ENTREVISTA

‘Todo produto militar da Embraer teve como vitrine a FAB’, diz comandante da FAB

Tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno, comandante da FAB, fala sobre a importância para o país da produção do caça Gripen na unidade da Embraer

Por Xandu Alves | 14/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min
Gavião Peixoto

Xandu Alves / OVALE

Marcelo Damasceno (à dir.) na cerimônia de inauguração da linha do Gripen na Embraer, com presença de Lula
Marcelo Damasceno (à dir.) na cerimônia de inauguração da linha do Gripen na Embraer, com presença de Lula

Comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno considera a abertura da linha de produção do Gripen no Brasil um marco para a indústria nacional e a própria FAB.

O militar disse que já se estuda uma ampliação do contrato com a sueca Saab, fabricante do Gripen, e de até um segundo pacote de caças. Além disso, o avião vai reforçar a capacidade dissuasória brasileira.

“Você tem que ter armamentos que desmobilize qualquer possibilidade de recebermos algum ataque”, disse Damasceno. Confira.

Qual a importância do início da produção do Gripen na unidade da Embraer?

A criação de uma linha de montagem no Brasil com uma quantidade considerável de aviões – 15 num universo de 36 – é muito significativa dentro desse contrato inicial com a Saab que vai compor a primeira linha da nossa defesa aérea. Estamos muito satisfeitos. A relação entre a Embraer e a Saab é cada vez mais sadia e produtiva. A Embraer tem ido à Suécia e a Saab vindo ao Brasil com frequência. Nesse início da produção no Brasil, temos expectativa de colocar o avião em operação entre 2024 e 2025. A Embraer vai criar uma escala importante de produção.

A Força Aérea se tornou uma vitrine para os aviões e parcerias da Embraer?

Todo produto militar da Embraer sempre teve como vitrine e mola propulsora a FAB. Essa parceria vem desde a criação da Embraer, como um braço da Força Aérea. Ozires Silva e sua equipe criaram primeiro um avião, o Bandeirante, para depois criar uma empresa, e a partir dali temos inúmeros projetos. O primeiro avião pressurizado da Embraer foi uma aeronave militar, e depois isso foi transportado para a aviação civil. Também com o primeiro avião a jato, que depois vai para a família do jato 145. Essa relação é de termos um produtivo laboratório que é muito importante para a Embraer, a Força Aérea e o Brasil.

Isso também contribui com a imagem da FAB?

Sem dúvida. Até o ‘aer’ do nome da Embraer tem ligação direta com a Aeronáutica, mas hoje a empresa também tem ligação com a Marinha e o Exército, como tem que ser. Uma empresa que tem muitos contratos com as forças e traz muitas outras empresas de porte médio para grande, o que contribuiu e muito para a indústria nacional.

Como aumentar o conteúdo nacional no Gripen?

Quando fizemos os primeiros contatos com a Saab era mais uma aquisição do que parceria. Mas nada como conversar e negociar. Com o tempo, fomos colocando elementos nacionais lá. O grande exemplo é o painel que foi desenvolvido por uma empresa nossa, do Sul do país, que seria implementado inicialmente apenas nas nossas aeronaves, mas hoje as aeronaves suecas também o utilizarão.

Na verdade, esse projeto é exemplo de parceria binacional e o exemplo maior da transferência de tecnologia acontece na Embraer em Gavião Peixoto. Montar uma linha de aeronaves de última geração no Hemisfério Sul, com uma empresa do porte da Embraer, é um ganho para todo o país. É criação de emprego em larga escala e de aumentar o emprego no sentido militar das aeronaves na defesa aeroespacial do nosso país.

Como será empregado o caça Gripen pela Aeronáutica?

A visão constitucional da FAB não é de ataque. Nós somos uma força de defesa, mas quem se defende tem que se armar também, para manter a soberania do espaço aéreo. A FAB divide a sua missão em três grandes atividades: defender, controlar e integrar. Fazemos a defesa do espaço aéreo usando aeronaves desse porte e temos ainda o F-5 e temos que ampliar a nossa capacidade de defesa do espaço aéreo. Essa é uma atividade dissuasória. Você tem que ter armamentos que desmobilize qualquer possibilidade de recebermos algum ataque.

Outra atividade é o controle do espaço aéreo. Temos no Brasil quatro centros integrados de defesa área e controle de tráfego aéreo. Quem controla os aviões civis é a Força Aérea. E também cooperamos com a integração nacional. Atualmente, por exemplo, estamos juntos na Operação Yanomami, lá na Amazônia, no apoio e integração com demais forças e agências brasileiras. Essa trilogia de defender, controlar e integrar é o fulcro da nossa missão da FAB.

A FAB estuda comprar mais quatro caças no atual contrato?

Estamos analisando essa compra. A legislação brasileira permite aumentar ou reduzir em 25% o contrato, mas para isso tem que manter o preço inicial. Só que episódios como a Guerra da Ucrânia aumentaram e muito os custos de alguns produtos, como o alumínio, por exemplo. Então, por enquanto, estamos analisando a aquisição dessas quatro aeronaves adicionais. Por hora, a empresa não pode garantir o preço, mas estamos perseguindo porque temos interesse de aumentar ainda nesse primeiro contrato, cuja previsão de entrega é até 2027.

Há chance de um segundo contrato de aquisição com a Saab?

O estado maior da Aeronáutica faz uma análise futura e estamos analisando a possibilidade de um segundo lote. O número [de aviões] ainda está sob análise. Quarenta seria um número ideal para esse primeiro lote, mas o Brasil precisa de mais aeronaves.

O país opera cerca de 50 aeronaves F-5, que na época foi um número adequado, e tivemos depois os nossos Mirage. Fizemos aquisição de 12 Mirage 2000 para suprir essa lacuna durante desativação do Mirage 3.

O Gripen foi a melhor escolha?

O Gripen participou de uma lista com outros dois aviões maravilhosos [F-18 Hornet dos EUA e Rafale da França], mas na nossa análise de custo-benefício, capacidade de armamento e principalmente a transferência de tecnologia, foi o que fez a nossa comissão, naquele momento, definir como a mais adequada para a nossa situação.

O fato de o Brasil não participar de guerras influenciou na escolha do avião?

Essa é uma questão momentânea. Não é por isso que vamos deixar de ter Forças Armadas bem equipadas. Não há país do mundo com a potência e a economia como o Brasil que não tenha Forças Armadas completa, buscando cada vez mais tecnologia e atualizar seus produtos. Não existe a possibilidade de se pensar em não guerra para não se ter equipamentos de defesa.

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