O novembro azul é uma campanha que começou em 2003 na Austrália, onde um grupo de amigos e influenciadores resolveu deixar crescer o bigode no mês de novembro para conscientizar sobre o câncer de próstata, até então um tanto desconhecido, principalmente no que se refere a sua prevenção.
A ideia propagou-se mundialmente e, desde 2011, a campanha é reproduzida no nosso país, não só detectando precocemente muitos casos de câncer, mas chamando a atenção para o autocuidado masculino e, consequentemente, para a discussão do papel da masculinidade na sociedade moderna.
Falar de masculinidade e o seu poder, no entanto, não é tarefa fácil nos dias de hoje. Dado séculos de opressão sobre um feminino nunca compreendido (ou devidamente respeitado), confunde-se masculino com uma “macheza bruta e ignorante”, como se a incompreensão e a empatia não pudessem fazer parte de um homem conectado com sua própria raiz.
Infelizmente, toda a sociedade perde com isso, mais uma vez. Como já escrevi e reforço aqui, quando falamos do masculino, não me refiro ao gênero ou suas preferências. Trata-se sim da energia masculina que todos nós temos, vinda até nós pela porção paternal da nossa energia formadora.
Perder o contato com sua fonte genuína nos deixa enfraquecidos na nossa capacidade decisiva, visão estratégica e o poder de impor limites, dizendo não ou defendendo a própria posição.
Vejo um número crescente de pessoas se tornando vítimas fáceis de manipulações narcisistas, por anos a fio, em parte pela incapacidade de ser firme e assertivo em identificar e apartar-se de quem se aproveita da boa vontade e do acolhimento alheio. A incidência disso seria bem menor e de duração abreviada se a energia masculina estivesse mais clara e disponível para os alvos, sejam eles homens ou mulheres.
A partir dos anos 50 a nossa sociedade se tornou tão avessa ao masculino, devido ao seu mal uso e perversão pelo patriarcado que, mesmo com sua necessidade e uso explicitamente exposto, para muitos não fica claro como um masculino pode ter seu valor decisivo. Sobre isso, devo dizer que existem livros inteiros escritos, mas para ser rápido e certeiro, exemplifico com uma cena do filme “Vingadores”, de 2019, onde os heróis da história, ainda desconhecidos uns para os outros, têm que enfrentar ao Thor, que busca seu irmão, Loki, sob custódia em um avião.
O “deus do trovão” invade a aeronave e foge com o irmão. O Capitão América, modelo masculino idealizado nos anos 50 (coincidência?), fala uma frase ponderada e racional diante do ocorrido: “Temos que desenvolver um plano de ataque!”.
O Homem de Ferro, “alter ego” de Toni Stark, colocando sua máscara metálica que ativa a armadura, responde sem alterar o tom de voz: “eu tenho um plano... ataque!”. Essa é uma atitude vinda do masculino, que reconhece a urgência da situação e determina que a ação imediata é a melhor chance de sucesso.
Foco, coragem para apoiar os próprios instintos e arcar com as consequências dos seus atos, na certeza de que foi o melhor para ser feito, no momento. Nesta pequena cena, Toni Stark toma posse do poder masculino que existe em potencial, dentro de cada um de nós.
Ainda que lúdica, a imagem que eu recordei mostra bem a diferença de dois tipos de energia e a efetividade de tê-las equilibradas e atuantes, cada qual em sua força e momento, dentro de si. Que isso faça, então, do novembro azul uma grata lembrança para todos, homens e mulheres.
Dr. Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em osteopatia e medicina tradicional chinesa