A prisão de um ex-líder religioso no Distrito Federal trouxe à tona não apenas denúncias graves de abuso sexual contra adolescentes, mas também a postura de familiares e integrantes da igreja diante das acusações. Segundo a Polícia Civil, o pai do suspeito chegou a tratar os crimes como uma “brincadeira” e um “ato involuntário” ao conversar com familiares das vítimas, após uma das primeiras denúncias registradas, ainda em 2024.
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O homem preso é Gabriel de Sá Campos, de 30 anos, que exercia funções de liderança na Igreja Batista Filadélfia do Guará, instituição presidida por seus pais. As investigações apontam que os abusos teriam ocorrido ao longo de vários anos, envolvendo adolescentes entre 10 e 17 anos.
Confronto às vítimas e tentativas de desqualificação
De acordo com os investigadores, a mãe de Gabriel também teria abordado diretamente vítimas menores de idade, sem a presença de responsáveis legais. Na ocasião, ela as teria acusado de “falso testemunho”, o que reforçou a suspeita de tentativas de intimidação.
Ainda conforme a Polícia Civil, antes mesmo da prisão, integrantes da igreja já teriam adotado uma postura de descrédito em relação às denúncias. Um diácono chegou a classificar os relatos como “mal-entendidos” e sugeriu um acordo de silêncio para evitar a exposição do caso às autoridades.
Liderança religiosa usada como meio de aproximação
As apurações indicam que Gabriel se aproveitava da posição de destaque na comunidade religiosa para se aproximar das vítimas. Ele atuava como orientador e ministrava cursos ligados à sexualidade, o que facilitava o acesso a informações íntimas e fragilidades emocionais dos adolescentes.
Segundo a Polícia Civil, os encontros individuais eram utilizados como estratégia para a prática dos abusos, que teriam ocorrido de forma repetida e planejada, especialmente com jovens em situação de vulnerabilidade familiar.
Prisão e medidas judiciais
Gabriel de Sá Campos foi preso temporariamente por 30 dias, em decisão cumprida na sexta-feira (19). Durante a operação, a polícia executou mandados de busca e apreensão, recolheu dispositivos eletrônicos e determinou a quebra de sigilos telefônico e telemático dos últimos cinco anos.
Além disso, a Justiça impôs medidas protetivas, incluindo o afastamento imediato de qualquer função religiosa e a proibição de contato com as vítimas. O material apreendido passará por perícia técnica.
Número de vítimas pode aumentar
Até o momento, quatro vítimas foram oficialmente identificadas, mas a Polícia Civil trabalha com a possibilidade de que o número seja maior. Pelo menos outras oito pessoas ainda devem ser ouvidas ao longo das investigações, que seguem em andamento.
Após a repercussão do caso, a Igreja Batista Filadélfia do Guará divulgou uma nota pública nas redes sociais informando que acompanha o caso e afirmando compromisso com a transparência. O comunicado foi publicado na segunda-feira (22), dias após a prisão do ex-líder.