ENTREVISTA

A OVALE, Dário faz balanço dos mil dias: ‘Fazemos obras para ajudar a vida das pessoas’

Prefeito fala dos desafios, das conquistas e da política; conversa abre série de OVALE com entrevistas de prefeitos da RMVale e da RM Campinas; VEJA VÍDEO da entrevista

Por Xandu Alves | 30/09/2023 | Tempo de leitura: 14 min
Campinas

Naiara Oliveira / OVALE

Dário Saadi: 'Quero fazer um governo de excelência para a cidade de Campinas'
Dário Saadi: 'Quero fazer um governo de excelência para a cidade de Campinas'

O desafio dos 1.000 dias.

Sob um intenso calor que depois virou uma tempestade, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), 60 anos, recebeu a reportagem de OVALE em seu amplo gabinete, no frondoso Palácio dos Jequitibás, para um balanço dos 1.000 dias de governo.

A entrevista exclusiva abre a série que o jornal fará com mandatários do Vale do Paraíba e da RM Campinas para prestação de contas do mandato aos moradores das principais cidades das duas regiões metropolitanas.

Sorridente e bem-humorado, Dário conversou com OVALE por quase uma hora e destacou os temas que considera suas principais conquistas do mandato, falou dos desafios que enfrentou nestes dois anos e nove meses e não fugiu das polêmicas, como a construção de casas embriões de 15 metros quadrados, caso que repercutiu negativamente em todo o país.
A OVALE, Dário afirma que faz um governo pautado em ajudar as pessoas. Confira a entrevista na íntegra:

O senhor completa 1.000 dias de governo. Que avaliação faz da gestão?

Uma gestão que teve muitos desafios. Nós enfrentamos a pior fase da pandemia, enfrentamos as chuvas do final do ano passado, começo desse ano, mas temos uma avaliação positiva. Nós estamos com mais de R$ 1 bilhão de obras em andamento, a cidade está passando por uma série de reconstruções e recapeamentos e obras que vão melhorar a vida das pessoas.

Qual a marca da gestão e o que ainda pretende entregar no mandato?

Nós temos a marca de um enfrentamento de sucesso na pandemia e de um investimento histórico na educação infantil, com a construção de 16 creches ao mesmo tempo, com capacidade de 5.000 vagas.

A concorrência do transporte coletivo em Campinas não recebeu proposta. Quais providências serão tomadas para atrair interessados para a licitação?

Essa questão é muito frequente na cidade de São José dos Campos também, com três ou quatro vezes de licitações desertas, por coincidência. Mas aqui nós retomamos o processo. Vamos fazer uma consulta pública nos próximos dias para opiniões da sociedade civil, universidades, Ministério Público, das empresas, do Tribunal de Contas em relação ao nosso edital, e vamos republicar.

O sistema de transporte precisa ser repensado para se tornar mais atrativo do ponto de vista econômico?

O financiamento do transporte nas cidades mais importantes do mundo, principalmente nas cidades europeias, mesmo aqui na América Latina, como Buenos Aires, tem a participação de dinheiro dos governos federais, os chamados governos nacionais, mesmo dos estados. No Brasil fica só por conta dos municípios, essa é uma questão.

Acho que o aumento do preço dos combustíveis, acredito que o setor passa por uma certa retração do ponto de vista de lucros ou já foi mais lucrativo no passado e nós estamos partindo por uma transição da matriz energética.

Nós exigimos um percentual de ônibus elétricos, São José também tem uma exigência de ônibus elétricos, e isso pode estar causando dificuldades para os investimentos dos empresários.

Qual foi o saldo da visita que o senhor fez recentemente à China?

Foi um saldo muito positivo. Primeiro nós estivemos na cidade de Shenzhen, visitamos a prefeitura local e levei toda uma documentação sobre a lei de incentivos fiscais de Campinas, inclusive com todo o material em mandarim.

Depois visitamos lá em Shenzhen a sede da BYD e foi uma visita fantástica, para ver o produto de ônibus elétrico. A empresa tem uma unidade em Campinas, só que aqui é a fábrica de painéis fotovoltaicos e também iniciando a produção de ônibus.

Visitei também Xangai e lá conhecemos a sede da Huawei, que é uma empresa que cuida de conectividade de 5G e também apresentamos lá para empresários as leis de incentivos fiscais de Campinas.

Tem expectativa de vinda de empresas chinesas para Campinas?

