POLÍTICA

O filme repetido da saúde de Campinas

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução

Hospitais lotados, longas esperas por atendimento, escassez de profissionais, demoras para exames básicos e estruturas degradadas ao longo do tempo. Certamente, esse é um cenário que já usei como abertura em várias reportagens ao longo dos meus 20 anos de jornalismo, acompanhando as agruras da saúde municipal em Campinas.

A área da saúde é o calcanhar de Aquiles de todos os prefeitos que comandaram a metrópole. Mesmo com ações pontuais, inaugurações de unidades e hospitais, nenhum conseguiu mudar esse triste cotidiano dos que necessitam de atendimento médico.

A sensação é ainda mais aflorada quando o gestor é um profissional da área, um médico que ocupa a prefeitura. Foi assim com Dr. Hélio, de 2004 a 2011, com Pedro Serafim, em 2012, e agora com Dário Saadi, desde 2021. Por serem 'doutores', a expectativa nessa área sobe ainda mais.

No entanto, se compararmos os relatos recentes de pacientes que aguardam horas por atendimento, sofrem com a falta de medicamentos e insumos, com o passado, chegaremos à conclusão de que estamos presos em um ciclo. Um déjà vu triste e desesperançoso.

Atualmente, a insatisfação na saúde só aumenta. As queixas dos moradores sobre os atendimentos nos Centros de Saúde (CSs) de Campinas cresceram 42% em 2023, em um setor já historicamente afetado por uma imensa quantidade de reclamações.

Para o Dr. Dário Saadi, a responsabilidade é de resolver. Vale lembrar que ele, no início da carreira política, foi presidente do Hospital Mário Gatti, principal unidade de urgência e emergência do município, que hoje passa por uma grande e necessária reforma, mas que, como tudo na gestão pública, parece não ter fim.

Um repórter que visite qualquer unidade de saúde rapidamente colherá relatos dolorosos de quem desesperadamente busca por atendimento, seja no Mário Gatti, Hospital Ouro Verde ou qualquer outro local.

Prontuário eletrônico, atendimento via vídeo conferência e agora chatbot no atendimento, de nada adiantam. A prefeitura anunciou recentemente como parte integrante das festividades dos 250 anos de Campinas a implantação de um simples de chatbot, um programa de automação de atendimento via WhatsApp. Confesso que nem sei o que dizer (ou sentir).

A saúde precisa de recursos humanos, infraestrutura adequada, condições de trabalho e atendimento, além de medicamentos e insumos disponíveis e exames realizados rapidamente. Tudo isso tem um custo, mas a população está cansada de ouvir desculpas, muitas vezes repetidas, dos administradores públicos, que, quando necessitam, recorrem ao setor privado para atendimento.

Para debaixo do tapete
O vereador Paulo Gaspar (Novo) está revoltado com o governo Dário. O protocolou no começo do mês requerimento na Câmara Municipal de Campinas solicitando a criação de uma Comissão especial de estudos da Limpeza Urbana no município de Campinas.

Segundo o vereador, o objetivo dessa comissão seria realizar um amplo estudo de todos os serviços relacionados à limpeza urbana, abrangendo desde a coleta, transporte e disposição final de resíduos sólidos urbanos, até a coleta seletiva de recicláveis, operação de ecopontos, limpeza das ruas e praças, entre outros aspectos. O intuito seria propor melhorias na política pública de limpeza urbana.

Paulo Gaspar conseguiu 12 assinaturas de apoio dos vereadores Paulo Bufalo (PSOL), Mariana Conti (PSOL), Paola Miguel (PT), Guida Calixto (PT), Cecílio Santos (PT), Gustavo Petta (PcdoB), Marcelo Silva (PSD), Luiz Cirilo (PSDB), Debora Palermo (PL), Eduardo Magoga (PODEMOS) e Major Jaime (PP). Porém, Paulo Gaspar citou que dois vereadores o procuraram desesperados para retirar as assinaturas.

Durante a última sessão ordinária, o vereador subiu à tribuna para expor o que chamou de obstrução para se criar a comissão e questionou as razões do governo querer evitar uma varredura no setor de limpeza urbana. No fim das contas, o próprio Paulo Gaspar retirou o pedido de instalação da CEE.

Mais reclamações
Não para por aí. Paulo Gaspar também está “p da vida”, tal qual a música do grupo Dominó, por outro motivo. O vereador teve um projeto para que visava aumentar a Transparência, a Eficiência e o Combate à Corrupção rejeitado pela Comissão de Legalidade na Câmara de Campinas.

O projeto que "Institui a Política de Dados Abertos na Administração Municipal" permitiria ao governo Dário tornar públicos dados e informações sobre as atividades governamentais e implementar padrões de integridade entre seus funcionários apoiando a participação dos cidadãos na tomada de decisões e na formulação de políticas públicas.

E o vereador deu nome aos bois. Em postagem pelas redes sociais, Paulo Gaspar disse que “votaram para enterrar o projeto os membros da Constileg: Jorge Schneider (PL), Nelson Hossri (PSD), Felipe Marchesi (PSB) e Carlinhos Camelô (PSB)”.

Já há quem diga que Gaspar, com a iniciativa de apontar o dedo aos colegas, sequer vai conseguir a aprovação de nome de rua no parlamento neste último ano de legislatura.

Primeira audiência pública
Sob a presidência do vereador Jorge Schneider (PL), a Comissão Permanente de Constituição e Legalidade da Câmara Municipal de Campinas conduzirá a primeira Audiência Pública de 2024, agendada para as 10 horas desta segunda-feira, dia 19 de fevereiro.

O foco da reunião será discutir o Projeto de Lei 107/2023, de autoria do Executivo, que propõe alterações na Lei Complementar 208/2018, norma que regula o Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo no Município de Campinas.

Uma das principais mudanças propostas pelo projeto, de acordo com o Executivo, é a correção da definição de área permeável. Isso inclui a remoção da restrição atual que limita a aceitação de áreas de pedrisco e areia apenas para lotes, argumentando que não há motivo para distinção entre lotes e glebas nesse caso.

Além disso, o projeto sugere que pequenas obras, com área inferior a 500 metros quadrados, fiquem isentas da obrigação de apresentar laudo de sondagem com anotação de responsabilidade técnica. Outra mudança proposta é a isenção do cálculo de coeficiente para espaços destinados a edificações de caixas d'água, casas de máquinas e espaços para barriletes.

Adeus, Dilecta
Morreu Dilecta de Brito Franco, aos 86 anos de idade. Dilecta foi esposa do jornalista Zaiman de Brito Franco e mãe de Manoel de Brito. Neste momento de despedida tão difícil, o mais profundo sentimento de solidariedade e conforto à toda a família. Que possam encontrar forças e serenidade para enfrentar essa perda, sabendo que o amor e carinho que compartilharam para sempre permanecerão em seus corações.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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