OPINIÃO

Força, amizade e outros movimentos 


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“Força só é ruim quando ela lhe falta!” – essa é uma das frases que o Thiago, amigo e um dos meus treinadores, fala todas as vezes que enfrento um exercício que coloca no limite não somente o meu corpo, mas principalmente a minha vontade.

Podem acreditar, pois de “força” ele entende: conheço poucas pessoas capazes de levantar 240 quilos em uma barra hexagonal (quase o triplo do próprio peso) e ao mesmo tempo treinarem movimentos compostos, assimétricos e complexos, preparando o corpo para qualquer desafio. 

Aliás, “movimento” pode refletir bem a sua visão do exercício, que gostamos de estudar juntos e aplicar nas nossas vidas. Não vemos o treinamento como simplesmente um conjunto de capacidades físicas se alternando para a realização de tarefas, mas como um canal de expressão do próprio ser humano, uma força integradora.

O movimento é a expressão de um padrão cristalizado no nosso cérebro, traduzido em impulsos nervosos e depois, o corpo em aceleração no espaço. Depois de executado, ele pode ser aprimorado, modificando assim a própria pessoa que o executa, uma vez que os padrões cerebrais também mudam.

Com isso, potência, força, estabilidade, deixam de ser diferentes “tipos” de exercícios para se tornarem verdadeiras cápsulas de saúde para os clientes. Thiago é o exemplo de que “nutrir” o corpo da variedade adequada de movimento traz, além de conquistas atléticas, anos de vida produtiva pela frente.

Hoje ele mora e desenvolve seu trabalho fora do país, deixando meu treino com o mestre Marcelo, um dos seus professores, que se encarrega de me deixar “desafiado” três vezes na semana. Contudo, ainda praticamos, com razoável frequência, outro tipo de exercício fundamental: nós conversamos.
Fazemos ligações de vídeo sempre que podemos. Conversamos sobre aspectos dos nossos trabalhos, trocamos experiências, mas, para além disso, formamos um núcleo de amizade. Mesmo cada um vivendo em uma “ponta” das américas, existe um vínculo energético, um sistema que se alimenta de uma convivência para além da física: a presença de cada um na vida do outro.

Tenho certeza de que vocês entendem o que é isso, basta se atentar às próprias percepções: sabe quando têm-se uma pequena vitória no dia a dia? Não precisa ser nada digno de “sair em jornais”, tão somente algo importante para si mesmo? Então, a pessoa que você pensa em contar o fato, primeiro de todas, faz parte deste sistema energético.

Lembro da primeira vez que levantei do chão, uma carga um pouco mais pesada que eu mesmo. O Marcelo me filmou, deixando o peso no chão, tremendo como um bambu ao vento, quase sem voz de tanto esforço, mas dizendo: “Essa foi para você, Thiago!”

Ele também, logo antes de receber a sua primeira filha, no caminho do hospital, mandou uma mensagem de que ela estava chegando. Isso não produziria nenhum efeito prático para ele, na hora, mas com certeza era importante que eu assim soubesse, para fazer parte de todo o processo.

Os mesmos estudos que garantem a longevidade através do treinamento coordenado das capacidades físicas, apontam com absolutamente essenciais, para a sanidade mental e expressão física, um campo energético saudável e alimentado de pessoas que consideramos fundamentais para o nosso livre fluxo, um tipo diferente de familiar: aquele que desejamos ter por “perto” sempre.

Dr. Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

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