Há algum tempo se discute que a educação não se reduz à sala de aula. A pandemia ampliou esse debate, ao exigir novas formas de convivência escolar, obrigando as instituições a reverem seus projetos pedagógicos. Cunhou-se até a expressão “escola sem sala de aula”, que já era conhecida desde os anos de 1990 na Europa, principalmente ligada à arquitetura, onde a ideia do espaço como componente do processo de aprendizagem se difundiu.
Essa nova concepção exigiu mudanças no papel de todas as equipes escolares. Projetos estruturados de forma diferente, novos usos para tecnologias e formação permanente de professores. Ficou evidente que não basta criar novos espaços sem o planejamento do seu uso.
Nesse contexto, a biblioteca escolar, como espaço privilegiado, permaneceu muitas vezes à margem dessas transformações e ocupou um espaço menor que todo o seu potencial possibilitava.
As bibliotecas nem sempre acompanharam a nova concepção de escola que se desenhava. Na maioria das vezes, atuou de forma isolada, sem desenvolver um trabalho integrado com a equipe pedagógica.
Ampliar acervo, modernizar os equipamentos, ou implementar ações pontuais, embora importantes, não são suficientes. É necessário garantir sua visibilidade transformá-la em centro de conhecimento e informação, com programas integrados que respondam às reais demandas da equipe escolar
Em geral, a biblioteca ainda é pouco utilizada em todo seu potencial, porque nem sempre apresenta atividades atraentes aos alunos, com poucos programas ajustados ao currículo. Superar essa limitação exige que ela se adapte ao projeto pedagógico da escola. É necessário ensinar as crianças a usarem-na como ferramenta ao longo da vida, estimular a produção de trabalhos, desenvolver a criatividade, promover o acesso à cultura e à informação. Programas que incentivem as atividades criativas onde a imaginação possa se desenvolver livremente, ensinar os jovens a olhar criticamente para notícias e usar adequadamente as redes sociais, divulgar as atividades culturais e sociais que acontecem na escola ou na cidade, enfim fazer com que a comunidade escolar se aproprie do espaço, tornando-o essencial para as demandas da escola.
Deixo de citar, por ser óbvio, um dos seus principais papeis que é o de fomentar a leitura, formando usuários críticos da informação.
Há que se buscar projetos que potencializem o uso da biblioteca da escola, com abordagens inovadoras, trabalhando junto com a equipe pedagógica e alinhada ao projeto pedagógico. Se isso acontecer, ela pode se transformar em um espaço vivo e valorizado, capaz de contribuir para a melhoria da aprendizagem.
Francisco Carbonari é ex-secretário de educação de Jundiaí (fjcarbonari@gmail.com)