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Shenzhen, que faz a interface com as empresas, gostou muito da apresentação de Campinas e vai fazer um trabalho junto às empresas chinesas para apresentar e prospectar empresas para a cidade.

Tivemos também a participação do cônsul-geral do Brasil em Cantão, Alan Séllos, que vai fazer um trabalho de captação de investimentos para Campinas, não só em Shenzhen, mas em todas as províncias de lá.

A região de Campinas lidera em investimentos no estado, com forte participação da cidade de Campinas. Como senhor avalia essa posição? Novos investimentos vão chegar até o final do seu mandato?

Olha, é uma alegria muito grande de Campinas liderar a recepção de investimentos no estado de São Paulo, a região de Campinas. Nós fizemos um trabalho muito importante durante a pandemia, que foi o PAES, o Programa de Ativação Econômica e Social, com mais de 20 mudanças legais, 20 projetos de leis aprovados, inclusive a lei de incentivos fiscais e outras iniciativas, que colaboraram muito para esse ambiente mais favorável para o investimento.

É claro que esses investimentos não são só da cidade de Campinas, compõem toda a região de Campinas, mas é uma alegria muito grande. A expectativa é que Campinas continue liderando os investimentos no estado de São Paulo.

Nesta viagem à China, o senhor esteve acompanhado do prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias. Como é a relação do senhor com São José? Há possibilidade de parcerias?

Teremos parcerias. Eu fui conhecendo mais de perto o prefeito Anderson, uma pessoa fantástica, um gestor capacitado. Além de conhecer como pessoa, que é uma pessoa admirável, fantástica, nós ficamos de trocar experiências.

São José tem algumas iniciativas que estão fazendo que eu já demonstrei interesse para a cidade de Campinas conhecer. São José fez a concessão, se não me engano, de um estádio, São José fez algumas ações importantes e que nós vamos ter aí uma troca de experiências importantes.

São duas cidades que são vocacionadas para a inovação, para tecnologia e acho que nós temos muito que trocar experiências e crescer juntos.

O senhor pretende fazer de Campinas um polo de tecnologia maior do que já é?

Nós temos o Sirius e agora o Orion. O laboratório de luz síncrotron [Sirius] é um dos quatro de quarta geração de acelerador de partículas, é uma coisa fantástica. E nós recebemos agora uma notícia de investimento de mais de R$ 800 milhões na ampliação do projeto Sirius e de R$ 1 bilhão de investimentos no projeto Orion.

O Orion é um laboratório de biossegurança de quarta geração, nível 4. Esse laboratório pode fazer pesquisas com vírus de alta periculosidade, vírus que só laboratórios desse padrão podem ter, que mostra um avanço tecnológico importante.

E a nossa grande aposta é no Distrito de Inovação, que fica próximo ao Barão Geraldo, que já está indo para a Câmara o projeto de lei. Vamos ter lá uma área de 17 milhões de metros quadrados vocacionada para tecnologia e desenvolvimento sustentável.

No trânsito, os acidentes matam até 4 vezes mais do que os homicídios na região de Campinas. Na cidade de Campinas, as mortes em acidentes aumentaram 16% durante a gestão do senhor. O que fazer para reduzir as mortes, especialmente a de motociclistas?

Na verdade, nós temos várias ações que estão sendo empreendidas. Parece que nesse primeiro semestre, comparado com o primeiro semestre do ano passado, nós reduzimos as mortes (-0,15%), e é um trabalho contínuo.

Nós temos feito ações, inclusive, na avenida John Boyd Dunlop. Fizemos ações específicas na John Boyd Dunlop. A Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) tem feito operações constantes para tentar reduzir os acidentes. O que acontece é que a cidade tem um número muito alto de veículos comparado à população, muito alto de motos também. Agora, é um trabalho, um esforço imenso e uma das principais preocupações do nosso governo.

O senhor lançou um programa de redução de acidentes?

Tem um programa específico para a segurança do trânsito em Campinas, focado, inclusive, nos motociclistas [Plano de Segurança Viária, aberto para consulta pública na quinta-feira, 28 de setembro].

Como está até o projeto do Novo Centro? Quais as expectativas até o final do mandato?

Nós estamos na fase final da obra da Campos Salles. Vamos lançar, nos próximos dias, o início das obras da Zé Paulino. O Mercadão Municipal já está em obras avançadas e temos outras intervenções. Já estamos em vigor a lei que dá incentivos para reformas dos imóveis no centro e enviamos para a Câmara Municipal a lei que dá benefícios fiscais, principalmente de ISS, para empresas se instalarem no centro. E empresas já instaladas.

