OPINIÃO

Um acerto e vários erros de Tarcísio

Por Côrrea Neves Jr. | especial para a Sampi
| Tempo de leitura: 8 min

“Pense como uma pessoa de ação e aja como uma pessoa que pensa”
Henri Louis Bergson, filósofo e diplomata francês


Foi uma semana intensa para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), às voltas com múltiplos desafios para além daqueles que envolvem a já atribulada rotina cotidiana de quem tem por função comandar São Paulo. Três se mostraram particularmente complexos – para um deles, a resposta foi firme e rápida, mas para os outros dois, a frustração com as alternativas propostas pelo governo do Estado dificilmente poderia ser maior.

Tarcísio foi bem na resposta à escalada de violência nas escolas de todo o país, com atentados e ameaças que se multiplicam em ritmo exponencial. É um drama de dificílimo enfrentamento, com jovens ignorantes, perturbados e sem limites descontando seus traumas de forma covarde em colegas e professores. Têm-se um combo perverso, com ataques desferidos a facadas e machadadas diante de vítimas sem quaisquer chances de defesa, num tipo de crueldade e sordidez que escapam à compreensão humana.

No início da manhã da última quarta-feira, 13, Tarcísio visitou a escola estadual “Thomazia Montoro”, na zona oeste da Capital paulista, palco de tragédia no final do mês passado, quando um garoto de treze anos esfaqueou e matou uma professora, pelas costas, além de ferir outros colegas.

“Alguns prefeitos têm me procurado e têm me pedido para suspender as aulas e a resposta é que nós não vamos, os jovens não merecem isso. A gente tem que superar essa situação, a gente não pode sucumbir à ameaça, sucumbir à violência. A gente tem que trazer o sonho de volta, e a esperança”, disse Tarcísio, ao anunciar a estratégia que será adotada pelo Palácio dos Bandeirantes.

Há passos concretos. Imediatamente, serão contratados 1000 seguranças privados para atuar nas escolas estaduais. Não estarão armados, mas terão preparo e treinamento para lidar com situações críticas. Uma área específica para denúncias de violência ou ameaça contra escolas vai ser criada dentro do aplicativo da PM paulista. As rondas escolares serão intensificadas, bem como viaturas que não estiverem atendendo ocorrências farão patrulhamento nas proximidades das unidades de ensino. Além disso, 550 psicólogos serão contratados para atuar nas escolas paulistas, semanalmente. O custo total do pacote foi estimado por Tarcísio de Freitas em R$ 240 milhões.

Pode se gostar mais ou menos das medidas anunciadas, pode se ter maior ou menor simpatia pelo governador, mas é inegável que ele agiu. Saiu do campo das ideias para um projeto efetivo, com recursos previstos e prazo de implementação, num espaço de poucos dias. Não é fácil, mas foi feito.

No mesmo dia, um par de horas mais tarde, deu-se o oposto. Acompanhei pessoalmente o evento no auditório “Ulysses Guimarães”, em pleno Palácio do Governo. Tarcísio reuniu 167 prefeitos, outras centenas de secretários municipais e incontáveis vereadores e puxa- sacos a fim de anunciar seu plano para enfrentar o problema de falta de vagas de internação na rede estadual de Saúde. “Talvez (seja) o dia mais importante do nosso governo até aqui”, disse o governador em seu discurso, aplaudidíssimo. Terminado o evento, ninguém entendeu absolutamente nada.

O que o governador anunciou, a regionalização do sistema Cross, que controla quem é internado onde, já existe – e em vários níveis. No âmbito das DRS (Diretorias Regionais de Saúde), espalhadas pelas regiões administrativas do Estado, isso é feito, rotineiramente, num intercâmbio entre cidades da mesma região. Entre as distintas DRS, nas chamadas RAS (Regiões Administrativas de Saúde), também, decidindo para onde vai um paciente para o qual não há vaga na região onde reside. Que tipo de “regionalização” então é essa de que fala Tarcísio de Freitas?

Aparentemente, nem mesmo ele, nem ninguém do governo, sabe. O que deu para entender, apelando para um grande esforço dedutivo, é que querem que hospitais de cidades pequenas sejam mais acionados para atendimentos de menor gravidade, liberando os grandes hospitais de cada uma das 23 regiões do Estado para se concentrar nos casos mais graves. Mas isso já é feito – ou, pelo menos, deveria ser. Pode-se melhorar a gestão aqui e acolá, mas isso nem de longe responde ao desafio do momento, com milhares de pacientes, em todo o Estado, esperando de forma improvisada em PSs e UPAs por vagas que não existem.

