SAÚDE E ALIMENTAÇÃO

Fórmulas infantis contêm agrotóxicos, revela pesquisa da Unicamp

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação/Unicamp
Estudo encontra agrotóxicos e outras substâncias químicas em fórmulas infantis vendidas no Brasil e acende alerta sobre regulamentação insuficiente.
Estudo encontra agrotóxicos e outras substâncias químicas em fórmulas infantis vendidas no Brasil e acende alerta sobre regulamentação insuficiente.

Um estudo da Unicamp identificou resíduos de agrotóxicos – incluindo substâncias proibidas no Brasil – em fórmulas infantis disponíveis no mercado nacional. A pesquisa, realizada pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e publicada em periódicos internacionais, analisou 30 amostras de diferentes marcas vendidas no país e encontrou contaminantes como carbofurano e metamidofós, banidos há anos por causa de seus riscos à saúde.

  • Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.

Além dos agrotóxicos, foram detectadas micotoxinas (toxinas produzidas por fungos), fármacos veterinários e até hormônios. Embora, na maioria dos casos, as concentrações estivessem abaixo dos limites considerados seguros pela União Europeia – referência adotada por falta de regulamentação brasileira específica –, os especialistas alertam para o risco elevado quando se trata de recém-nascidos e bebês, cujo organismo ainda não possui total capacidade de metabolização e eliminação dessas substâncias.

“O problema não é apenas a presença isolada de um ou outro composto, mas sim o acúmulo potencial e a exposição em uma fase da vida extremamente sensível”, explica a pesquisadora Marcella Vitória Galindo, autora da tese de doutorado que deu origem ao estudo, com orientação da professora Helena Teixeira Godoy e do pesquisador Wellington da Silva Oliveira, com apoio da Fapesp.

Um dado que chama atenção é a detecção do carbofurano, agrotóxico proibido no país desde 2017, em cerca de 10% das amostras analisadas. A explicação mais provável é a bioacumulação – quando o composto persiste no ambiente por anos e contamina insumos agrícolas utilizados na produção das fórmulas, como o leite de vaca e de cabra.

Na segunda fase do estudo, uma triagem mais ampla encontrou seis compostos em 86,6% das amostras, entre eles o metamidofós, outro agrotóxico vetado no Brasil desde 2012, além de ftalimidas e outros pesticidas em níveis acima do recomendado. “Esses contaminantes podem ter origem em diversas etapas da cadeia: das matérias-primas ao processamento e até nas embalagens”, destaca Godoy.

Apesar dos achados, os pesquisadores reforçam que o estudo não tem como objetivo gerar pânico ou desestimular o uso das fórmulas infantis, mas sim chamar atenção para a ausência de legislação específica no Brasil e para a urgência de estabelecer critérios de segurança mais rigorosos. “Precisamos garantir que aquilo que alimenta nossos bebês esteja dentro dos padrões mais seguros possíveis”, diz Galindo.

A continuidade da pesquisa prevê a análise de leite materno, para verificar se hábitos alimentares, produtos de higiene e exposição ambiental podem transferir contaminantes às crianças. “O cuidado começa com a orientação alimentar das mães, que também precisam estar protegidas desse tipo de exposição”, conclui a pesquisadora.

A pesquisa também dialoga com uma preocupação crescente no Brasil: o aumento do consumo de fórmulas infantis, que saltou 750% entre 2006 e 2020, de R$ 278 milhões para R$ 2,3 bilhões, segundo levantamento publicado pela revista Globalization and Health.

Comentários

Comentários