ENCHENTES

Após Prefeitura desmentir, Ortiz admite que não concluiu piscinão

Por Julio Codazzi | Taubaté
| Tempo de leitura: 5 min
Caique Toledo/OVALE
Enchente na Avenida do Povo, em 2023
Enchente na Avenida do Povo, em 2023

Após a Prefeitura de Taubaté desmentir a versão apresentada pelo candidato Ortiz Junior (Republicanos) na campanha eleitoral desse ano, o ex-prefeito recuou e admitiu que não concluiu a obra do piscinão do Baronesa.

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Financiada com recursos do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), a obra, que tinha como objetivo impedir enchentes naquela região, tinha sido iniciada em agosto de 2019 e deveria ter sido concluída em 12 meses, mas foi paralisada em maio de 2020 devido à necessidade de desapropriação de dois imóveis da CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista), avaliados em R$ 3,6 milhões.

Até maio de 2020, a obra tinha atingido 44,2% de execução. Assim, a Compec Galasso havia recebido R$ 3,16 milhões, do total de R$ 7,1 milhões previstos. O contrato com a empresa foi rescindido no fim de 2020, ainda no governo Ortiz. Desde então, o serviço nunca foi retomado. Sem o piscinão, que teria capacidade de armazenar um volume equivalente a 15 piscinas olímpicas, as enchentes continuam a ser frequentes naquela região, principalmente na Avenida do Povo.

Mentira.

Na campanha eleitoral desse ano, Ortiz passou a afirmar que havia concluído a obra. O ex-prefeito falou isso, por exemplo, na sabatina feita por OVALE no dia 24 de setembro. "Enterramos o piscinão na Escolástica Maria de Jesus, no Baronesa. Ali tem um piscinão feito. Ali passa o Córrego do Judeu, que depois passa pela Avenida do Povo, e ali nós colocamos um piscinão. Do lado da Baronesa, da Escolástica, nós resolvemos o problema de drenagem ali, que era muito grave. [Antes chegava a] um metro e meio, dois metros de água ali perto do Mercatau e da igreja da Baronesa".

Dois dias depois, na sabatina feita pela Rede Vanguarda, voltou a sustentar essa versão. "O piscinão está enterrado, a sete metros de profundidade. Nós mudamos o escopo do programa. A gente tentou desapropriar uma área do linhão e mudamos o escopo. Nós fizemos ao lado do Córrego do Judeu, ali passa um córrego na Escolástica Maria de Jesus. Nós fizemos uma rede com sete metros de profundidade, com túneis de seis metros de diâmetro, para que a gente pudesse fazer ali a reservação da água. Então, ali tem um piscinão enterrado", disse.

"É uma solução de engenharia que foi adotada. Não havia condição de desapropriar a área, a empresa de transmissão de energia não queria que nós desapropriássemos aquela área, então nós mudamos o projeto. Nós enterramos o piscinão a sete metros de profundidade. Tanto que nas últimas chuvas nós não tivemos episódios de enchentes", concluiu.

Desmentido.

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Taubaté, que agora é gerida por José Saud (PP), desmentiu a versão apresentada por Ortiz. Segundo a atual gestão, o que foi feito no local não é um piscinão, que teria capacidade de armazenar a água das chuvas, e sim uma rede de galerias de águas pluviais, que tem o objetivo de transportar a água para rios ou córregos - e, mesmo assim, essa rede teria sido deixada incompleta.

"A Secretaria de Obras de Taubaté informa que a gestão anterior construiu uma linha de aduelas de concreto, a sete metros de profundidade, em um trecho da Avenida Profª Escolástica Maria de Jesus, próximo ao Mercatau. A rede estava fechada com uma placa de aço e não tinha ligação com nenhuma caixa de entrada, sem auxiliar a saída das águas pluviais", afirmou a Prefeitura.

"A atual gestão construiu a continuação dessa rede e instalou mais 90 metros de aduelas de concreto, além de mudar as caixas de entrada das galerias de águas pluviais e interligá-la a uma caixa central. Atualmente a linha, que se inicia próximo a Via Dutra e segue até a rotatória do Residencial Paraíso, está funcionando normalmente. É importante destacar que essa construção é uma rede de galerias de águas pluviais e não um piscinão", concluiu a administração municipal.

Recuo.

Confrontada com as informações repassadas pela Prefeitura, a campanha de Ortiz admitiu que a obra no local não foi concluída. "As obras destinadas a contenção de enchentes nesta região foram compostas de duas frentes, que seriam executadas em duas etapas: 1) substituição da galeria existente por aduelas ampliadas, com sete metros de profundidade e cerca de 1,5 km de extensão, entre a Dutra e a linha de alta tensão; e 2) construção das bacias de contenções ligadas às aduelas. A primeira parte foi integralmente concluída e a segunda restou pendente de acordo com a concessionária de energia".

A campanha de Ortiz admitiu ainda que a obra do piscinão era necessária para impedir as enchentes na Avenida do Povo. "A segunda etapa das intervenções refere-se a bacias de contenção sob a linha de transmissão (obra necessária para eliminar o alagamento na Avenida do Povo), que não foram levadas adiante por causa de falta de acordo com a concessionária, já que, em 2020, a gestão Ortiz Junior decidiu concentrar recursos e esforços no enfrentamento da pandemia, a fim de salvar vidas e priorizar os cuidados de saúde da população de Taubaté".

A campanha do ex-prefeito negou que a rede de galerias de águas pluviais tenha sido deixada inacabada, e alegou que a estrutura ajudou a resolver os problemas de enchentes no Baronesa. "Os desdobramentos recentes têm demonstrado que a parte inicial – que funciona como piscinão aterrado e também tem a função de acumular água – tem se mostrado suficiente para equacionar o problema das enchentes na Escolástica Maria de Jesus, na parte alta da cidade. As redes foram todas interligadas às galerias existentes, ao contrário do que alega a atual gestão municipal".

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