OPINIÃO

Pacto maldito


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“Hitler/Stalin, o pacto maldito” fala do acordo de não agressão assinado pelos ditadores alemão e soviético em agosto de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Escrito pelos jornalistas Joel Silveira e Geneton Moraes Neto, o livro conta em detalhes como foi feito, interroga os porquês e analisa as consequências do tratado que desorientou as esquerdas mundo afora. Inimigos desde sempre, nazistas e comunistas viraram do dia para a noite “melhores amigos para sempre”. E aí, camarada, que história é essa? “Costuma-se dizer” – escreve Silveira – “que a partir daquela espúria aliança a esquerda nunca mais seria a mesma no mundo inteiro”. Como se sabe, o matrimônio durou menos de dois anos e terminou com separação litigiosa, quando, em junho de 1941, Hitler ordenou a invasão da Rússia (na época, União Soviética). O avanço pelo território oriental marcou o início da derrocada do aparentemente invencível poderio militar alemão.

O volume foi dividido em duas partes: a primeira, a cargo de Joel Silveira, analisa a conjuntura mundial imediatamente antes do acordo firmado em 23 de agosto de 1939. Fala dos principais atores do momento, além dos ditadores do título, como o chanceler alemão Joachim von Ribbentrop e seu colega soviético Viacheslav Molotov. Lembra também o chanceler italiano – e genro de Mussolini --  Galeazzo Ciano, cujo diário pessoal virou peça importante para se entender o período. Recorda a atuação dúbia e pouco efetiva da Inglaterra e da França, as maiores potências da época, para conter o expansionismo nazista. A segunda parte do livro, escrita por Geneton Moraes, trata do Brasil. Aparecem depoimentos de gente relevante da vida cultural e política brasileira, como os escritores Jorge Amado, Antônio Callado e Guilherme Figueiredo, os jornalistas Pompeu de Souza e Edmar Morel, os políticos Luiz Carlos Prestes e Abelardo Jurema (ex-deputado e ex-ministro da Justiça), os historiadores Hélio Silva e Nélson Werneck Sodré. O autor pesquisa no Arquivo Nacional o acervo do jornal “Meio-Dia”, de orientação pró-Alemanha e que, após o acordo, contou com a colaboração de figurinhas carimbadas da esquerda, como Jorge Amado e Oswald de Andrade. Revela a história do jornalista condenado pela Justiça brasileira e que cumpriu pena por espionagem. Fala ainda da TransOcean, agência alemã de notícias, instalada no Rio de Janeiro e que, além do noticiário, distribuía grana para veículos de imprensa pelo Brasil afora. O “Meio-Dia” foi seu maior cliente e beneficiário.

Joel Silveira (1918/2007) foi um dos grandes nomes do nosso jornalismo. Nascido em Lagarto, interior de Sergipe, mudou-se para o Rio de Janeiro e construiu carreira sólida. Repórter talentoso, foi correspondente de guerra, cobrindo a campanha da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, na Itália, na Segunda Grande Guerra. Geneton Moraes Neto (1956/2016), nascido em Recife, Pernambuco, foi repórter e editor de jornais impressos e de televisão. Produziu o documentário, disponível na internet, “Garrafas ao mar, a víbora manda lembranças”, a respeito do colega e amigo Joel Silveira.

Fernando Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)

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