Ficou ainda mais esquisito porque logo no início do evento, em outro discurso muito aplaudido, o secretário de Estado da Saúde, Eleuses Paiva, fez um desabafo que tocou profundamente a plateia. Ex-prefeito de São José do Rio Preto, Eleuses disse que ao longo dos últimos anos a parcela do SUS financiada pelo governo federal caiu pela metade. Ainda cutucou na ferida e disse que o Estado se omite, forçando prefeitos a gastar muito mais do que deveriam com saúde, o que tira dinheiro para os necessários investimentos em cada cidade. “Os municípios pedem socorro. Os prefeitos não aguentam mais”, disse. “O modelo atual está se esgotando (...) É chegada a hora do Estado assumir seu papel”. Foi ovacionado. Ficou nisso.

Tarcísio não anunciou um real a mais para a Saúde. Admitiu que falta verba, mas disse que só vai discutir novos repasses depois que melhorar a gestão. Não falou em acelerar as obras de hospitais estaduais em construção em várias regiões do Estado, como Franca, nem sinalizou com qualquer tipo de ajuda para Santas Casas ou hospitais filantrópicos. Foi uma ducha de água fria.

Mas nada foi mais sem noção do que o plano de Tarcísio para lidar com o drama dos moradores de rua concentrados na região da Cracolândia, no Centro da Capital. Qualquer pessoa com pelo menos dois neurônios sabe que é um problema dificílimo e que não existem soluções prontas, muito menos fáceis, e que é preciso criatividade e ousadia para lidar com a questão. Mas a alternativa proposta é tão descolada da realidade que flerta com o ridículo.

Tarcísio quer exportar os milhares de moradores de rua da Capital para o interior do Estado. Mais precisamente, para o campo. Seriam contratados por fazendeiros e sitiantes, que em contrapartida teriam sua produção comprada pelo Estado. O transporte o governo paga, o salário fica por conta de quem contrata. “Temos hoje no estado 187 mil famílias agricultoras que precisam de mão de obra, e cerca de 50 mil moradores de rua na cidade de São Paulo. É possível combinar as duas necessidades”, argumentou o secretário-executivo do Desenvolvimento Social, Filipe Sabará.

Pouco sei sobre o Felipe Sabará, mas me arrisco a dizer que do campo ele não entende nada. Nem vou entrar no mérito da questão já levantada pelos críticos ao projeto que questionam, por exemplo, onde residiriam esses moradores, como ficaria a questão formal da contratação, que garantia haveria de que não seriam escravizados? Deixo esta perspectiva para o padre Júlio Lancellotti e seus simpatizantes, que já fizeram pontuações relevantes. Prefiro focar num ponto fundamental, anterior. Como alguém deteriorado pelo uso contínuo de drogas e entorpecentes teria forças e condições para levantar de madrugada para tirar leite? Ou para trabalhar nas roças, carpindo, de sol a sol? O trabalho no campo é difícil para quem é “da lida”, para quem já está acostumado, imagine então para quem está fragilizado e não tem qualquer familiaridade com a área. Além disso, como seria feito o acompanhamento clínico para evitar que se drogassem nas fazendas e sítios? Ou para atender em momentos críticos?

O mais provável é que, salvo uma ou outra exceção, o sujeito acabaria por abandonar o trabalho depois de alguns dias para correr para o vilarejo mais próximo, para os Centros Pop que se multiplicam, para as ruas e semáforos das cidades maiores em busca de esmolas e drogas. A chance de dar certo é próxima a zero. O risco de que esses moradores de rua levem drogas piores e mais destrutivas, como a K9, para cidades onde ainda não chegaram ou seu consumo é por ora incipiente, enorme. Sem falar no risco de violência, porque nem todo morador de rua é exatamente pacífico, até por conta dos efeitos decorrentes do uso contínuo de entorpecentes.

Por fim, até pela forma como a ideia foi apresentada, têm-se a impressão de que no governo do Estado ignoram que há muitas “Cracolândias” hoje espalhadas pelo interior. A região central de Campinas, por exemplo, tem uma muito parecida com a da Capital, um pouco menor. Em Franca, multiplicam-se os pedintes por diversas ruas. Na vizinha Ribeirão Preto, idem, situação que não é muito diferente de Bauru. Ignorar estes fatos e imaginar que a solução para os moradores de rua da Capital é exportá-los para o interior é de uma torpeza ímpar.

