ARTIGO

Precisa da sua vida?

Por Rodrigo Casagrande | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
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Rodrigo Casagrande
Rodrigo Casagrande

Uma pergunta tem me habitado desde que a ouvi, num ato falho, do recepcionista de um hotel onde fiquei hospedado no campus da Unicamp. Na ocasião eu e Zenilda Lua, fomos participar de um Congresso de Psiquiatria e Psicanálise, organizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade.

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Com o check-out feito, e validando o conceito de repetição em Freud, o recepcionista faz a comum pergunta ao realizar um pagamento via máquina de crédito/débito: Precisa da sua Via? E nos presenteia, como numa cena pós-créditos, que nos amarra para o além da sessão, como num corte Lacaniano, de um “Precisa da sua Vida? ”, precedida instantaneamente pela Zenilda, com um “Oxi, claro que sim”, num sotoque arretado de quem chegou da Paraíba ontem.

Como a esfinge lançando o “decifra-me ou te devoro”, retornei do Congresso com essa questão: Pra que eu preciso da minha vida?

Vou tentar, assim,  decifrá-la pelo caminho da Psicanálise e pela minha subjetividade.

Pela perspectiva de objeto, assim como um copo, que seu sentido é acomodar e reter líquidos em sua área útil, o sentido e a necessidade da vida é o de se manter vivo e útil pelo maior tempo possível. Dessa forma o sentido da vida está na própria vida.

Achar que vida de qualquer um é importante para o mundo, é no mínimo uma percepção narcisista. Assim como somos constituídos, há hoje em torno de 8 bilhões de pessoas habitando este planeta.

Caminho então para a hipótese que eu posso ser útil para um recorte de mundo, para minha comunidade, família, filho, amigos, assim, aparentemente melhorou, há uma utilidade maior, e assim faz mais sentido.

O nó maior se dá, pelo fato de, quando adquirimos algo ela se dá pelo nosso desejo, sonho, necessidade, e através de uma ação obtemos o objeto desejado, e assim, realizamos nossa experiência, se foi bom, ruim ou indiferente, assim elaboramos.

Mas a vida, ela antecede, não tivemos a oportunidade de desejá-la, a ganhamos, e as pessos que tiveram funções maternas ou paternas, até onde se é permitido, escolheram e decidiram tudo para nós: nome, sobrenome, time de futebol, roupas, amizades, religião. 

Estamos aqui, nascidos num mundo tendo que viver, dentro das regras, contratos sociais e as leis vigentes. Suas pulsões enquanto sujeito, precisam estar relacionadas aos conjuntos de normas estabelecidas pela sociedade, que se organizou através dos séculos, para legitimar aquilo que é bom ou ruim para a existência daquele grupo, de acordo com os valores anteriormente classificados no senso comum. E o esforço para se deslocar desses processos costumam resultar em dúvidas, angústias, conflitos, traumas, sintomas.

Penso, que a vida começou sem você pudesse a desejar, e provavelmente, irá se findar sem que você também deseje, e mesmo que você ainda não tenha a resposta sobre você precisar da sua vida, o filósofo Francês Jean-Paul Sarte nos ajuda quando ele diz que “temos notícias de nós pelos outros” A busca da vida pode ser questionar, sempre o lugar onde estamos é mais adequado para exercemos nossa utilidade, e assim nossa humanidade.

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