Essa lei está em análise na Câmara, deve ser aprovada até o final do ano. No ano que vem, além da lei de incentivo de IPTU para reformas dos prédios, que já tem muitos interessados, nós teremos também incentivos fiscais.

O pátio ferroviário entra no projeto Novo Centro?

Sim, ele entra no projeto. Nós já estamos avançando com a cessão final do governo federal para o município. Já está na fase final dos projetos para licitar a urbanização e o paisagismo da área que fica da Estação Cultura até o Prédio do Relógio, que também já está finalizado. A primeira parte do restauro ficou um prédio fantástico.

O BNDES aprovou o financiamento para o Trem Intercidades de Campinas a São Paulo. Qual a importância do projeto para a cidade?

Nós estivemos ontem com o secretário Rafael Benini, que é o secretário de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo. O secretário disse que com esse financiamento de R$ 6,4 bilhões do BNDES há possibilidade real de publicação do edital nos dois primeiros meses de 2024, com interessados em operar o sistema.

A obra deve ficar pronta num eventual segundo mandato do senhor?

Não, não, não. É uma obra muito grande. É uma obra grande. A previsão é de início das operações em 2029 e 2030.

Em Campinas, o Trem Intercidades vai chegar ali no pátio ferroviário?

Sim, vai. O Trem Intercidades vai chegar naquele pátio.

E o Trem-Bala? Acredita que o projeto tenha viabilidade, mesmo excluindo Campinas?

Não, na verdade, o trem-bala ainda é um estudo. É uma possibilidade. O que achei ser importante é que em qualquer estudo tem que incluir Campinas. É nesse sentido que eu falei. Independente se for um estudo preliminar, é importante que tenha o estudo de Campinas. É um projeto muito ambicioso. Acho que é um projeto a médio e longo prazo. Mesmo se for na fase de estudos, na fase de prospecção, é importante que Campinas seja incluído nesses estudos.

Aliás, o projeto inicial não previa a ligação de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro?

Isso, isso. É que o transporte ferroviário, seja ele o mais tradicional, como é o trem intercidades, ou um trem de alta velocidade, como nós sonharíamos, é muito caro. São projetos que demandam investimentos bilionários, às vezes.

E são projetos que têm que ter um aporte do governo imenso. Só no trem intercidades, no trecho Campinas-São Paulo, o BNDES deve entrar com R$ 6,4 bilhões, o governo do estado com mais uns 2 a 3 bilhões e o parceiro privado o restante, uns 2 a 3 bilhões.

Vou falar assim, grosso modo: o transporte ferroviário é fantástico, nós defendemos, mas depende de investimentos públicos vultuosos, senão não para de pé. É o que acontece no mundo inteiro, não é só no Brasil.

Qual o maior gargalo da saúde e o que já foi feito nessa área, que é a principal preocupação dos cidadãos?

Em relação à saúde, é um grande desafio. Nós temos as filas de especialidades que foram mais impactadas durante a pandemia. Nós ficamos dois anos tratando da pandemia e tivemos que suspender procedimentos, suspender consultas de especialidades, mas avançamos bastante.

Nós entregamos o Mário Gattinho, que é o primeiro hospital público pediátrico da cidade de Campinas, que está funcionando 100%, fantástico. Nós estamos com a telemedicina disponibilizada na cidade e com acesso nas 67 unidades de saúde. Então, do ponto de vista da saúde, apesar dos desafios, nós estamos avançando bastante.

Até o final do mandato, nós vamos entregar o Hospital da Mulher, que está sendo construído ao lado do Mário Gatti, próximo ao Mário Gattinho, a reforma do pronto-socorro do Mário Gatti, tudo isso nós estamos caminhando muito bem.

O Ministério Público abriu uma investigação em maio deste ano para apurar mortes de bebês em maternidade de Campinas, que tinha convênio com a prefeitura. O que foi feito nesse caso?

A maternidade é privada e não é municipal. Ela tem convênio com a Unimed, com a prefeitura que, junto com a maternidade e o Ministério Público, assinaram um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] que está sendo cumprido pela maternidade nesse sentido. A prefeitura tem convênio com a maternidade, como os principais planos de saúde aqui em Campinas também têm convênio. Então isso está caminhando através de um TAC que foi assinado.