Não é a primeira vez que digo isso, nem acredito que será a última, mas Tarcísio de Freitas precisa, urgentemente, enxergar de fato o interior paulista. Foram os paulistas de fora da Capital que deram a ele a vitória sobre Fernando Haddad. Olhar para o interior com seriedade e respeito, procurar conhecer e entender cada região, é o mínimo que Tarcísio de Freitas precisa fazer. Bem rápido.

Corrêa Neves Jr é jornalista e CEO da Sampi.net.br, a maior rede de notícias baseada no interior. Este artigo é publicado simultaneamente nos portais de Araçatuba (Folha da Região), Bauru (JCnet), Campinas (Sampi Campinas), Jundiaí (Jornal de Jundiaí), Piracicaba (JP), Rio Preto (Diário da Região), São José dos Campos (OVALE) e edição Nacional, todos afiliados à rede Sampi de Portais.

Comentários

14 Comentários

  • Alex 22/04/2023
    Desculpa puldo. Esqueci que dona Marisa Letícia deixou uma polpuda herança para seus familiares. Dinheiro que ganhou após trabalhar anos a fio vendendo produtos Avon. Foi mau mesmo.
  • Darsio 21/04/2023
    Ô múúúúúúúúúu´! Por um acaso esses nomes citados pela privada de sua boca são parentes do Lula? Mas, certamente a família do Lula deve tirar alguma vantagem, não tão escandalosa como a da família do MITO REENCARNAÇÂO DE CRISTO. E, se o Lula tiver favorecendo parentes deve sim responder na justiça. Mas, trocentos fatos e acontecimentos divulgados pela imprensa nesses últimos quatro anos não nos deixam a menor dúvida do quanto essa família bozo se enriqueceu as custas de um verdadeiro assalto aos cofres públicos. Aliás, não me lembro de nehuma ex-primeira dama receber uma fortuna de salários e, pagos pelos nossos impostos por meio do fundo partidário. Quanto aos políticos favorecidos (o que é uma vergonha), procure se informar melhor o que foi o tal orçamento secreto do seu Mito, a reencarnação de Cristo. Peritos em contas públicas o colocam como sendo a maior corrupção praticada nesse país. Por fim, fico muito agradecido por ler os meus comentários e, por isso vou lhe prometer mais uma saborosa picanha! VAI MAIS UMA PICANHA?
  • Alex 20/04/2023
    Vamos lá puldo véio. KKKKKK - Aline Peixoto, esposa do ministro Rui Costa, assumiu cargo de conselheira no TCM/BA, Aline Góes, esposa do ministro Waldez Góes, assumiu cargo de conselheira no TCE/AP, Renata Calheiros, esposa do ministro Renan Filho, assumiu cargo de conselheira no TCE/AL e Rejane Dias, esposa do ministro Wellington Dias, assumiu cargo de conselheira no TCE/PI, lembrando que são cargo VITA´LICIOS e com remuneração média de R$ 35.000,00, ou seja no seu comentário os contratados por governadores, deputados, etc tem seus cargos por tempo limitado ao contrário das esposas dos ministros do Nine que ficarão chupinhando por muitos e muitos anos os bolsos do povo de seus estados. Vai um sofá de R$ 65 mil e uma cama de R$ 42 mil aí??????? Hipocrisia acima de tudo né puldo? Senta no rabo pra falar dos outros. KKKKKKKKKKK
  • Darsio 19/04/2023
    Diego Torre Doura, assessor especial de Tarcísio de Freitas. Geovanna Kathleen Ferreira Lima, assistente da senadora Damares. Letícia Marianna Firmo da Silva, assistente de gabinete do Governador de Santa Catarina, mas que vai atuar em Brasília. Igor Matheus Oliveira Modtkowski, namorado da Leticia e que é assessor de senador. Mas, o que há em comum em todos esses nomes? São parentes da Micheque e, que por apadrinhamento dela foram contratados por políticos aliados a ela. Isso mesmo! Gente imprestável contratada para ganhar elevados salários. Governos que alegam falta de recursos para pagar o piso dos enfermeiros, mas que jogam dinheiro fora para agradar uma família que nunca trabalhou na vida e, somente mamou e continua a mamar nas tetas do Estado. E, olha que a própria Micheque recebe mensalmente quase 50 mil reais, assim como o seu GENOCIDA LADRÃO DE JOIAS que, como se sabe a origem da grana não é do partido, mas dos nossos bolsos. Enquanto essa família continua a assaltar os cofres públicos e até mesmo roubar joias, muitos dos trouxas que a veneram tiveram que se contentar com tornozeleiras eletrônicas. Enfim, gostaria de análises de psicanalistas de renome para fazer uma leitura do quanto um sujeito necessita ser demente para idolatrar um GENOCIDA, como se ele fosse a reencarnação de Cristo.
