Trem das Onze, Trem Azul, Trem-Bala, Trem das Cores, Trem da Alegria, Trem da Viração, o Brasil está cheio de trens quando o assunto é música. Villa-Lobos, nosso maestro maior, tem no “Trenzinho Caipira” a sua obra mais conhecida. No mais, mineiro fala “trem” para tudo. Mas, na real, fora os trens de subúrbio, os trens de Metrô e os trens de carga, trem, trem para levar gente de uma cidade a outra, está faltando no Brasil. E faz tempo ...
O Brasil vai continuar fora dos trilhos? Essa é a pergunta a ser feita frente a dois projetos antigos que foram retomados no apagar das luzes de fevereiro: o Trem-Bala e o Trem Intercidades, velhos conhecidos da gente. O Trem-Bala, ou TAV (sigla de Trem de Alta Velocidade), foi anunciado no segundo governo Lula e deveria entrar em operação para a Copa de 2014. Não deu. Ficou para as Olimpíadas de 2016, mas, sem um centímetro de trilho plantado, se perdeu em algum desvio e desapareceu do mapa. Descarrilou, deixando no rastro apenas uma estatal, criada para desenvolver o projeto (que ainda funciona, pagando salário a seus dirigentes).
Agora o TAV voltou, com a licença dada pela ANTT para a TAV Brasil, uma associação formada por quatro sócios, operar o sistema de alta velocidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. Vai dar certo? Vamos ter a primeira pista disso em 30 dias, quando vence o prazo para apresentação do projeto básico e do plano de viabilidade econômica. Se der, o Trem-Bala começa a operar em 2032, segundo a TAV Brasil, com investimentos da ordem de R$ 50 bilhões, ligando as duas maiores capitais em pouco mais de 1 hora e meia. A sacada da rota proposta para o Trem-Bala é que, para ganhar tempo, o trajeto evitaria áreas urbanas, com o TAV saindo da periferia de São Paulo e Rio, parando em suas estações intermediárias –uma em Volta redonda (RJ) e outra em São José dos Campos, às margens da Carvalho Pinto. Também fora da área urbana. Será? Vamos torcer.
Outro trem que volta agora aos trilhos é o Trem Intercidades, o TIC. No papel, a meta é ligar a capital a quatro grandes cidades (Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba), criando um anel ferroviário. Em seus governos, José Serra, Geraldo Alckmin, Márcio França, João Doria e Rodrigo Garcia anunciaram o projeto como prioritário, mas perderam o bonde da história. Na última terça-feira, o governador Tarcísio de Freitas incluiu o TIC no pacote de projetos de desestatização e PPPs, gerenciado pelo Conselho de Desestatização, presidido pelo vice-governador do Estado, Felício Ramuth. A primeira etapa do TIC será a ligação São Paulo-Campinas. O trecho São Paulo-São José virá em segundo lugar, segundo Tarcísio. Vai sair? Tomara.
Trem é um meio de transporte seguro, barato, veloz, sustentável, uma frente de geração de empregos. Vamos torcer para que o Trem-Bala e o TIC não virem, de novo, trens fantasmas...