A pesquisa também mostrou que o tempo médio de abertura do boletim de ocorrência foi de 0 a 1 dia, ou seja, no mesmo dia ou no dia seguinte ao desaparecimento, com 80 registros (45,45%).

Com 68 registros está o período de até uma semana (2 a 7 dias), representando 38,63% da totalidade. Juntos, as duas faixas somam 84% de todos os desaparecimentos.

Sobre o período do dia em que houve o desaparecimento, notou-se que 13% deles não foram informados, mas em sua maioria os declarantes relataram o período da manhã ou da tarde, 31,81% e 28,97%, respectivamente, muitos em situações mencionadas pela saída da residência, sem retornar.

O número de desaparecimentos foi maior nos meses de setembro, janeiro e abril, respectivamente, com 23, 22 e 20 pessoas desaparecidas em São José;

“Buscou-se discutir em supervisão os motivos que levaram ao número alto, mas sem sucesso”, diz trecho da pesquisa.

Quanto à pessoa que registra a reclamação de desaparecimento, a mãe da vítima lidera o ranking, com 59 registros (33,52%), depois o cônjuge (31 / 17,61%), o pai (24 / 13,63%), os irmãos (23 / 13%), outro familiar (16 / 9%), os filhos (11 / 6,25%) e as faixas de menor percentual, como outros (6) e avós e avôs (2).

“Quando somamos todos os familiares envolvidos – desconsiderando pai e cônjuge – soma-se 52 casos, isso se aproxima, mas ainda é menor do que a quantidade de registro materno, 59 casos, com a diferença de apenas sete”, avalia a pesquisa.

Local.

No tipo de local, os boletins de ocorrência apresentavam um padrão com 76,5% dos casos apontam a residência da pessoa desaparecida, sendo a maior parte das residências fora de condomínios residenciais – esse dado entra na categoria da pessoa que “saiu de casa e não voltou mais”.

Outros locais foram pouco citados, como locais de saúde e estabelecimento de ensino (5,3%), entidade assistencial (0,6%), trabalho (0,6%), templo e afins (0,6%) e área rural (0,6%).

No cruzamento de dados de gênero e idade, percebeu-se que o desaparecimento de mulheres na idade da adolescência é desviante do padrão frente aos desaparecimentos masculinos. Esta idade é o único momento em que a quantidade de desaparecimentos femininos é maior do que o masculino.

Os casos de desaparecimentos relacionados à saúde mental, a esquizofrenia e depressão lideram com 11 registros cada, depois comorbidade e suicídio (5 cada), demência (4), ansiedade (3) e usuário de drogas (2).

Conclusão.

A conclusão dos pesquisadores foi de que os dados devem ser cada vez mais bem trabalhados e os resultados podem orientar políticas públicas para o problema dos desaparecidos, principalmente nos casos que podem ser evitados.

“A análise de variáveis como idade, gênero, região e circunstâncias específicas evidenciou padrões que podem orientar ações futuras de prevenção, investigação e políticas públicas”, aponta a pesquisa.

“A integração entre psicologia, segurança pública e análise de dados mostrou-se indispensável para abordar de maneira mais eficaz o fenômeno dos desaparecimentos, promovendo avanços na compreensão e no enfrentamento dessa problemática.”

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