ENTREVISTA

Anderson diz que 'inchaço' na rede gera fila e dá 8 para saúde

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 10 min
OVALE
Anderson Farias na redação de OVALE
Anderson Farias na redação de OVALE

O prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), disse que o sistema municipal de saúde da cidade está inchado por atender “outra São José” por conta dos pacientes vindos de outros municípios.

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Segundo ele, a cidade de 697 mil habitantes tem 1,1 milhão de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) com cartões emitidos e ativos no município.

“Ou seja, temos outra São José dos Campos sendo atendida aqui em São José. Isso é algo que precisa ser repactuado”, afirmou Anderson em entrevista exclusiva a OVALE. Veja a entrevista completa aqui.

Mesmo assim, com atrasos em consultas, exames e cirurgias, que geram reclamações da população, Anderson deu nota 8 para a saúde em São José. No entanto, ele admitiu que o setor precisa melhorar e aposta na tecnologia para reduzir a espera e ampliar o atendimento.

Na entrevista, Anderson fala sobre melhorias na saúde, uso de tecnologia e mudanças na rede municipal, além de comentar os resultados da pesquisa OVALE sobre a saúde e a gestão pública. Confira os principais trechos.

Em pesquisas recentes, feitas por OVALE, a saúde é sempre apontada como prioridade máxima do eleitor de São José. Há queixas sobre demora por horas no atendimento, consultas com especialistas, cirurgias e outros procedimentos. No primeiro trimestre, em pesquisa do jornal, o eleitor deu nota 6,97 para a saúde. Qual é seu diagnóstico, prefeito, sobre o setor da saúde? E qual é o remédio?

O diagnóstico da saúde é melhoria constante. São José tem uma situação um pouco particular quando a gente faz uma análise da saúde nos outros municípios. Somos a maior cidade do Vale do Paraíba e somos referência em atendimento. Temos 697 mil habitantes e atendemos mais de 1,1 milhão de pacientes do SUS com cartões CRA emitidos e ativos na cidade. Ou seja, temos outra São José dos Campos sendo atendida aqui em São José. Isso é algo que precisa ser repactuado.

Cabe a mim, como prefeito, repactuar isso com o governo do estado e o governo federal, para que a gente possa ter esses atendimentos de certa forma remunerados. A cidade acaba sendo referência, mas isso traz um problema do ponto de vista das especialidades, da demora, dos exames.

Hoje nós temos outro problema que é a falta de profissionais. Acabamos de fazer o maior concurso da história da prefeitura para profissionais da saúde. Médicos são 21 especialidades. Fonoaudiólogo está em falta no mercado e tivemos uma pessoa participando do concurso público. Com todas essas questões, a gente precisa ter soluções.

Qual o remédio para a saúde?

É repactuar a questão do Hospital Regional, da regionalização, juntamente com o teto MAC [Média e Alta Complexidade] do governo federal. O governo Tarcísio [de Freitas] acabou de fazer um reajuste da sua tabela SUS Paulista. Em São José também temos a tabela joseense. Então precisamos fazer com que o governo federal também repasse, para que a gente possa ter uma condição melhor de ter parcerias com os outros hospitais e até para investimento de contratação.

Hoje é um grande problema. A gente tem que ter uma rede pública da saúde com concursados, mas também tem que ter uma rede privada, através das entidades, e aqui temos o Hospital Pio 12, a Santa Casa, que são grandes parceiros para também fazer esse complemento de atendimento.

Qual é o papel da tecnologia na área da saúde?

O remédio que vejo hoje é a tecnologia. Tem que ter tecnologia na saúde para o ponto de vista do fluxo do atendimento. Se não tem uma consulta na UBS do seu bairro, naquele momento, mas eu tenho uma consulta em outro bairro, que a gente possa fazer e ofertar para esse paciente, que ele pode ter essa consulta no outro bairro.

Quando olho de forma macro a cidade, eu vejo que eu tenho demanda e tenho oferta. Então eu tenho oferta para atender a demanda, mas no final do mês eu continuo tendo demanda. Porque a gente precisa ter uma inteligência nessa questão, usar mais a tecnologia.

Vamos usar cada vez mais o WhatsApp e SMS para as informações. Por exemplo, 32% das pessoas chegam na hora do exame e não sabem o que pode ou não tomar e comer. Então a gente já está encaminhando para 80% dos pacientes, por WhatsApp e por SMS, a dieta que ele tem que ter de forma antecipada.

Consultas por telefone: 70% nós perdíamos ou 50% ligava de novo para perguntar que dia é a consulta. Hoje marcamos por telefone e a nossa perda é menos de 0,5%. De 72 mil ligações, a gente perde por mês, no máximo, 300 ligações, e a gente encaminha a informação pelo telefone. Então é uma forma de melhorar a eficiência.

