HÉLCIO COSTA

Todos perdidos no deserto dos tártaros

Num vapt-vupt, Câmara de São José dos Campos aprova três CEIs para investigar a gestão Carlinhos Almeida; não se engane: tudo isso tem a ver com a eleição de 2024

Por Hélcio Costa | 10/06/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Jornalista

Alguma coisas seriam cômicas se não fossem trágicas: de chofre, a Câmara de São José dos Campos aprovou a abertura de três CEIs para investigar a gestão Carlinhos Almeida (PT). É caso de perguntar: agora?

Os 12 vereadores que votaram pelas CEIs dizem que elas estão ancoradas em irregularidades apontadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) em três casos: compra de material escolar em 2015; investimentos do Instituto de Previdência em 2014 e 2015, e contrato para serviços gerais, esse de 2013. Vale repetir a pergunta: três CEIs, agora, tanto tempo depois? Gente ligada à administração diz que as elas foram à votação, na verdade, como um termômetro, para medir quem está a favor ou contra o governo. Duvido. É muita fumaça para pouco fogo. Tão logo foram aprovadas as CEIs, Carlinhos disparou: tudo não passa de uma tentativa do prefeito Anderson Farias (PSD) de tirar o foco dos problemas da cidade, atacando uma gestão iniciada há 10 anos.

Falando sério, esse quiprocó é apenas mais um round na intensa briga que se trava na Câmara entre a bancada governista e a “nova oposição”, que une PT e parte a bancada do PSDB. Nessa peleja, levantar problemas e tropeços do governo do PT em São José dos Campos é uma tentativa, aliás, mais uma, de espinafrar a oposição. Uma hora, o alvo é Eduardo Cury, depois Doutor Élton. Em outra, Carlinhos e, de quebra, o PT e seus novos aliados, como se todos fossem farinha do mesmo saco. Não são.

As pesquisas divulgadas pela Band e pelo "Vale" em maio parecem ter deixado um certo clima de barata-voa em alguns setores ligados ao governo, apesar da boa aprovação da administração. É que, de tabela, os levantamentos colocam Anderson na berlinda, atrás de Cury, em um cenário que mede densidade eleitoral, e empatado com Deus-e-todo-mundo em outro. É hora de alguém avisar o povo do Paço: calma, a eleição está longe. Trazer Carlinhos de volta ao debate, para demonizar o PT e seus aliados (leia-se, parte do PSDB), é uma estratégia que pode até dar certo, mas soa como os mais velhos faziam antigamente: falavam da Cuca, do Lobo Mau ou do Bicho-Papão para assustar a criançada. Deu ruim? Traz Carlinhos e o PT para a roda. No final das contas, isso só demonstra a preocupação do governo e de seus aliados com o coração e as mentes do cidadão.

Esse enredo do teatro político da cidade lembra, em parte, um clássico da literatura, escrito por Dino Buzzati: “O Deserto dos Tártaros”. Nele, o sargento Giovanni Drogo passa a vida guardando as fronteiras do país com a missão de evitar a invasão dos tártaros, que, afinal, nunca vem. Com sinceridade, São José dos Campos tem coisas mais sérias a tratar do que temer falsos fantasmas ou desenhar seu futuro mirando pelo espelho retrovisor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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