Pois é, suspenderam os Jardins da Babilônia e pra não ficar por baixo eu resolvi botar as asas pra fora ...
Essa música, "Jardins da Babilônia", é a minha preferida dela, Rita Lee, a rainha do rock brasileiro, que deu adeus para a gente esta semana. Tem uns versos que eu, particularmente, adoro: minha saúde não é de ferro, não, mas meus nervos são de aço; pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesmo faço.
Então, vamos fazer barulho?
A Justiça de São José dos Campos realizou esta semana uma audiência de conciliação entre a prefeitura e as famílias ameaçadas de perder suas casas na área do Parque Natual do Banhado. A Defensoria Pública e os moradores defederam um acordo para manter as famílias lá. O governo Anderson Farias (PSD) insistiu na saída imediata deles, apesar de ter tido o pedido de retirada vapt-vupt das famílias negado pela Justiça alguns dias atrás. Essa tem sido a tônica do governo, o enfrentamento. Até aqui não surtiu efeito, apesar das recentes decisões favoráveis do Tribunal de Justiça do Estado e do STF. Agora vai? Tenho dúvidas.
Promessa de Felício Ramuth (PSD) ainda primeiro mandato, essa briga em torno da retirada das famílias na área do Banhado foi herdada por Anderson junto com todo o resto, mas, cá entre nós, deve se arrastar por muitos anos. Por uma razão básica: o foco dessa briga está errado.
Ao invés de deixar gente sem casa, o que a grande maioria dos moradores de São José dos Campos deseja, de fato, é que haja uma "pacificação" da área, extirpando do Banhado o foco de crime e tráfico de drogas que impera em parte da região há décadas. E que, verdade seja dita, tem resistido ao "cerco" de Felício e Anderson. Para encarar essa briga, de "pacificar" o Banhado, será que prefeitura, famílias, Defensoria Pública e Justiça conseguem trabalhar juntas?
Antes mesmo da reunião, Anderson deu a dica: não havia brecha para negociar. "Já foi confirmada (a desocupação) pelo Supremo. A gente quer cumprir a decisão. Acho que respeitar a decisão da Justiça é o maior ato de respeito ao Estado Democrático de Direito que podemos ter”, disse o prefeito. Mas houve: antes de cumprir a decisão que permite a remoção das famílias, foi acordado que a prefeitura deve realizar o cadastramento dos moradores, com a presença apenas de servidores civis e assistentes sociais, sem polícia. Ficou estabelecido ainda que a prefeitura deve fazer uma inspeção técnica no local para medir o traçado e entregar um arquivo com as definições exatas de georreferenciamento que confirme os limites da área alvo do levantamento. Se não houver controvérsia sobre o material, o município dará início ao cadastro.
Nesse meio-tempo, tudo pode mudar.
Como Rita Lee diz na letra de "Jardins da Babilônia", pegar fogo nunca foi atração de circo, mas, de qualquer maneira. pode ser um caloroso espetáculo. Ao invés de caminhar para repetir a violência registrada anos atrás na desocupação do acampamento do Pinheirinho, na zona sul da cidade, o governo deveria trabalhar, de fato, para resolver o impasse, ajudando na "pacificação" o Banhado. A cidade, como um todo, agradeceria. Até lá, o palhaço ri dali, o povo chora daqui e o show não para.