Depois da polêmica dos embriões de 15 metros quadrados do Residencial Mandela, a prefeitura anunciou ampliações. Elas vão começar quando e de que maneira?

Elas já começaram com o financiamento da prefeitura através do Fundap [Fundo de Apoio à População de Sub-habitação Urbana]. Foi uma polêmica, para mim, extremamente desnecessária, mas, por falta de conhecimento do Presidente da República, porque essas ações e esse financiamento desses embriões foram resultado de um acordo com a justiça, que fez a reintegração de posse de uma área onde essas famílias estavam.

Então, para a prefeitura, foi uma ação importante. As próprias famílias e os representantes do Residencial Mandela ficaram totalmente do lado da prefeitura, defenderam as ações da prefeitura. Então, já está em fase de ampliação dos embriões.

E outras ocupações, outras áreas de baixa renda?

Nós estamos atuando muito na regularização fundiária. Já passamos de 6.000 escrituras entregues durante o meu mandato, um recorde absoluto, que ajuda muito, não só na segurança das famílias, mas na urbanização dessas regiões, que é um trabalho que cuida muito bem de habitação popular.

E também fizemos já dois leilões aqui no feirão da Casa Paulista. A cidade de Campinas foi pioneira nessa ação na habitação popular. O que é o feirão da Casa Paulista? Você tem o subsídio da Minha Casa Minha Vida, o governo do Estado propôs um subsídio de R$ 13 mil e a empresa, a incorporadora, a construtora para participar tem que dar mais R$ 10 mil de subsídios. E Campinas fez dois feirões desse tipo, p primeiro do Estado de São Paulo, dentro do programa da Casa Paulista, e foi sucesso. Então, a gente tem feito muitas ações e isso tem dado resultado.

Que avaliação o senhor faz do governo federal e do governo estadual até o momento?

Olha, eu acho que o governo estadual tem ido muito bem. O governador Tarcísio [de Freitas] imprimiu um ritmo muito importante na administração do Estado de São Paulo. E as perspectivas estão boas.

O governo federal tem enfrentado as questões da macroeconomia, o ajuste econômico. E se dá um tempo maior para avaliar as questões da macroeconomia do país antes de opinar do governo federal, porque a coisa mais importante que o governo federal cuida é a da economia do país.

O senhor lidera as pesquisas de intenção de votos para a eleição de 2024. Qual será a principal marca da gestão Dário Saadi quando o senhor for convencer o eleitor que merecerá a reeleição?

Eu acho que nós temos a nossa marca. É a marca de realização. São 16 creches com chance de acabar a fila histórica de Campinas de creches. São 16 bairros sendo pavimentados. Um programa de recape na cidade jamais visto. Um investimento fantástico. Temos aí R$ 1 bilhão de investimentos no total, somando esses que eu já falei. É um governo que tem feito muito para as pessoas.

Entrega de um hospital pediátrico logo no segundo ano de governo. A entrega de um Hospital da Mulher no quarto ano de governo. A implantação da telemedicina na saúde pública. É um governo que tem feito obras que possam mudar a vida das pessoas.

A telemedicina vai reduzir a fila por consulta?

Ela amplia a oferta de consultas tanto na rede básica como nas especialidades. Não é substituição. Eu sempre falo isso. Nós não estamos substituindo o médico presencial pelo médico online. Somando oferta de consultas na rede pública. E ela já começou. Nós estamos com milhares de atendimentos já sendo realizados.


PREFERÊNCIAS DE DÁRIO SAADI

Time: Corinthians

Cor: azul

Comida: mineira

Filme: Era uma vez na América

Música: Travessia de Milton Nascimento

Lugar em Campinas: Parque Taquaral

Sonho: fazer um governo de excelência para a cidade de Campinas e melhorar a qualidade de vida da população

Signo: Gêmeos

BIOGRAFIA

Dário Saadi é médico urologista, formado pela PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas). Nasceu em Pedregulho (SP) no dia 30 de maio de 1963 e tem 60 anos. Mudou-se para Campinas em 1982 para cursar Medicina. Foi secretário municipal de Esportes e Lazer de Campinas, de 2015 a 2020. Foi cinco vezes vereador em Campinas e presidente da Câmara em 2005 e 2006.

Foi presidente do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, em 1993 e 1994. Dário é pai de dois filhos, Pedro e Heitor. Em 2020 foi eleito prefeito, no segundo turno, com 222.030 votos (57%).

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