OPINIÃO

Tarcísio e sua indústria da multa


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De uma coisa a gente já sabia: cedo ou tarde a população pagaria a conta da privatização desenfreada do patrimônio público promovida pelo governador Tarcísio de Freitas. A surpresa foi a fatura bater tão rápido no bolso das pessoas. É o que estamos vendo agora com a privatização de rodovias e a implantação até 2030 de 58 novos pedágios, todos no modelo free flow. 

A insatisfação com o plano mirabolante do governador é geral e justificada. Com o crescimento das cidades, muitas rodovias são usadas como avenidas. Há situações em que o uso se faz obrigatório para acessar determinados bairros. Cobrar pedágio dos moradores para que eles possam ir e vir dentro de seus próprios municípios é, no mínimo, cruel. 

Como se isso não bastasse, o sistema free flow joga uma pá de cal no modelo de pedágio que conhecemos hoje. Esqueça as praças e cabines com cancelas. No free flow a cobrança é automática, feita por grandes estruturas metálicas conhecidas como pórticos, e o valor é proporcional ao trecho que você percorreu. 

Pode ser bonito no papel, mas olha a dor de cabeça quando o governo pensa apenas na arrecadação e se esquece da necessidade de uma campanha educativa para explicar as novas regras.

O motorista que não tiver uma tag dessas que faz a cobrança automática no modelo tradicional de pedágios, vai precisar baixar o aplicativo da concessionária que administra a rodovia e informar sua placa para ser notificado e poder fazer o pagamento dentro do prazo determinado.

Não é simples. Prova disso é que um desses pedágios free flow instalado na rodovia Rio-Santos aplicou um milhão de multas entre setembro de 2023 e dezembro de 2024, que custaram mais de R$ 200 milhões, além de 5 pontos na carteira de habilitação por evasão de pedágio.

Isso acontece porque as pessoas não sabem o que é aquela estrutura metálica no meio da rodovia. Mas quando licenciam o carro, descobrem que estão devendo uma fortuna em multas.  Essa é a indústria da multa que o governador Tarcísio de Freitas está criando em São Paulo. 

A população já percebeu que essa privatização das rodovias vai doer no bolso e mandou seu recado com todas as letras para o governador, que está vendo sua popularidade cair. Até mesmo os deputados que formam a base de apoio ao governo na Assembleia Legislativa estão pulando para fora do barco e se posicionando contrários à nova cobrança. 

O governador sentiu a pressão e nas últimas semanas anunciou recuos na implantação de novos pedágios em algumas rodovias, como a chamada Rota Sorocabana e a rodovia Luiz de Queiroz, a SP-304, na região de Piracicaba. 

É preciso que mais vozes se unam contra a criação de novos pedágios no Estado de São Paulo para que conquistas como essas se multipliquem e os novos pedágios não saiam do papel. Tarcísio, São Paulo não precisa da sua indústria da multa. E 58 pedágios é muita coisa, até para um Estado do tamanho do nosso. 

Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual e primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.

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