Consultas na especialidade. Você vai na unidade básica e encaminha para a especialidade, e o especialista só atende se fizer os exames. Se você atrasar na consulta, perde e volta para a unidade básica de saúde. Já estamos trabalhando para que isso não aconteça. Se perdeu, por alguma razão, por algum compromisso, vamos remarcar para não fazer com que volte para a unidade básica. Vamos remarcar uma próxima. Se for paciente contumaz, que falta várias vezes, aí não tem interesse em querer essa consulta.

E trabalhar cada vez mais na educação. Temos em média em São José 25% dos pacientes faltando em sua consulta. Esse é um número muito alto, é média da cidade, nós estamos falando de 42 unidades básicas de saúde.

Então precisamos trabalhar também para que a gente possa melhorar ainda mais essa questão. Hoje nós temos pelo aplicativo e você pode cancelar a sua consulta. Cancelando a consulta, isso nos ajuda a remarcar e colocar outra pessoa no lugar. São várias ações que a gente pode fazer e melhorar, trazer inteligência, tecnologia e integração.

Um bom exemplo que temos em São José, com as suas características completamente diferenciadas, é a segurança pública, com integração, sistema e inteligência. Na saúde nós temos bons profissionais. A reclamação não é da porta para dentro, como eu costumo dizer, enfermeiro, médico, atendimento, cirurgia realizada, nosso Hospital Municipal é o quinto maior hospital do Estado de São Paulo em pequenas e médias cirurgias, de média e alta complexidade. O quinto maior em relação a cirurgias. É o maior hospital da região do Vale do Paraíba. É um hospital municipal.

Aliás, somos a única cidade que não é capital que tem um hospital municipal de alta complexidade, para trauma, emergência e urgência. Helicóptero Águia, em acidente de trânsito, pode ser numa rodovia fora de São José e o Hospital Regional tem heliponto, e pousa no campo de futebol do Teatrão para levar para a Vila. Nós somos uma referência e o atendimento é ter atendimento, que salva a vida.

Questão de tratamento de câncer oncológico. O Ministério da Saúde preconiza de 70 a 80 dias para o atendimento, aqui a gente atende em 40 a 55 dias, já está na rede fazendo tratamento após o seu diagnóstico.

Então, a gente tem ainda muito para fazer, mas precisamos mudar a política do SUS na questão da repactuação. A UPA de Eugênio de Melo atende 25% de moradores de Caçapava. Durante a dengue, no início deste ano, atendemos no Clínicas Sul 2.000 moradores de Jacareí, só no nosso Hospital Clínica Sul. Então isso sobrecarrega o nosso sistema de saúde em São José dos Campos.

O sr. concorda com essa nota 6,97 para a saúde. Que nota o senhor dá para a saúde?

Hoje eu daria uma nota 8 para a saúde aqui em São José dos Campos. E eu sou sempre da seguinte opinião: o que está bom pode melhorar, e nós temos fragilidade na saúde também. Então a gente precisa achar esses remédios, seja no investimento em tecnologia, com inteligência na saúde, para que a gente possa trabalhar dando cada vez mais em prédios e estrutura, dando condição.

O Hospital Clínica Sul está em reforma, construção de 82 novos leitos, estamos construindo três salas de cirurgia. Clínicas Sul não faz nenhuma cirurgia, nem pequenas cirurgias, transfere tudo para o Hospital Municipal. Quando as obras estiverem prontas já vai fazer pequenas cirurgias, isso vai ajudar as transferências.

Trabalho e estudo também para que as nossas UPAs possam fazer atendimento de pequenas cirurgias, aquela cirurgia rápida que o paciente não precisa nem ficar internado, de baixa complexidade e já tem alta. Para que a gente dê essa agilidade nos atendimentos, nos procedimentos. São José dos Campos tem uma estrutura de unidades básicas de saúde, de unidades de pronto de atendimento, os nossos hospitais, para que a gente possa ter uma melhora no fluxo do atendimento, mas repactuando até por uma questão de custo.

No Hospital Municipal, em alguns momentos, a gente chega a ter 50 a 55 pessoas em alguns picos de pessoas de fora de São José internadas no Hospital Municipal, e em algumas vezes eu tenho um joseense no corredor, esperando um leito. A gente precisa reorganizar essa situação principalmente em pico, como aconteceu agora com a dengue.

A cidade não recebe por atender esses pacientes de fora?

Não recebemos por esses pacientes, só a cidade de origem que recebe. Precisamos ter um recadastramento. Nós começamos a fazer esse recadastramento em 2020, mas aí chegou a pandemia e suspendemos o recadastramento. Isso é algo que precisa ser refeito, um recadastramento nas unidades de saúde. Eu gostaria muito que se for alugar uma casa, comprar uma casa, ligar uma luz ou água de uma casa, deveria ter o cadastro na unidade de saúde, para a unidade de saúde saber quem são as pessoas. Não quero saber quem é a pessoa CPF. Só homem ou mulher e a idade. Com isso você consegue planejar o seu tratamento, que é o seu tratamento preventivo.

