OPINIÃO

Dobradinha de esquerda e uma Frente restrita

Por Flávio Paradella | especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/CMC

A executiva municipal do PSOL aprovou a disposição de reeditar a dobradinha de 2020 com o PT, rumo às próximas eleições municipais, ao indicar a disposição de compor novamente a chapa com o candidato a prefeito Pedro Tourinho.

Em 2020, a chapa encabeçada por Tourinho e Edilene Santana (PSOL) alcançou um desempenho surpreendente, considerando o cenário político histórico da década anterior, chegando a flertar com a possibilidade de um segundo turno.

Atualmente, o PT já definiu sua estratégia, optando por lançar novamente o ex-vereador, aguardando os movimentos dos aliados tradicionais, entre os quais está o PSOL. O primeiro sinal oficial de aproximação foi dado pelo partido, fundado nos anos 2000 por dissidentes do próprio Partido dos Trabalhadores, desencantados com escândalos como o mensalão e à deriva pragmática e fisiológica do governo Lula no início do século.

A intenção declarada pelo partido é formar um bloco exclusivamente de esquerda, buscando replicar a chapa de 2020 para derrotar Dario Saadi e eleger um governo de esquerda que, segundo eles, Campinas tanto necessita.

No entanto, as ambições eleitorais podem encontrar um limite na busca pela vitória. A tão defendida "Frente" pelo PSOL parece se restringir a uma aglutinação ou coligação de partidos de esquerda, não conseguindo expandir além do seu próprio espectro ideológico. A conquista de uma eleição para o executivo requer não apenas a mobilização de seu eleitorado cativo, mas também a persuasão de eleitores de centro e até mesmo de uma parte do eleitorado conservador. Sem ampliar seu alcance, a chapa corre o risco de estabelecer um teto de votos.

Outro aspecto destacado pelo PSOL é a tentativa de criar um antagonismo através da polarização política. O partido convoca sua militância e munícipes para se unirem na luta contra Dario e a "extrema direita" em Campinas. Porém, caracterizar o prefeito como "extrema direita" pode ser uma estratégia arriscada, dada a trajetória política do chefe do executivo.

A legenda afirma na nota que “A prefeitura Dário nada mais é do que a versão municipal da extrema direita paulista do governador Tarcísio de Freitas, igualmente do Republicanos e seu principal cabo eleitoral (...) uma direita que se reveste de um discurso moderno, mas que têm raízes profundas no elitismo misógino, racista conservador”. Apesar de investir em pautas conservadoras, a formação política de Dário não se alinha com ideais extremistas.

Essa tentativa de polarização pode parecer forçada e pouco eficaz diante da realidade política da cidade. Assuntos como saúde, transporte e educação têm maior relevância para os eleitores do que uma dicotomia ideológica. Embora o discurso ideológico seja importante, ele não pode ser o único foco da campanha.

Assim, fica evidente a necessidade de uma abordagem mais abrangente e centrada nas demandas reais da população para uma campanha eleitoral bem-sucedida em Campinas. O enredo político deve ser moldado de forma a engajar os eleitores em questões que impactam diretamente suas vidas e não apenas em disputas partidárias.

Decisões
Outro ponto crucial para a tão destacada "Frente de Esquerda", como apontado pelo PSOL, é a seleção do nome que comporá a chapa com Pedro Tourinho. Essa decisão precisa recair sobre uma figura conhecida, com um histórico de militância ativa e relevante no cenário político atual.

Se o partido afirma que “a esquerda de Campinas deve ter como centralidade derrotar o atual prefeito”, não vejo outra opção senão indicar a principal figura do PSOL, Mariana Conti, como a escolhida para compor a chapa.

Como a vereadora mais votada nas últimas eleições, sua indicação seria ideal e lógica, demonstrando que o partido acredita no potencial eleitoral da composição para vencer a corrida eleitoral.

A escolha de um nome desconhecido poderia gerar a percepção oposta, de que a Frente não confia no sucesso da empreitada.

Em 24 de fevereiro, o diretório municipal do PSOL se reunirá para realizar um debate político sobre os desafios apresentados neste ano eleitoral.

Celulares nas escolas
A proposta de aumentar a proibição do uso de celulares nas escolas de Campinas está ganhando força sobre o papel desses dispositivos no ambiente educacional. Em Campinas, uma lei datada de 2010 já proíbe o manuseio de celulares e aparelhos eletrônicos nas salas de aula, porém, o texto se limita à rede municipal de ensino, carece de exceções claras e não estabelece punições específicas.

Diante desse contexto, o vereador Marcelo Silva (PSD) apresentou uma emenda modificativa à lei, que visa estender a proibição também à rede privada de ensino. Além disso, a emenda propõe autorizar a utilização dos dispositivos para fins pedagógicos, reconhecendo o potencial educativo dos celulares quando utilizados de forma adequada.

No retorno das sessões ordinárias, o vereador Marcelo Silva defendeu sua proposta, especialmente enfatizando a importância da restrição para os alunos do Ensino Fundamental II, compreendidos entre os 6º e 9º anos.

Exemplo do Rio
Essa medida já entrou em vigor na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, proibindo o uso de celulares dentro das escolas, inclusive durante o intervalo entre as aulas. Essa iniciativa, que foi submetida a uma consulta pública em 2023, recebeu um amplo apoio por parte dos responsáveis pelos alunos e se alinha a medidas similares adotadas em países da Europa e em alguns estados americanos.

Novo líder do PSB
O vereador Filipe Marchesi assumiu a liderança da bancada do PSB na Câmara, uma mudança referendada pela Presidência do Legislativo.

Oficialmente, essa troca faz parte do sistema de rodízio comum às legendas com mais de um integrante, que anualmente realizam um revezamento dos nomes.

No ano de 2023, o líder de bancada era o vereador Zé Carlos, que estava sob investigação por supostas irregularidades em contratos da Câmara. Agora, Zé Carlos assume a posição de vice-líder, anteriormente ocupada pelo vereador Permínio Monteiro. Permínio Monteiro enfrenta acusações de suposta 'rachadinha' de salários de assessores indicados para cargos na prefeitura.

A bancada do PSB é composta por cinco vereadores. Além dos já citados, integram a legenda na Câmara os vereadores Carlinhos Camelô e Rubens Gás.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.


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