Fiquei poucos dias na China, em visita a UREs – Unidades de Recuperação Energética, a solução inteligente para o lixo. Fiquei boquiaberto com a realidade do País. Todas as cidades visitadas, maiores do que São Paulo, são arborizadas e floridas. Silenciosas, pois o trânsito é elétrico. Muitas bicicletas e biciclos elétricos, muita gente a caminhar a pé. Um clima de alegria e hospitalidade. Era comum, diante de alguma indecisão minha quanto à direção, que alguém se aproximasse e se dispusesse a auxiliar.
As UREs parecem um shopping, uma instituição de ensino, algo que não lembra a conversão do lixo em energia elétrica. Nelas existem bibliotecas, videotecas, brinquedotecas, salões para refeição, exposições, tudo limpo, tudo clean, tudo moderníssimo.
Impressão idêntica à de Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, que registrou suas impressões na FSP de 15.10.2025. Também não tive dificuldade em utilizar meu celular para pagar o que consumi. O We-Chat, que combina WhatsApp, Pix, Google Pay, Gov.br e tem ainda outras utilidades, tem mais de um bilhão de usuários. E eles gostam de fruir da absoluta segurança de um sistema que sabe onde cada cidadão está e pode protegê-lo de qualquer mal. A sensação de segurança é um desejo brasileiro. Por que o sistema “Smart Sampa” é tão elogiado e quer ser replicado em outras cidades? O que interessa é poder andar tranquilo pela cidade, sem receio de ser assaltado por bandidos em busca de celular ou de alianças de ouro.
Em todas as cidades, as gruas eram inúmeras e imensas. China em obras e eficiências na edificação. Para visitar uma das “Cidades Esponja” de Konjian Yu, percorremos uma ponte de vinte e quatro quilômetros. Construída em dezoito meses!
Precisamos da engenharia chinesa para acelerar nossas obras. Metrôs que demoram uma eternidade. Rodoanel que não acaba. Ligação entre aeroportos que estava prevista para a Copa de 14 e que, onze anos depois, ainda engatinha.
Marcelo Viana constatou que as Universidades da China poderiam ensinar muito às nossas. Arborizados, os campi são locais seguros e aprazíveis para estudar, trabalhar ou passear, a qualquer hora do dia ou da noite. Alunos e professores residem no local. Isso atrai serviços básicos: restaurantes, lavanderias, supermercados, livrarias. Isso é realmente uma “Cidade Universitária”, não um espaço de uso restrito.
O processo seletivo é competitivo e calcado no desempenho acadêmico. Anuidades muito acessíveis. Inclusivas como ainda não temos exemplo nacional. Ali se mora e se alimenta com qualidade e a custo reduzido. O talentoso, a despeito de provir de família pobre ou remediada, tem lugar garantido. Os alunos de baixa renda dispõem de auxílio adicional como bolsa ou empréstimo sem juros.
Algo que ainda não se implementou no Brasil, é que a prioridade estratégica se alinha à demanda nacional. Mais de 50% das matrículas estão na área STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. A cada ano, diplomam-se nessas carreiras mais de 1,3 milhões de engenheiros. Isso é mais do que existe em todo o Brasil. Como bem observa Marcelo Viana, “Em especial, a formação nas áreas ligadas à revolução digital é de tirar o fôlego. Não é à toa que o PIB da China multiplicou por 15 (em dólar!) do ano 2000 para cá”.
Um pouco mais de China para o Brasil. E com urgência!
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo