Um levantamento inédito feito pela Polícia Civil de São José dos Campos em parceria com a Univap (Universidade do Vale do Paraíba) aponta que a região sul da cidade responde por 33,52% dos desaparecidos no ano passado.
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O trabalho foi feito em parceria da 3ª Delegacia de Investigação sobre Homicídios de São José com o Sepa (Serviço Escola de Psicologia Aplicada), da Univap.
De um total de 176 boletins de ocorrência relacionados ao desaparecimento de pessoas em 2023, 59 ocorreram na região sul. A zona leste aparece na sequência com 46 desaparecidos e 26,13% do total da cidade, que tem uma média de uma pessoa desaparecida a cada dois dias.
A zona norte vem em terceiro, com 28 registros (15,90%), e depois a região central (20 ocorrências e 11,36%), a sudeste (14 / 7,95%) e a oeste (7 / 3,97%).
Os dados acerca do gênero apontam uma quantidade consideravelmente maior de registro do desaparecimento de homens do que de mulheres. De 176 boletins registrados, 117 eram homens (66,47%) e 59, mulheres (33,52%).
Quanto à idade, o índice aponta a maior quantidade de desaparecimentos na faixa etária de 41 a 50 anos, com 40 ocorrências. No entanto, ao juntar as faixas de 18 a 20 anos e de 21 a 30 anos, o número se equipara aos mais velhos. Segundo a pesquisa, o número de desaparecidos cai “drástica e continuamente após os 51 anos de idade”.
No que diz respeito à característica do desaparecimento, de acordo com o levantamento, mais da metade dos registros (51,99%) não tinha uma classificação categórica ou informação acerca do desaparecimento. Muitos desses casos trazem apenas o relato de que a pessoa desaparecida saiu de casa e não retornou.
No demais, as categorias de saúde mental e uso de substâncias psicoativas se equiparam, com 22,8% e 21% dos casos, respectivamente. Os casos nomeados “criminal ou agressão” aparecem poucas vezes, com 4,3% dos registros.
Denúncia.
A pesquisa também mostrou que o tempo médio de abertura do boletim de ocorrência foi de 0 a 1 dia, ou seja, no mesmo dia ou no dia seguinte ao desaparecimento, com 80 registros (45,45%).
Com 68 registros está o período de até uma semana (2 a 7 dias), representando 38,63% da totalidade. Juntos, as duas faixas somam 84% de todos os desaparecimentos.
Sobre o período do dia em que houve o desaparecimento, notou-se que 13% deles não foram informados, mas em sua maioria os declarantes relataram o período da manhã ou da tarde, 31,81% e 28,97%, respectivamente, muitos em situações mencionadas pela saída da residência, sem retornar.
O número de desaparecimentos foi maior nos meses de setembro, janeiro e abril, respectivamente, com 23, 22 e 20 pessoas desaparecidas em São José;
“Buscou-se discutir em supervisão os motivos que levaram ao número alto, mas sem sucesso”, diz trecho da pesquisa.
Quanto à pessoa que registra a reclamação de desaparecimento, a mãe da vítima lidera o ranking, com 59 registros (33,52%), depois o cônjuge (31 / 17,61%), o pai (24 / 13,63%), os irmãos (23 / 13%), outro familiar (16 / 9%), os filhos (11 / 6,25%) e as faixas de menor percentual, como outros (6) e avós e avôs (2).
“Quando somamos todos os familiares envolvidos – desconsiderando pai e cônjuge – soma-se 52 casos, isso se aproxima, mas ainda é menor do que a quantidade de registro materno, 59 casos, com a diferença de apenas sete”, avalia a pesquisa.
Local.
No tipo de local, os boletins de ocorrência apresentavam um padrão com 76,5% dos casos apontam a residência da pessoa desaparecida, sendo a maior parte das residências fora de condomínios residenciais – esse dado entra na categoria da pessoa que “saiu de casa e não voltou mais”.
Outros locais foram pouco citados, como locais de saúde e estabelecimento de ensino (5,3%), entidade assistencial (0,6%), trabalho (0,6%), templo e afins (0,6%) e área rural (0,6%).
No cruzamento de dados de gênero e idade, percebeu-se que o desaparecimento de mulheres na idade da adolescência é desviante do padrão frente aos desaparecimentos masculinos. Esta idade é o único momento em que a quantidade de desaparecimentos femininos é maior do que o masculino.
Os casos de desaparecimentos relacionados à saúde mental, a esquizofrenia e depressão lideram com 11 registros cada, depois comorbidade e suicídio (5 cada), demência (4), ansiedade (3) e usuário de drogas (2).
Conclusão.
A conclusão dos pesquisadores foi de que os dados devem ser cada vez mais bem trabalhados e os resultados podem orientar políticas públicas para o problema dos desaparecidos, principalmente nos casos que podem ser evitados.
“A análise de variáveis como idade, gênero, região e circunstâncias específicas evidenciou padrões que podem orientar ações futuras de prevenção, investigação e políticas públicas”, aponta a pesquisa.
“A integração entre psicologia, segurança pública e análise de dados mostrou-se indispensável para abordar de maneira mais eficaz o fenômeno dos desaparecimentos, promovendo avanços na compreensão e no enfrentamento dessa problemática.”