POLÍTICA

Combustão estilo selfie do prefeito-influencer

Por Flávio Paradella |
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/PMC
O prefeito Dário Saadi durante evento neste semana
O prefeito Dário Saadi durante evento neste semana

A alopecia do prefeito Dário Saadi (Republicanos) acelerou ainda mais estágios com a repercussão, inclusive jurídica, do uso de servidor comissionado da Prefeitura de Campinas para alimentar as redes sociais particulares do político.

Os principais adversários em outubro reagiram às informações da reportagem exclusiva do Portal Sampi do último dia 1º, que detalhou a inadequada tarefa exercida pelo funcionário em coletivas e externas com o prefeito na captação de imagens que posteriormente são usadas na edição de vídeos para promover os feitos do prefeito em seu perfil particular. Coincidentemente, Dário adotou um vídeo estilo selfie para gravar conteúdo em uma das pautas dessa segunda-feira.

O prefeito instagramável e/ou tiktoker virou alvo de uma representação no Ministério Público movida pelo Avante, que pede a abertura de um inquérito para apurar o caso. A ação, que leva o texto da reportagem na íntegra, aponta como causa para a investigação o uso indevido dos recursos públicos.

O tal servidor é pago com dinheiro dos contribuintes campineiros, cerca de R$ 11,3 mil, e o uso dele para filmar o prefeito para a rede particular é considerado como irregular por especialistas em direito.

Já aqueles que devem enfrentar Dário no pleito de outubro aproveitaram para dar uma chamuscada ainda maior na já ardente careca do chefe do executivo. O primeiro foi Pedro Tourinho (PT) que postou nas redes sociais um ‘print’ da reportagem da Sampi com a frase “Dário, sai do TikTok e vai cuidar da cidade”.

O deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania), também possível candidato à corrida pela prefeitura da metrópole, foi mais enfático e irônico afirmou que o “ato se configura como grave de infração política administrativa e reforça a prioridade do governo Dário”.

Uma frase dita a este colunista por uma fonte do primeiro escalão da prefeitura: “Esse ano não será fácil”. O Fogo pode ser na Careca do prefeito, mas os assessores já começaram a puxar os cabelos de angústia.

Pensando em outubro
A retomada das sessões ordinárias na Câmara de Campinas foi marcada por recados contudentes, reclamações contra possíveis pré-candidatos e críticas ao governo de Dário Saadi, inclusive por parte de vereadores da base aliada. Os parlamentares retornaram às reuniões nesta segunda-feira à noite para o primeiro encontro destinado a debater projetos.

Durante o pequeno expediente, segmento da sessão reservado aos discursos dos vereadores, houve um revezamento entre base e oposição, com uma sequência de 15 parlamentares ocupando o púlpito para expor suas ideias.

Neste primeiro dia, os representantes trouxeram propostas que já podem ser consideradas como plataformas de campanha. Um exemplo notável é o projeto anunciado pela vereadora Paolla Miguel (PT) para instituir a 'Tarifa Zero' no transporte municipal. Embora não seja uma proposta nova e não caiba à vereadora legislar sobre esse tema, o projeto certamente gera engajamento político, algo cada vez mais valorizado na atualidade.

Em outro discurso, Jorge Schneider (PL) defendeu o projeto que visa estabelecer a Vila Industrial como um polo turístico em Campinas. O veterano vereador, cuja base eleitoral é o mais antigo bairro operário da cidade, vê seu projeto ganhar destaque em ano eleitoral. Schneider até alfinetou o executivo ao abrir o pequeno expediente, queixando-se da falta de atenção administrativa para a região. O futuro político de Schneider é incerto, com aliados sugerindo que o veterano deseja passar o bastão político para seu filho, Nick Schneider, que tem marcado presença em reuniões, inaugurações e eventos, além de manter uma forte presença nas redes sociais.

Outro veterano que usou a tribuna para direcionar críticas ao governo municipal foi o ex-presidente da casa e aliado, Zé Carlos (PSB). O vereador aproveitou uma menção à "Vacina da Dengue" para alertar que se a cidade não foi contemplada pelo governo federal com o imunizante, foi porque a administração “deixou de pedir a vacina quando já estava se cogitando essa vacina da dengue. Não adianta colocar nas costas dos outros uma coisa que é nossa.” É relevante lembrar que o prefeito Dário Saadi (Republicanos) tem utilizado suas redes sociais com frequência para criticar o governo federal por deixar Campinas fora da lista de envio da vacina.

O vereador Gustavo Petta (PcdoB) também se destacou ao realizar ataques ao governo de Dário e ao abordar a situação caótica do atendimento à saúde nas unidades de Campinas, o fracasso da gestão municipal em conduzir a licitação dos transportes e a superlotação das escolas municipais neste início do ano letivo.

As palavras de Petta encontraram eco em Edison Ribeiro (União), vereador da base, que utilizou a tribuna para discursar de maneira peculiar, marca registrada sua, ao criticar as ausências de profissionais no atendimento à população. Ribeiro também aproveitou para atacar possíveis concorrentes a uma cadeira no legislativo, acusando-os de usar indicações parlamentares para fins eleitorais. Como bem sabemos, faz parte do jogo político.

Com a retomada das sessões, fica evidente que os vereadores estão focados não apenas em discutir projetos, mas também em posicionar-se estrategicamente para as eleições que se aproximam. O palco está montado para um ano político intenso e com cada vereador pensando naquele primeiro domingo de outubro.

Pauta votada
Na primeira Reunião Ordinária do ano, os vereadores de Campinas aprovaram por unanimidade um Projeto de Lei de autoria do Executivo para conceder benefícios de licença e abono às servidoras e empregadas públicas da Prefeitura Municipal de Campinas que se encontram em situação de violência doméstica, familiar e contra a mulher. Essa iniciativa faz parte de um conjunto de medidas propostas pela Prefeitura para fortalecer a rede de proteção à mulher na cidade.  Entretanto, para que o Projeto de Lei se torne efetivamente lei, ele ainda precisa retornar ao Plenário para ser submetido a uma votação definitiva.

Os vereadores também deliberaram e aprovaram em definitivo outros dois Projetos de Lei de autoria do Executivo. O primeiro deles visa abrir cinco cargos de auditor de controle interno, com o propósito de suprir a defasagem existente nessa função na Administração Pública Municipal. Já o segundo projeto cria 420 cargos de agente administrativo, que serão preenchidos por meio de concurso público. Essa medida, segundo o Executivo, visa suprir a carência no atual quadro de servidores municipais.

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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