No Brasil e em São José não é diferente, a gente atende mais nas UPAs do que nas UBSs, por isso que hoje estamos fazendo as UPAs de microrregiões. A UPA da Norte é responsável pelas quatro UBSs do seu entorno. Se ela conseguir fazer com que diminua o atendimento na UPA e passe a atender mais na UBS. Menos cardíacos e infartados aqui e tratando lá na unidade básica. Por cultura, as mulheres tratam mais a saúde preventiva. Homem é só quando aperta e ele vai para a UPA, que já está na urgência e emergência. Temos que trabalhar essa questão de educação e fazer com que nossas UBSs sejam mais pró-ativas, para que possamos cuidar melhor da microrregião.

Hoje a UPA Norte e Campo dos Alemães iniciando o seu novo contrato de gestão são responsáveis: se você atende menos na UPA e melhora o seu paciente de forma preventiva, você recebe mais, você tem menos custos na saúde e custa muito menos para nós.

Prefeito, a pesquisa OVALE publicada no início do mês aponta que a sua gestão é aprovada por 73,1% dos eleitores e reprovada por 21,9%. Já 5% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder. Como avalia esse resultado?

Fico contente e feliz em saber que estamos na direção certa. Quando a gente tem uma aprovação dessa, com 73% da administração, e a gente sabe da capilaridade que a administração pública tem hoje em dia, com as suas áreas muito específicas, seja saúde, segurança pública, um debate muito delicado.

A mobilidade urbana a cada dia mais na vida das pessoas. As pessoas querendo que o seu dia tenha mais horas, mas na verdade a gente precisa proporcionar é que essas pessoas possam se deslocar de forma mais rápida e segura.

São várias ações e fico superfeliz. Agradeço a todos os joseenses que aqui nasceram, que aqui escolheram, aqueles que aqui vieram formar suas famílias, que vieram para cá também se desenvolver profissionalmente.

Isso dá mais responsabilidade para mim quando tem uma avaliação dessa, para que a gente realmente possa continuar melhorando ainda mais, na eficiência do serviço público. Acho que esse é um grande desafio que o poder público tem daqui pra frente.

Comentários

3 Comentários

  • Claudia 07/07/2024
    Realmente SJC atende pacientes vindo de outras cidades, hospital Municipal da Vila Industrial, Parque Industrial com muitas pessoas de Jacarei ,Taubaté, com isso fazendo o cidadão de SJC não tem um serviço de qualidade e rapidez no atendimento. SJC deveria deixar claro que o atendimento somente a pessoas residente em SJC ,já que pagamos nossos impostos para a cidade ou cobraria da cidades vizinhas o valores gastos com essas pessoas.
  • Pedro Luís de Souza Morais 07/07/2024
    Excelente!! As melhorias só começam, à partir do momento em que são identificadas as falhas e assumidas. E já sinalizando buscas em soluções. Jamais ficar minimizando os problemas que são muitos e desdenhando de críticas construtivas. O Prefeito citou a mobilidade, solicito por gentileza que ele peça uma melhora no aplicativo das Bikes, a nota do aplicativo é péssima e o serviço a se prestar é mal explicado.........
  • Jeferson 07/07/2024
    A verdade é que precisamos de uma reestruturação na rede de saúde do Vale do Paraíba, descentralizando o atendimento em São José e Taubaté, investindo em outras cidades. Não tem cabimento uma cidade com 240 mil habitantes, como é o caso de Jacareí, não ter um único equipamento de saúde operado pelo governo estadual. Quando se deixa uma cidade como Jacareí sem estrutura, automaticamente vai sobrecarregar São José dos Campos e Taubaté. Inclusive, na semana passada, Felício deu entrevista na Rádio Mensagem de Jacareí, sinalizando que o Estado não vai atender o pedido da população de Jacareí quanto a implantação de um AME na cidade, dizendo que há capacidade ociosa no AME de São José. Onde, se há procedimentos no AME SJC com fila de espera superior há 9 meses? E temos, apenas em Jacareí, 20 mil moradores aguardando consultas, exames e cirurgias eletivas. Há mais de 10 anos se pede a implantação de uma unidade da Rede Lucy Montoro em Lorena, para atender o Vale Histórico e o governo estadual não atende essa demanda. E a unidade Lucy Montoro de Taubaté já nasceu sobrecarregada. Somente de Jacareí, tem 800 pacientes aguardando atendimento em especialidade auditiva. Não tem estrutura de urgência neonatal no Litoral Norte, o que força transferências para São José dos Campos e Jacareí. Será que não se deveria avaliar também transformar o Hospital São Francisco de Assis, em Jacareí, em um hospital estadual de portas abertas? Ele já opera dessa forma, principalmente para atender a demanda do Litoral Norte, mas não recebe recursos adequados para isso. O Prefeito Anderson tem razão em falar na necessidade de repactuação. Só que o ponto central é na ampliação da estrutura de atendimento no Vale do Paraíba, tirando a demanda externa ou amenizando a pressão sob São José e Taubaté.