ENTREVISTA

Em agenda no Vale, Alckmin critica taxa de juros e defende a reindustrialização

Vice-presidente e ministro do Desenvolvimento disse que juros altos afastam investimentos e reduzem a competitividade

Por Xandu Alves | 17/06/2023 | Tempo de leitura: 5 min
São José dos Campos

Divulgação / Victor Cônsoli

Geraldo Alckmin  na Unitau
Geraldo Alckmin na Unitau

Vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB) criticou os juros altos cobrados no Brasil durante palestra na Unitau (Universidade de Taubaté), na manhã de sexta-feira (16). Segundo ele, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a taxa básica de juros em 13,75% reduz a competitividade e afasta investimentos do país.

“Ninguém investe no Brasil com juros altos, a pessoa tem medo de quebrar. Os juros estão subindo enquanto a inflação caiu. Ou seja, os juros reais não param de subir e isso tem que mudar”, disse.

A palestra de Alckmin durou 40 minutos e abriu o segundo dia do 14º Encontro Educacional da Aimes (Associação das Instituições Municipais de Ensino Superior de São Paulo).

Durante sua fala, o ex-governador de São Paulo defendeu o presidente Lula, disse que o governo federal prepara um pacote de medidas para recuperar a indústria nacional e falou sobre investimento em saúde para a RMVale. Confira a entrevista.

 

As medidas de estímulo ao setor automobilístico, que é muito forte na RMVale, vão ajudar a recuperar a indústria?

A indústria precisa de competitividade. Tem uma solução só que é crédito o mais barato possível para ter inovação. A indústria faz a maior parte da pesquisa no mundo e está na ponta da inovação. É um recurso extremamente importante que o BNDES vai disponibilizar.

Depois, uma coisa mais específica foi o estímulo para a indústria automobilística, que interessa muito ao Vale, com suas montadoras. Elas estão com muita ociosidade. Há apoio para renovação de frota de caminhão e ônibus. Quem comprar um caminhão ou ônibus novo recebe um crédito tributário de R$ 33 mil a R$ 99 mil. É compromisso de tirar o caminhão velho das estradas, para poluir menos e aumentar a segurança. É uma renovação de frota. Cada crédito que o governo dá tira um veículo mais velho da estrada. Não é obrigação tirar, mas queremos estimular a renovação de frota.

Os carros são de R$ 2 mil a R$ 8 mil de desconto. Os carros mais populares também estão dando desconto, chegando a R$ 10 mil. São três critérios para ter esse estímulo. O primeiro é social: quanto mais barato o carro maior o desconto. O segundo é ambiental: quanto menos poluir o carro e melhor a eficiência, maior o desconto. O outro é ter mais densidade industrial, ou seja, produzir mais itens no país.


É possível recuperar a indústria sem reduzir a taxa de juros, que inviabiliza o crédito no país?

A taxa de juros está muito alta e tem que cair. Ninguém investe no Brasil com juros altos, a pessoa tem medo de quebrar. Os juros estão subindo enquanto a inflação caiu. Ou seja, os juros reais não param de subir, e isso tem que mudar.


A reforma tributária será aprovada neste ano com o Congresso reativo ao governo Lula como está demonstrando?

Está indo bem a reforma tributária e tem que ser feita neste ano. Não pode perder o primeiro ano, daí perde-se a oportunidade. Reforma estruturante que demanda PEC e emenda constitucional tem que fazer no primeiro ano de governo. Está madura a proposta e acho que tem maioria para aprová-la. O objetivo é simplificar: trocar cinco impostos por um só, reduzir o custo Brasil, estimular a exportação. Essa é uma reforma que traz eficiência econômica. Ela pode, em 15 anos, fazer crescer o PIB do país em 10%.


Essas medidas servirão para a retomada do emprego no setor automobilístico?

Esse é o objetivo. Estamos vendo uma grande ociosidade no setor automobilístico. Com os juros muito caros, as pessoas só compram à vista. Eu comprei um Fusca e depois uma Brasília lá atrás em 48 parcelas. Hoje, 70% dos carros o pagamento é à vista. Até cair a taxa de juros, e tenho certeza que vai cair, a gente está dando um estímulo para preservar o emprego.


E os empregos e a renda?

O principal fator para o país crescer é melhorar a renda. O Brasil ficou caro antes de ficar rico. Precisamos recuperar a competitividade, investindo na educação de qualidade, na inovação e reduzindo o custo Brasil. Tributamos o consumo e menos a renda e a propriedade. Por isso precisamos fazer a reforma tributária para simplificar e reduzir custo, estimulando a inovação, a exportação e a indústria nacional.

Além disso, o governo está planejando melhorar a logística do país, que é continental. Ferrovias, hidrovias, interação de modais. Também investir em acordos internacionais, como o entre o Mercosul e a União Europeia. Precisamos ampliar a exportação de produtos de alto valor agregado e competir no mundo, como faz a Embraer.

Por fim, desburocratizar o país. Temos uma herança cultural cartorial no Brasil. Vamos fazer isso em todas as cadeias produtivas, com inovação e digitalização de processos.


Foram feitos investimentos na saúde no Vale?

Você tem três tipos de apoio. Um é a tabela do SUS, que quanto mais você atende mais recebe. A outra é um aporte extra para custeio e outro para investimento. Os hospitais que têm cadastro no Ministério da Saúde têm crédito para comprar equipamento, para fazer investimento, reformar o prédio. Esse agora é um ‘plus’ mesmo, para dar o hospital fazer o que quiser. Quem estiver em dificuldade pagar dívida ou dar um reforço e atender mais. São R$ 2,4 bilhões para todos os hospitais que atendem o SUS e que não são estatais. Todas as santas casas e hospitais filantrópicos aqui o Vale receberam.


E como aumentar a competitividade?

Educação é a base de tudo e é a prioridade. Vamos ter um programa grande para fazer creches e as prefeituras podem se inscrever. A pré-escola já está praticamente universalizada. Teremos 1 milhão a mais de vagas nas escolas de tempo integral, e as cidades também devem se inscrever  no MEC. E teremos apoio ao ensino universitário. O Fiesp aumentou para R$ 70 mil o apoio semestral para Medicina, que é mais cara. Está dando apoio maior para os alunos não abandonar a faculdade.

Haverá outros programas para incentivo escolar e foram corrigidas as bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado, pós doc. Toda a prioridade é a educação. A merenda escolar estava há seis anos sem reajuste e reajustou de 28% a 39%. Todo empenho do governo na educação.

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