  • Alex 19/04/2023
    Pelo visto o seu cuidador não te deu os seus remédios hoje né puldo? KKKKKKKKKK
  • Darsio 19/04/2023
    Olá isa! Como foram as férias na Papuda? Que coisa hein! Enquanto seu mito GENOCIDA por oito vezes tentou roubar joias de mais de 15 milhões de reais e entregá-las a sua esposa, a MICHEQUE, dementes como você tiveram de se contentar com uma tornozeleira. E aí! Nos diz se comeu muita picanha, pois o alex múúúúúúúúú´não a tira da boca.
  • Darsio 19/04/2023
    Bolsominion possui uma grande marca, ou seja, demência intelectual. Oras, sugiro aos colegas que, certamente devem estar usando tornozeleiras que, destruam o artigo em questão com ideias muito bem fundamentadas, ou seja, com argumentos de elevado poder de convencimento e com dados mensuráveis. Mas, nada de ficarem apelando para celulares sobre as cabeças ou mesmo cantando o hino nacional para um pneu. Todavia, como são acéfalos, sugiro que voltem para as genitálias do bozo, onde poderão ficar bem quentinhos e ainda com uma bela picanha na boca. E, aí alex múúúúúúúú! Vai mais uma picanha?
  • Francisco Matos 18/04/2023
    O jornalista foi brilhante na sua exposição sobre o governo do forasteiro Tarcísio. O interior o colocou no poder. O interior, quase deu continuidade de um monstro continuar por mais quatro anos brincando de governar e roubando nosso país. Tarcísio é responsáveis pelas mortes que ocorrem quase que diariamente por falta de vagas nos hospitais públicos. O tranqueira já havia demonstrado sua omissão mesmo durante a campanha. Negou que Franca precisava de um hospital estadual. Ainda assim , a maioria absoluta dos extremos ignorantes eleitores francanos, votou no nefasto político. Nosso Estado de SP, mesmo na pandemia arrecadou recorde anualmente em suas receitas. Ainda assim é onde se paga o pior salário do funcionalismo, principalmente aos policiais e professores.
  • Isa 18/04/2023
    Acho que o Darsio está com lombriga, só sabe falar de picanha. Que tal fazermos uma vaquinha virtual? Vamos ajudar os amigos S2
  • Alex 18/04/2023
    Ao ler o seu comentário puldo fiquei bastante feliz. Dá para ver que você está fazendo uso de seus remédios controlados, pois escreveu somente quatro linhas e não citou o ex-presidente nenhuma vez. Continue cuidando da sua saúde mental. Persevere na caminhada.
  • Darsio 18/04/2023
    Mais um artigo brilhante. Parabéns ao Correa Neves pela sãbia leitura dos problemas e da descrição da superficialidade das propostas do governo para lidar com essa tragédia que estamos vivendo na saúde. Aqueles que o criticam, assim fazem porque possuem capacidade cognitiva imensamente limitada, ou como no caso do alex , ficam com a atenção apenas no sabor da picanha que levam a boca. Ô alex! Vai outra picanha?
  • Alex 17/04/2023
    Gostaria que o gênio que escreveu esta coluna apresentasse a solução para o problema. Criticar a ideia alheia é fácil. agora colaborar com a solução...... Larga de hipocrisia e escreva sobre as m.e.r.d.a.s que nosso presidente está fazendo e falando aqui no país e fora dele.
  • Marcos L. Lacerda 17/04/2023
    Mais um jornalista sem ética, militante. Onde está os dados do repasse de verbas dom governo federal, principalmente do SUS. Mis de 2 milhões gastos com artistas e com o carnaval e apenas 2 milhões para ajudar as famílias do Litoral..
  • Gabiroba 17/04/2023
    O lance dos viciados da Cracolândia é uma faxina social na cidade de São Paulo. Acham que irao resolver, mas na verdade vão espalhar o problema. Eu nunca ouvi falar de um viciado seja ele, morador de rua ou um playboy, que gostasse de trabalhar e se esforçasse muito para gerar renda para pagar pelo seu vicio, normalmente roubam, pedem ou são bancados pelos pais cansados. Acredito que a solução ou a diminuição do problema seria internações compulsórias em clínica públicas vinculadas a um trabalho para gerar renda e se auto financiar lá. Daí juntar a ideia do agro com a medicina e a segurança traria resultado a médio prazo.