ESPAÇO

Telescópio James Webb faz primeira detecção de “molécula da vida” no espaço

Equipe internacional de cientistas usa Telescópio Espacial James Webb para detectar um novo composto de carbono no espaço; astrônomo do Inpe avalia descoberta

Por Xandu Alves | 02/07/2023 | Tempo de leitura: 2 min
São José dos Campos

Divulgação

A molécula da vida.

Assim vem sendo chamada a descoberta de um novo composto de carbono observado no espaço pela primeira vez.

Conhecida como cátion metil (CH3+), a molécula é importante porque auxilia na formação de moléculas mais complexas baseadas em carbono, que por sua vez estão associadas ao surgimento da vida.

Embora tal molécula já tivesse sido prevista em estudos teóricos, ela nunca havia sido avistada por qualquer instrumento. Ou seja, não havia evidência nenhuma da sua existência.

Quem conseguiu o feito inédito foi uma equipe de cientistas internacionais que usou o Telescópio Espacial James Webb, da Nasa (agência espacial americana), para detectar o novo composto de carbono no espaço.

A molécula CH3+ foi encontrada no disco ao redor de uma pequena estrela anã vermelha na Nebulosa de Órion, a cerca de 1.350 anos-luz da Terra -- um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros.

“A molécula observada não é parte da química que chamamos de prebiótica [estuda processos que podem ter contribuído para o surgimento do primeiro ser vivo]. Mas pode levar à formação de substâncias complexas. Ela tinha sido prevista, mas nunca tinha sido vista por qualquer outro instrumento”, disse José Williams Vilas Boas, astrônomo da Divisão de Astrofísica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

De fato, estudos publicados no início da década de 1970 já haviam previsto a importância do cátion metil para a química interestelar baseada no carbono, mas até então, ela ainda não havia sido detectada no espaço.

Os compostos de carbono formam as bases de toda a vida conhecida. Por isso, eles são particularmente interessantes para os cientistas que trabalham para entender como a vida se desenvolveu na Terra e como ela poderia se desenvolver em outras partes do nosso universo.

O estudo da química interestelar orgânica (contendo carbono), que o telescópio James Webb abre de novas maneiras, é uma área de grande fascínio para muitos astrônomos.

“O CH3 é uma molécula importante para permitir certas reações químicas que acontecem nas nuvens moleculares e que levem à formação de substâncias orgânicas complexas, que seriam importantes para o metabolismo na vida”, afirmou Vilas Boas.

Nessa descoberta, segundo o astrônomo, também se deve destacar a capacidade tecnológica do telescópio espacial James Webb para observar estruturas como a molécula CH3, em razão de ser um equipamento “de altíssima sensibilidade” e de ter “bons instrumentos para observar o infravermelho médio”.

“Provavelmente essa molécula está espalhada em várias outras nuvens que estão distribuídas pela galáxia, ocupando espaço entre as estrelas. A observada pelo Webb é conhecida como nuvem molecular do Órion. É uma das nuvens mais densas de gás molecular e poeira que se encontra mais próxima do nosso Sistema Solar. É chamada de nuvem molecular gigante.”

Segundo Vilas Boas, o espaço entre as estrelas está cheio de nuvens moleculares, que costumam ser “berçários de estrelas”.

Ou seja, a molécula observada há muitos trilhões de quilômetros da Terra pode trazer pistas valiosas sobre a origem da vida no universo.

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