Vós sois todos irmãos e irmãs. Esse é o lema da Campanha da Fraternidade de 2024, lançada na quarta-feira de cinzas (14) pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Segundo a Bíblia, essa frase foi dita por Jesus Cristo para censurar aqueles que se serviam da religião para assegurar os seus próprios interesses, e se sentiam superiores aos demais.

O tema da campanha desse ano, “Fraternidade e Amizade Social”, foi escolhido pela CNBB ainda em 2022, ano em que o país enfrentou a eleição presidencial mais polarizada de nossa história - um ano depois, em 2023, a própria entidade foi vítima dessa intolerância, quando o tema “Fraternidade e Fome” foi apontado por extremistas de direita como um modelo de conspiração comunista, e a campanha sofreu boicote por parte de grupos conservadores.

Com o tema desse ano, no período da quaresma - que se inicia um dia após a quarta-feira de cinzas e segue até o Domingo de Ramos, que cairá no dia 24 de março -, a Igreja Católica pede que os fiéis do Brasil reflitam sobre a paz entre todos os povos, em um incentivo ao fim das inimizades sociais.

Mas esse apelo da CNBB - para que haja reconciliação nas famílias, entre amigos e na sociedade - pode esbarrar justamente no problema que busca combater. Em ano de eleições municipais por todo o país, é improvável que haja um arrefecimento nesse clima de polarização.

A redução na temperatura do debate político somente seria possível se as principais lideranças de cada lado – como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro – adotassem um discurso diferente do atual, mas por um triste motivo isso infelizmente não deve ocorrer: a polarização fortalece ambos, fechando o espaço para o surgimento de candidatos fortes em outros grupos.