HÉLCIO COSTA

Que tal deixar os moradores do Banhado em paz?

Prefeitura poderia estabelecer uma resolução de Ano Novo que trouxesse paz ao local; afinal, não pode haver cidadãos de primeiro e de segunda classe em uma metrópole como São José

Por Hélcio Costa | 06/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Jornalista

Muita gente usa dezembro para traçar resoluções de Ano Novo.

Isto é, elaborar uma lista de compromissos para o futuro em busca de mudanças ou de uma vida melhor.  A lista, claro, varia de pessoa a pessoa: começar uma dieta após as extravagâncias da passagem de ano, parar de fumar, ter uma vida mais saudável, mudar de emprego, gastar menos. Boa parte da lista evapora no início de janeiro. É natural: mais do que cumprir resoluções de Ano Novo, o bom é fazê-las, até como uma reflexão sobre a vida, nossos desafios, o que nos deixa felizes, o que precisamos mudar. Você, leitor, já fez a sua?

Cuidado com o que colocar nela ...

Veja o caso do prefeito Anderson Farias: de tanto tentar, recebeu de presente de Natal a decisão do Tribunal de Justiça do Estado liberando a desocupação da área do Banhado, com uso de força policial, se necessário. Mais que presente, uma "batata quente". Mexer como Banhado na véspera de Natal? Precavido, Anderson avisou, de antemão, que nada seria feito no período de Festas. Melhor para ele, que evitou dor de cabeça em plena ceia de Natal. Melhor para os moradores do Jardim Nova Esperança, que ganharam tempo para que decisão do TJ fosse derrubada pelo STF, graças ao ministro Alexandre de Moraes. “Xandão” devolveu lógica ao caso. Afinal, que decisão fora do esquadro fora tomada pelo Tribunal de Justiça. Em audiência on-line, os desembargadores Luís Fernando Nishi e Miguel Petroni Neto decidiram pela remoção imediata das famílias alegando riscos ao meio ambiente. Olha, se fosse assim, o Banhado já seria um deserto: algumas famílias estão lá há 70 anos, bem antes da criação do Parque do Banhado, razão alegada pela prefeitura para toda celeuma. Pior: a decisão do TJ fez o clima esquentar no Banhado pouco antes do Natal, com um confronto entre moradores e PM. Precisava disso?

Bem que Anderson poderia estabelecer, como resolução de Ano Novo, deixar os moradores do Banhado em paz. Ou melhor, trabalhar por eles.

Afinal, o caminho para esse impasse em relação ao Banhado foi dado pela Justiça de São José dos Campos, em sentença da juíza Laís Helena de Carvalho. Qual é? A regularização da área. É simples, sem traumas. Esse seria um "presentão" para a cidade em 2024. Pode não render votos para Anderson, que está de olho no eleitor conservador, mas é o correto. Que tal, prefeito, fazer um pacto geral para resolver a questão da criminalidade e do tráfico de drogas naquela região? Esse é o problema real do Banhado e, até agora, o poder público tem fracassado nessa seara. Mas não é só: que tal devolver à comunidade do Banhado, prefeito, a infraestrutura urbana à qual ela já teve acesso, anos atrás? Isso é cidadania e faz bem. E cidadania serve de escudo contra a ação do crime organizado.

Frente ao poder público não pode haver cidadãos de primeira e de segunda classe. Que tal São José dos Campos ter um resolução de Ano Novo sobre isso? Artigo 1 da resolução: o morador do Nova Esperança tem o mesmo direito do morador do Esplanada do Sol. Afinal, mesmo com CEP diferentes, eles dividem a mesma geografia. Artigo 2: revogam-se todas as disposições em contrário.

Feliz 2024, segue o baile ...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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7 COMENTÁRIOS

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  • Fernando
    11/01/2024
    Hélio, estava a começar concordando. Mas, refletindo um pouco e lembrando do Pinheirinho e outras invasões de terrenos não posso terminar concordando com vc. Não se trata apenas de uma questão ecológica e sim de uma questão de preservação da ordem pública. Alegar que o crime de tráfico iria se extinguir pelas suas propostas é apostar na inocência de uma visão romântica do comportamento social. A prefeitura tem proposto soluções para a remoção em condições dignas e muito favoráveis e isso é um ônus que todos pagam para resolver uma questão social, ecológica e criminal. Esse \'passar pano\' alegando que não se pode ter essa divisão de classes é apenas um discurso semântico o qual tem um mofo que já de há muito \'não cola\'. Em resumo : permitir a ocupação é estimular novas e maiores invasões de terrenos.
  • Laurence Benatti
    09/01/2024
    Por que? Trabalharam, pagaram pela terra, se esforçaram para obter este bem material? Aquí no Brasil é muito fácil! Rouba, mata, estupra, furta e depois tem a saidinha. Toma conta de um pedaço de terra que não é seu e sai fazendo baderna pelas ruas... Até uns engraçadinhos se doerem de pena.
  • Cris Valeria
    08/01/2024
    Boas perguntas!! Seria muito bom que o prefeito viesse a público respondê-las. Responde, @prefeito!!
  • patricia costa
    08/01/2024
    Nesta questão, alguém capaz de forma opinião, com muita sensatez... a história acumulada diz que, realmente, quem manteve a geografia dividida ambientalmente de pé foi, e é, a presença dos moradores do Banhado, há décadas. Parabéns pelo bom senso.
  • César Pope
    07/01/2024
    Se até um conservador com o Hélio Costa e muitos outros, sensatos e democratas da direita, entendem que a melhor solução para o Banhado seria a manutenção dos moradores na área e integração deles nas políticas públicas, é porque o prefeito está muito equivocado ou mal intencionado. O povo habita o Banhado há muitos anos e merecem respeito. O melhor seria desenvolver naquela área um projeto socioambiental com a integração e capacitação dos moradores para a participação em atividades ecológicas e lúdicas, com geração de renda e oportunidades de crescimento humano. Talvez estas ideias sejam muito modernas que só na Europa dariam certo, mas não é verdade. São José dos Campos é uma cidade tecnológica, com cultura suficiente para projetos de primeiro mundo. O problema é a mentalidade de certos políticos e de grande parte da população, que, por exemplo optou pelo fascista bozonaro em vez dos democratas Haddad ou Lula. Isso tem que mudar senão a cidade não muda. Ótimo 2024 para Sanja City.
  • Henrique Scalet
    07/01/2024
    Texto impecável. Isso que é visão humanitária. Isso que seria governar pra todos. Uma cidade inteligente, assim seria bom morar em São José independente de classe social. Hélcio foi cirúrgico. Pena que o prefeito governa de forma eleitoreira e tirana.
  • Jose Tadeu Gobbi
    06/01/2024
    O poder público e sempre muito feroz contra os mais humildes. Afinal ele existe para isto.