O Verbo veio do Céu e morou nas entranhas plenas de santidade de Maria. Fez-se carne e habitou em meio a nós, sob a proteção de São José.
Fazendo um parênteses, no último domingo, em sua homilia, o querido Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor e Pároco do Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, comentou que não temos controle sobre nossa vida. São José também não teve. Durante o sono, após uma situação que o perturbou: a gravidez de Maria, recebeu a notícia do que acontecera e se colocou nas mãos de Deus. Confiou no Altíssimo e não se perdeu nos caminhos. O sucedido não era obra humana, mas do Espírito Santo. Convidou-nos, o Padre Márcio Felipe, a também não termos medo do novo do Senhor em nossa vida. De repente, as coisas mudam e como será, a partir de agora? Se estivermos na graça de Deus, abraçaremos a Cruz e perceberemos acenos da Eternidade porque lá é nossa pátria definitiva.
Retornando a Belém. Da manjedoura, os olhos do Menino Deus viram você e me viram. Enxergou a nossa história pessoal e quis fazer parte dela. Viu os pastores que chegaram surpresos. Homens simples e vítimas de preconceitos. Os anjos, a pedido dEle, os chamaram e, dessa forma, já foram sinal de que todos os excluídos cabem na gruta de Belém. Sem dúvida, experimentaram a alegria do acolhimento. Na manjedoura, recebeu os magos que vieram do oriente orientados pela estrela. Segunda a tradição, eram reis sem sede e medo de competir no poder, por isso se ajoelharam diante do Menino. Sinal de que aqueles que detêm poder cabem na gruta se o poder for um serviço e não as trevas do uso das pessoas.
Como escreveu São Paulo na segunda carta aos Coríntios (4, 6-7): “Porque Deus que disse: ‘Das trevas brilhe a luz’, é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós”.
Da manjedoura, o Rei dos reis observou os julgadores humanos, eu e você quando nos sentimos superiores, a quem precisaria e precisa insistir que a generosidade de saciar os que têm fome e sede, de receber os peregrinos, de visitar os encarcerados e enfermos, de vestir os nus é que pesa no julgamento final, não importa quem sejam eles.
Nesta semana, nosso querido Bispo Diocesano, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, me enviou um texto do presbítero Eliseu Wisniewski, da Congregação da Missão (padres vicentinos), publicado no site www.ihu.unisinos.br, sobre o “Teologia de ganso”, a respeito dos que são incapazes de lidar com a ambiguidade humana. Escreve o autor: “Têm dificuldade de ouvir relatos de pessoas quebradas e machucadas, de aproximar-se de famílias em conflito, de sustentar a fé de pessoas fragilizadas”.
Desconhecia que as penas dos gansos são impermeáveis graças a um óleo produzido por uma glândula, o que ajuda o corpo a flutuar e se manter seco.
Da manjedoura, creio que o Menino Deus chorou por todos aqueles que renegam misturar sua vida à dos destruídos, empobrecidos, que necessitam da âncora da bondade.
Que tenhamos um Natal feliz, molhando as penas que nos permitem flutuar com as lágrimas dos olhos do outro.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista